quarta-feira, 25 de julho de 2012

Pilotos da Stock duvidam que novo autódromo será construído no Rio

Competidores com histórico positivo em Jacarepaguá criticam duramente o processo de transição para o terreno de Deodoro, considerado 'campo minado'

Por Alexander Grünwald e Felipe Siqueira Rio de Janeiro
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Reprodução google autódromo deodoro rio de janeiro (Foto: Google Maps)Área militar no bairro de Deodoro, destinada à
construção do novo autódromo (Foto: Google Maps)
O circuito de Jacarepaguá, na zona oeste do Rio de Janeiro, já é passado para a Stock Car. Em meados de julho, a categoria realizou sua última corrida no Autódromo Nelson Piquet, pista que em quatro décadas de história recebeu eventos de grande importância, como dez GPs de Fórmula 1, além de provas do Mundial de Motovelocidade e da Fórmula Indy. Mas, em vez de fazer planos para o prometido circuito de Deodoro, no subúrbio do Rio, os pilotos se mantêm céticos. Poucos acreditam que o novo projeto vá, de fato, se concretizar. Ainda mais após a denúncia do jornal "O Globo" de que o terreno destinado à construção de um novo autódromo na cidade terá que ser "descontaminado", devido à existência de explosivos não detonados no solo. A área serviu durante mais de sessenta anos a treinamentos militares.
- Quando a gente pensa que já viu de tudo, aparece esta notícia de que a área onde teoricamente será construído o autódromo de Deodoro era de treinamento de soldados para desativar minas, e inclusive algum tempo atrás morreu um soldado com explosão de uma. A situação do automobilismo carioca é tão crítica que prefiro aceitar o risco de passar com o Stock em cima de uma bomba a não ter autódromo. Fico triste em pensar que já tem um lá, pronto, e estamos passando por isso. Adoro esportes e fiquei "amarradão" com as Olimpíadas no Rio, mas não precisava de tudo isso – desabafa o carioca Duda Pamplona, piloto e dono de equipe na Stock Car.
Autódromo de Jacarepaguá durante a última visita da Stock Car ao circuito, em julho de 2012 (Foto: Miguel Costa Jr. / Divulgação)Autódromo de Jacarepaguá durante a última visita da Stock ao circuito (Foto: Miguel Costa Jr. / Divulgação)
Formado na pista de Jacarepaguá, onde acelerou um carro de corrida pela primeira vez, Duda competiu no circuito em diversas categorias, e viveu a emoção de vencer diante de sua torcida na etapa de 2007 da Stock Car. Pole position por duas vezes e último vencedor da categoria em solo carioca, Allam Khodair também não poupa críticas à condução do processo de transição entre os dois circuitos.
- Diante deste problema, a CBA deveria se certificar do prazo deste minucioso processo de descontaminação. E se, por conta disso, o início da construção do novo autódromo for atrasar, a entidade deveria adiar também o início da destruição do que restou do autódromo de Jacarepaguá por conta desta mudança no prazo do projeto. Espero que, no mínimo, existam concessões. O automobilismo não pode ser visto como uma segunda, ou terceira prioridade – pondera Allam, que guia pela Vogel, equipe que tem sede na região serrana do Rio de Janeiro.
Stock Car - Largada da etapa do Rio de Janeiro, a sexta da temporada 2012 (Foto: Carsten Horst / Divulgação Hyset)Nos últimos seis anos, etapa carioca da Stock Car utilizou uma pista com metade da extensão original, devido às arenas contruídas para o Pan 2007 (Foto: Carsten Horst / Divulgação Hyset)
Mesmo sem qualquer movimentação no terreno de Deodoro, a demolição da antiga pista – cujo terreno pertence ao Município – já está em andamento. Enquanto aconteciam os treinos para a sexta etapa da temporada 2012 da Stock Car, operários trabalhavam na remoção de blocos de concreto das arquibancadas e nas medições da área para a terraplanagem. O circuito, mutilado em 2006 para a construção de três arenas esportivas destinadas aos Jogos Pan-Americanos do ano seguinte, receberá novas instalações para as Olimpíadas de 2016. Depois disso, parte da estrutura dará lugar a condomínios particulares.
Ver para crer
Campeão da categoria em 2008 e autor da pole position na primeira ocasião em que a Stock correu no traçado adulterado pelas obras, em 2006, Ricardo Maurício mostra sua descrença em relação à construção de uma nova pista no Rio de Janeiro. Numa comparação com a situação positiva vivida pelo automobilismo em outras cidades (como Cascavel, no Paraná, que teve a pista reformada pela Prefeitura e retornará ao calendário da Stock), o piloto da RC Competições lamenta o fim do tradicional autódromo e faz duras críticas ao poder público.
Autódromo de Jacarepaguá durante a última visita da Stock Car ao circuito, em julho de 2012 (Foto: Miguel Costa Jr. / Divulgação)Remoção das arquibancadas de Jacarepaguá já
começou (Foto: Miguel Costa Jr. / Divulgação)
- É triste. Estamos ganhando vários autódromos no país, mas estamos perdendo uma das pistas que mais tem história no automobilismo brasileiro por decisões de políticos. A gente só vai acreditar que vai ter outro autódromo no Rio de Janeiro vendo, estando lá, quando tiver a inauguração. Enquanto isso, promessa no automobilismo brasileiro é o que mais tem. Sabemos que em agosto vão começar a destruir a pista e fazer o complexo olímpico, para depois construir apartamentos. É uma vergonha, uma bandidagem – ressalta o piloto.
Após dizer que se sente “despejado da própria casa”, o carioca Cacá Bueno é outro que demonstra não acreditar que a pista de Deodoro vá sair do papel. E usa da ironia para renovar suas esperanças de ver o Rio de Janeiro novamente com um autódromo em funcionamento.
- Não acredito. Em loucura e promessa de político, não consigo acreditar. As promessas não só no esporte, como em saúde e educação, não são cumpridas. E agora será cumprido? Para acreditar, nem mesmo se inaugurarem, tem de ter uma corrida. É preciso esperar a verba, que comecem a obra... Aliás, torço para que a obra fique bem cara, porque assim terão muito o que desviar, mas pelo menos ela vai acontecer – provoca o tetracampeão da categoria.
Stock Car - Cacá Bueno treina no Rio de Janeiro enquanto operário trabalha no novo complexo olímpico (Foto: Luca Bassani / Stock Car)Cacá Bueno treina enquanto operário trabalha no novo complexo olímpico (Foto: Luca Bassani / Stock Car)

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