terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Achei! Fabrício Carvalho leva
coração sonhador à Ferroviária

Aos 33 anos, jogador corre contra o tempo perdido por afastamento dos campos. Ele ainda sonha defender um clube grande

Por Alexandre Alliatti Rio de Janeiro
fabricio carvalho Ferroviária (Foto: Alessandro Bocchi/Ferroviária)Fabrício Carvalho na Ferroviária: em busca do
tempo perdido (Foto: Alessandro Bocchi/Ferroviária)
Fabrício Carvalho corre contra o relógio para recuperar tudo aquilo que o tempo lhe tomou. Aos 33 anos, é daqueles que lutam para tirar o “ex” do lado do nome de sua profissão: jogador de futebol. O drama seguido da volta por cima é  resumido numa frase que mistura desabafo com fé.

- Teve muito choro, muito pranto, muito lamento. Mas hoje troquei tudo pela alegria.
Afastado dos gramados por dois anos, quando vivia seu auge, por culpa de uma arritmia cardíaca, o atacante nadou contra  maré de temores para poder pisar novamente num campo. E conseguiu. Em 2012, é um coração sonhador a serviço da Ferroviária, que disputa a Série A2 do Campeonato Paulista. Diariamente, lida com a esperança de defender um clube grande – o sonho perdido em 2005.
No início daquele ano, os exames de abertura de temporada no São Caetano indicaram arritmia cardíaca em Fabrício Carvalho (relembre no vídeo ao lado). Era o clube errado na hora errada para um diagnóstico assim. Serginho, zagueiro do Azulão, morrera em campo, também por problema no coração, três meses antes. O afastamento temporário, por um trimestre, recebeu acréscimos gradativos. E o jogador ficou dois anos sem atuar.
O atacante só retomou a carreira em 2007, pelo Goiás. Mas havia perdido o ritmo adquirido especialmente nos tempos de Ponte Preta - antes de migrar para o São Caetano. A carreira dele nunca mais foi a mesma. Agora, tenta recuperar o tempo perdido e vê a Ferroviária como caminho para isso.
- Fiquei abalado com aquilo. Eu tinha um nome. Tinha interesse de clubes grandes. E teve essa parada. Não foi fácil. Fiquei sem o ambiente de treinamentos. Fiquei com saudade da concentração. Imagina... Foram dois anos. Não foram nem dois meses, nem dois dias: foram dois anos. Mas foi um grande aprendizado. Saí fortalecido. Deus me deu nova oportunidade. Foi uma nova chance. Hoje, estou muito feliz, em um clube com grande estrutura. Já passou aquela tempestade. Agora, é o momento da bonança.
fabricio carvalho Ferroviária (Foto: Alessandro Bocchi/Ferroviária)Coração vai bem, mas sempre causa preocupação no atleta (Foto: Alessandro Bocchi/Ferroviária)
Fabrício Carvalho percebe uma lição de vida em sua história. Ele mescla os treinamentos com palestras. Para jovens, fala sobre perseverança.
- Eu lutei contra um diagnóstico. Não me acomodei com ele. Fui atrás de outros especialistas. Graças a Deus, retornei. E posso dizer que tenho uma história de sucesso. O que digo aos jovens é que não desistam dos seus sonhos.

"Precisava de uma pessoa que me tratasse como ser humano"
Repetidos profissionais da área cardíaca desaconselharam Fabrício Carvalho a jogar futebol profissionalmente. Mas ele resolveu dar murros em pontas de facas. Deu certo. Em Goiânia, o atacante conheceu uma pessoa que mudaria mais uma vez sua história. O médico Sérgio Rassi deu o aval para o retorno do jogador. Renasceu ali a carreira do atleta (relembre no vídeo ao lado).
- Nenhum médico queria assumir. Nenhum médico queria assinar. O medo era grande. O receio era grande. Eu precisava de uma pessoa com coragem, que me tratasse como ser humano. Ele me tratou como homem. E aí pude voltar – recordou o atacante.
fabricio carvalho Ferroviária (Foto: Alessandro Bocchi/Ferroviária)Atacante sonha com a retomada do ritmo que tinha
antes de parar (Foto: Alessandro Bocchi/Ferroviária)
Passados cinco anos do retorno aos campos, Fabrício Carvalho leva uma vida normal. Mas admite que o temor não foi afastado – em grande parte, por ter presenciado a morte de Serginho.
- Receio a gente tem. Não posso dizer que não. Vivenciei uma cena trágica. A gente fica temeroso, porque são muitos médicos falando. Mas fui monitorado nos treinamentos com aparelhos. Ouvi de um especialista que poderia ir. Ele (Sérgio Rassi) é especialista em arritmia.
O problema é que dois anos sem jogar futebol trazem consequências. Fabrício Carvalho admite que não conseguiu reencontrar o rendimento dos tempos de Ponte Preta. Depois do afastamento, ele defendeu Portuguesa, Remo, Bragantino e Oeste. Conviveu com lesões, e a sequência almejada por ele não foi alcançada.
- Teve uma diferença grotesca entre antes e depois daquilo tudo. Foram dois anos inativo. Em qualquer ramo, se você ficar inativo por dois anos, perde agilidade, mobilidade. No futebol, se usa muito a questão da coordenação. A parte física é preponderante. Não voltei o mesmo, mas espero chegar ao nível de antes. Tem que pensar positivo que vai conseguir. Não tem nunca, não tem talvez. Meu vocabulário é perseverança, é vontade, é dedicação.
Confiança na Ferroviária e sonho com clube de massa
Embora não tenha conseguido recuperar o rendimento dos tempos de Ponte Preta (reveja gols dele pelo clube de Campinas no vídeo ao lado), o desempenho de Fabrício no Oeste foi melhor do que no Bragantino - seus dois clubes mais recentes. É motivo de ânimo para o jogador. Ele espera crescer mais na Ferroviária. E se mostra animado em seus primeiros dias no clube de Araraquara.
- A expectativa é a melhor possível. É um projeto audacioso, com ótima estrutura. É uma cidade muito boa também. Venho para contribuir, para que o clube possa voltar a suas origens. A Ferroviária jogou vários anos na Primeira Divisão, tem boa estrutura. Abracei a causa. Abracei o projeto.
fabricio carvalho Ferroviária (Foto: Alessandro Bocchi/Ferroviária)Fabrício treina forte na Ferroviária para a Série A2 do Paulista (Foto: Alessandro Bocchi/Ferroviária)
Mas a grande meta do atacante é voltar ao passado e finalmente defender um clube de massa. Antes da parada, em 2005, ele foi procurado por São Paulo, Palmeiras e Inter. Sete anos depois, Fabrício Carvalho é um sujeito confiante.
- Sou um sonhador. Não vou desistir nunca disso. O Fernando Carvalho (ex-presidente do Inter) tinha muito interesse em me contratar. Infelizmente, não se concretizou. Teve o São Paulo também, e o Palmeiras, na época do Leão. Ele está no São Paulo agora. Quem sabe... Vou fazer minha parte dentro de campo. Estou com saúde, com força, com vigor. Essa é minha esperança, esse é meu desejo. Vou em busca disso.
 

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