Pilotos da Stock duvidam que novo autódromo será construído no Rio
Competidores com histórico positivo em Jacarepaguá criticam duramente o processo de transição para o terreno de Deodoro, considerado 'campo minado'
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Área militar no bairro de Deodoro, destinada à
construção do novo autódromo (Foto: Google Maps)
O circuito de Jacarepaguá, na zona oeste do Rio de Janeiro, já é
passado para a Stock Car. Em meados de julho, a categoria realizou sua
última corrida no Autódromo Nelson Piquet, pista que em quatro décadas
de história recebeu eventos de grande importância, como dez GPs de
Fórmula 1, além de provas do Mundial de Motovelocidade e da Fórmula
Indy. Mas, em vez de fazer planos para o prometido circuito de Deodoro,
no subúrbio do Rio, os pilotos se mantêm céticos. Poucos acreditam que o
novo projeto vá, de fato, se concretizar. Ainda mais após a denúncia do
jornal "O Globo" de que o terreno destinado à construção de um novo autódromo na cidade terá que ser "descontaminado", devido à existência de explosivos não detonados no solo. A área serviu durante mais de sessenta anos a treinamentos militares.construção do novo autódromo (Foto: Google Maps)
- Quando a gente pensa que já viu de tudo, aparece esta notícia de que a área onde teoricamente será construído o autódromo de Deodoro era de treinamento de soldados para desativar minas, e inclusive algum tempo atrás morreu um soldado com explosão de uma. A situação do automobilismo carioca é tão crítica que prefiro aceitar o risco de passar com o Stock em cima de uma bomba a não ter autódromo. Fico triste em pensar que já tem um lá, pronto, e estamos passando por isso. Adoro esportes e fiquei "amarradão" com as Olimpíadas no Rio, mas não precisava de tudo isso – desabafa o carioca Duda Pamplona, piloto e dono de equipe na Stock Car.
Autódromo de Jacarepaguá durante a última visita da Stock ao circuito (Foto: Miguel Costa Jr. / Divulgação)
Formado na pista de Jacarepaguá, onde acelerou um carro de corrida pela
primeira vez, Duda competiu no circuito em diversas categorias, e viveu
a emoção de vencer diante de sua torcida na etapa de 2007 da Stock Car.
Pole position por duas vezes e último vencedor da categoria em solo
carioca, Allam Khodair também não poupa críticas à condução do processo
de transição entre os dois circuitos.- Diante deste problema, a CBA deveria se certificar do prazo deste minucioso processo de descontaminação. E se, por conta disso, o início da construção do novo autódromo for atrasar, a entidade deveria adiar também o início da destruição do que restou do autódromo de Jacarepaguá por conta desta mudança no prazo do projeto. Espero que, no mínimo, existam concessões. O automobilismo não pode ser visto como uma segunda, ou terceira prioridade – pondera Allam, que guia pela Vogel, equipe que tem sede na região serrana do Rio de Janeiro.
Nos
últimos seis anos, etapa carioca da Stock Car utilizou uma pista com
metade da extensão original, devido às arenas contruídas para o Pan 2007
(Foto: Carsten Horst / Divulgação Hyset)
Mesmo sem qualquer movimentação no terreno de Deodoro, a demolição da
antiga pista – cujo terreno pertence ao Município – já está em
andamento. Enquanto aconteciam os treinos para a sexta etapa da
temporada 2012 da Stock Car, operários trabalhavam na remoção de blocos
de concreto das arquibancadas e nas medições da área para a
terraplanagem. O circuito, mutilado em 2006 para a construção de três
arenas esportivas destinadas aos Jogos Pan-Americanos do ano seguinte,
receberá novas instalações para as Olimpíadas de 2016. Depois disso,
parte da estrutura dará lugar a condomínios particulares.Ver para crer
Campeão da categoria em 2008 e autor da pole position na primeira ocasião em que a Stock correu no traçado adulterado pelas obras, em 2006, Ricardo Maurício mostra sua descrença em relação à construção de uma nova pista no Rio de Janeiro. Numa comparação com a situação positiva vivida pelo automobilismo em outras cidades (como Cascavel, no Paraná, que teve a pista reformada pela Prefeitura e retornará ao calendário da Stock), o piloto da RC Competições lamenta o fim do tradicional autódromo e faz duras críticas ao poder público.
Remoção das arquibancadas de Jacarepaguá já
começou (Foto: Miguel Costa Jr. / Divulgação)
- É triste. Estamos ganhando vários autódromos no país, mas estamos
perdendo uma das pistas que mais tem história no automobilismo
brasileiro por decisões de políticos. A gente só vai acreditar que vai
ter outro autódromo no Rio de Janeiro vendo, estando lá, quando tiver a
inauguração. Enquanto isso, promessa no automobilismo brasileiro é o que
mais tem. Sabemos que em agosto vão começar a destruir a pista e fazer o
complexo olímpico, para depois construir apartamentos. É uma vergonha,
uma bandidagem – ressalta o piloto.começou (Foto: Miguel Costa Jr. / Divulgação)
Após dizer que se sente “despejado da própria casa”, o carioca Cacá Bueno é outro que demonstra não acreditar que a pista de Deodoro vá sair do papel. E usa da ironia para renovar suas esperanças de ver o Rio de Janeiro novamente com um autódromo em funcionamento.
- Não acredito. Em loucura e promessa de político, não consigo acreditar. As promessas não só no esporte, como em saúde e educação, não são cumpridas. E agora será cumprido? Para acreditar, nem mesmo se inaugurarem, tem de ter uma corrida. É preciso esperar a verba, que comecem a obra... Aliás, torço para que a obra fique bem cara, porque assim terão muito o que desviar, mas pelo menos ela vai acontecer – provoca o tetracampeão da categoria.
Cacá Bueno treina enquanto operário trabalha no novo complexo olímpico (Foto: Luca Bassani / Stock Car)
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