segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Mascote da Copa 2014, Tatu-Bola busca resistência da espécie

GLOBOESPORTE.COM/CE visitou reserva, no interior do Ceará, que tenta preservar a espécie, ameaçada de extinção em todo o Brasil

Por Diego Morais Direto de Crateús, CE
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Serra das Almas, na divisa entre Ceará e Piauí (Foto: Diego Morais / Globoesporte.com)Serra das Almas, na divisa entre Ceará e Piauí
(Foto: Diego Morais / Globoesporte.com)
A quase 400 quilômetros de distância de Fortaleza está localizada a Serra das Almas. Na microrregião conhecida como Sertão de Crateús, ela marca a divisão territorial entre os estados do Ceará e do Piauí. De um lado fica o município cearense de Crateús; do outro, o piauiense Buriti dos Montes. Dotada de um bioma formado pela vegetação da caatinga, é nesse território que encontramos algumas das últimas espécies do animalzinho que, a partir de agora, tem tudo a ver com futebol: o tatu-bola.
O Tolypeutes tricinctos é o nome científico do tatu-bola. Essa espécie é exclusiva da fauna brasileira e existe em dois tipos de bioma: o cerrado e a caatinga. Na Reserva Natural da Serra das Almas, biólogos e cientistas da ONG Associação Caatinga lutam pela preservação de um dos poucos locais onde ainda se pode observar a existência do tatu-bola.
Não à toa, a ONG do Ceará foi a responsável pela sugestão do nome e por encabeçar a campanha pela escolha do tatu-bola como o mascote.
- Nossa ideia inicial era colocar a caatinga no contexto da Copa. Quando surgiu a possibilidade de sugerirmos um mascote, logo veio o tatu-bola, pelo formato do bichinho ter tudo a ver com futebol. A gente não imaginava que fosse tão longe, mas a campanha ganhou corpo nas redes sociais e acabou agregando ao conceito de uma Copa ecologicamente correta - disse o biólogo e secretário-executivo da ONG Associação Caatinga, Rodrigo Castro, um dos líderes da campanha pelo tatu-bola.
Tatu-bola, mascote da Copa do Mundo de 2014 (Foto: Divulgação/Associação Caatinga)Tatu-bola: espécie está ameaçada de extinção (Foto: Divulgação/Associação Caatinga)
A ONG trouxe à tona a discussão ambiental pela preservação do tatu-bola e de seus ambientes naturais de vida: a caatinga e o cerrado. Hoje, poucos são os bichinhos sobreviventes nestes dois biomas. Como não há um mapeamento específico da espécie, eles não conseguem precisar o número exato de tatus-bolas ainda existentes. Mas o biólogo lança o alerta.
- A espécie vive uma situação crítica. É um animal que está ameaçado de extinção. Ele pode desaparecer nos próximos 10 anos devido às ameaças. A caatinga está sendo ameaçada e, sem casa, o animal não vive. O mesmo está ocorrendo com o cerrado - avisou Rodrigo Castro.
Em busca de sobrevivência
Os poucos tatus-bolas que restam lutam pela sobrevivência de suas casas e espécies. O animal é bastante dócil e tem como principal defesa se enrolar por inteiro ao sentir qualquer tipo de ameaça. O maior predador é o homem, que caça o bichinho para comer.
- Muitos moradores das zonas rurais ainda buscam se alimentar do tatu-bola. Apesar de hoje já ser mais difícil encontrá-lo e existirem opções mais adequadas de alimentação. Mas essa prática ainda é muito natural no interior. Tem ainda a caça como prática recreativa, de sair à noite e caçar o bicho, o que aumenta o seu potencial de extinção - declarou o gerente da reserva natural, Ewerton Torres.
Tatu-bola em seu habitat natural (Foto: Diego Morais / Globoesporte.com)Tatu-bola saindo à noite na Serra das Almas (Foto:
Diego Morais / Globoesporte.com)
O tatu-bola se alimenta principalmente de folhas, frutos e pequenos insetos, como formigas e cupins. Preferem matas mais abertas e saem para se alimentar no período da noite. De dia, procuram se esconder dos predadores, mas não cavam buracos. Ao contrário, utilizam-se, geralmente, de buracos feitos por outros animais.
Outro mito que os pesquisadores logo fazem questão de desfazer é o de que o tatu-bola não sai rolando como uma bola.
- Ele só vira bola como mecanismo de defesa, mas não tem como sair rolando. Pelo contrário, ele fica enrolado e completamente imóvel - acrescentou Ewerton Torres.
Amigos do tatu-bola
A Associação Caatinga espera agora que a grande exposição do tatu-bola nas mídias ajude o animal a se manter vivo, além, claro, de continuar a luta pela preservação dos ambientes onde vive.
Na Serra da Almas, por exemplo, os guardas da reserva viram poucos tatus-bolas na região. Por isso mesmo, defendem o animal e se admiram a cada vez que têm a oportunidade de encontrar o bichinho.
Guardas da reserva encontram um tatu-bola durante a madrugada (Foto: Diego Morais / Globoesporte.com)Guardas da reserva encontram tatu-bola durante a
madrugada (Foto: Diego Morais/Globoesporte.com)
- É muito curiosa a forma como o rabo se encaixa com a cabeça e o restante do corpo até ele se fechar todinho. Já encontrei um deles dormindo. Achei até que estivesse morto, mas não. A gente tem que tratar dele com muito carinho - contou o guarda-parque Marcos Rodrigues.
As curiosidades que o animal traz também são compartilhadas com outro funcionário da reserva.
- Nunca tinha visto um de perto e achei incrível porque ele é muito peculiar - acrescentou o estagiário de conservação Marcelo Silva.
Os poucos que ainda resistem serão milhões até a Copa do Mundo, já que a imagem do tatu-bola começa a se espalhar pelo Brasil. Os biólogos esperam que o retorno seja uma maior conscientização e preservação da espécie.
- Já que estamos vivendo a expectativa de uma Copa ecologicamente correta, o tatu-bola vai levar a bandeira da biodiversidade e dos animais em extinção no Brasil para todo o Mundo - disse Rodrigo Castro.

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