quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Presidente da Confederação de Gelo acusa COB por suposta invasão

Eric Maleson afirma que sede da CBDG, no Rio de Janeiro, foi invadida ilegalmente. COB diz que entidade estava sob intervenção judicial

Por Vicente Seda Rio de Janeiro
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Uma disputa na Confederação Brasileira de Desportos no Gelo pode atingir o Comitê Olímpico Brasileiro. O presidente da CBDG, Eric Maleson fez uma série de acusações ao COB em meio a uma ação judicial protocolada na trigésima-sétima vara cível do Rio de Janeiro. Maleson acusou o COB de estar por trás de uma invasão ilegal da sede da CBDG e do roubo de documentos da entidade. A ação inicialmente foi impetrada pelo atleta Édson Bindilatti para tirar Maleson da presidência da CBDG.
Em outubro de 2011, Bindilatti listou uma série de acusações contra Maleson como falta de prestação de contas e indícios de gestão temerária. Segundo o atleta, Maleson estaria colocando em risco a "própria sobrevivência da entidade". Em 27 de outubro, a juíza Adriana Santos acolheu os argumentos de Bindilatti e nomeou outro atleta - Emilio Strapasson (que pratica skeleton) - como interventor na CBDG. E aí começou a confusão.
Eric Maleson, presidente da CBDG (Foto: Vicente Seda / Globoesporte.com)Eric Maleson é o presidente da CBDG, que sofreu intervenção (Foto: Vicente Seda / Globoesporte.com)
Strapasson foi nomeado e Maleson foi afastado preventivamente. Mas esse afastamento não foi total - em esclarecimento posterior a juíza informou que a figura do interventor e do presidente deveriam coexistir. E o objetivo da intervenção seria apenas realizar uma auditoria preliminar e verificar as acusações de Bindilatti.
Essa composição não funcionou. Mais de um mês depois, em 11 de dezembro, o interventor decidiu ir até a sede da CBDG, que fica numa galeria em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro. Acompanhado pelo gerente de materiais e tecnologia do Comitê Olímpico Brasileiro, Bernardo Chamis, Strapasson encontrou as portas fechadas. Chamou um chaveiro, trocou as fechaduras, entrou na sede e levou os documentos que encontrou. As imagens de Strapasson e Chamis entrando na CBDG foram registradas pelas câmeras de segurança da galeria.
Em 29 de dezembro, Maleson - que passa boa parte do tempo em Boston, nos Estados Unidos - foi informado por seu coordenador técnico, Miguel Perez, de que as fechaduras tinham sido trocadas. A CBDG registrou um boletim de ocorrência na décima-quarta delegacia policial alegando invasão ilegal e roubo de documentos. Em março de 2012, a juíza reforçou em despacho que Maleson continuava à frente da entidade:
"Se pretendia o autor o afastamento do presidente para todas as atividades afetas à Confederação Brasileira de Desportos no Gelo, deveria ter instado o Juízo a assim decidir, o que não foi feito oportunamente, por meio do recurso próprio, sendo certo que as figuras do presidente e interventor podem coexistir"
Na visão de Maleson, registrada na ação judicial em nome da CBDG, Strapasom e Chamis invadiram ilegalmente a sede da entidade. Num agravo de instrumento, a CBDG usa a presença de Chamis para dizer taxativamente que o COB está por trás da ação judicial contra Maleson. Segundo a tese da CBDG, Bindilatti seria um "laranja":
"O agravante possui imagens de câmeras de segurança e a mesma (sic) flagra o referido integrante do COB praticando o referido ato ilegal, restando evidente toda manobra política encoberta pelo agravado, na verdade o chamado "laranja(...)"
O GLOBOESPORTE.COM entrou em contato com o COB - que respondeu por e-mail através de sua assessoria de imprensa. Segundo a entidade, o interventor e o gerente de tecnologia do Comitê só foram até lá para buscar documentos. E a sala está em nome do COB. Segue a íntegra do e-mail:
"O contrato de aluguel da sala em questão está em nome do COB, e o aluguel da sala também é pago pelo COB. O acesso à sala, que estava sem uso pela CBDG, se deu exclusivamente pela necessidade de realizar a verificação de documentos para o processo de auditoria na entidade, auditoria esta determinada pela Justiça e com prazos a serem cumpridos".
Ainda segundo a ação da CBDG, Strapassom teria tomado outras medidas que o mandato de interventor não permitia: teria tentado acessar os e-mails de todos os funcionários da CBDG através do servidor contratado (sem sucesso); teria requerido o afastamento de Maleson do cargo de vice-presidente da Federação Internacional de Bobsleigh; teria rescindido o contrato com uma empresa de contabilidade e contratado outra; e, por fim, teria tentado transferir a sede da entidade para Pelotas, no Rio Grande do Sul - onde reside.
Strapassom deu sua versão para os fatos - e disse que não havia documentos na sede:
- A sede da CBDG não estava aberta, não havia sido inaugurada. O COB, locou, comprou móveis, reformou e pintou a sede que deveria ser inaugurada. O COB estava realizando obras para a CBDG através de seu funcionário, Bernardo Chamis, que me acompanhou até lá para abrir a sala e permitir que eu deixasse afixado pela parte interna a decisão judicial da intervenção. Não havia documentos, nem mesmo um telefone no local, apenas os móveis recém-chegados. Estavamos em horário comercial e se estivesse em funcionamento... a sede estaria aberta. O mesmo vídeo de segurança mostra que não permanecemos no local e não levamos nada da sala.
O interventor negou ter tentado acessar e-mails dos funcionários sem autorização e disse que se decepcionou com Maleson:
- Sempre admirei o Eric Maleson pela sua iniciativa. Foi ele que me proporcionou a entrada no esporte. Quando fui nomeado interventor, procurei ser imparcial, mas minha conclusão agora é de que as acusações eram verdadeiras. Fiquei muito triste e decepcionado em perceber o quanto o nosso esporte estava sendo prejudicado em prol de benefícios pessoais.
Autor do processo contra a CBDG, Édson Bindilatti negou ser "laranja" e adotou discurso semelhante ao do interventor dizendo que o presidente da confederação não podia exercer o cargo por morar fora do Brasil.
- A CBDG já estava interditada pela juíza. Por isso o COB autorizou a invasão da sede. Tentavam achar o presidente, ninguém achava. O interventor precisava dos documentos para fazer o levantamento e o relatório. O Eric não se encontrava em nenhum lugar. Para ser presidente de confederação, tem de residir no país, ele não reside. Eu entrei com o processo contra ele, eu que fui atrás das coisas, dos documentos. O COB nunca me ajudou.
Eric Maleson contesta as declarações de Strapassom e Bindilatti. O presidente da CBDG diz que a entidade pode fazer o uso que achar necessário da sede em Copacabana e afirma que mora no Rio de Janeiro.
- Arrombaram e invadiram a nossa sede, temos o contrato de sublocação assinado pelo vice-presidente do COB, André Richer, e pelo Bernardo Chamis, gerente de materiais e tecnologia do COB. E isso nos dá autonomia total sobre a sede. O Bindilatti disse que estou sacrificando os atletas. Mas como posso ajudá-los sem dinheiro? O COB trava e dificulta a liberação da verba. Tínhamos R$ 1.240.433,32 em janeiro de 2011. Em janeiro de 2012, tínhamos R$ 1.4 milhão. E eles não liberam essa verba. Pergunto: por que não liberam para os atletas? Só tem telefone e internet aqui porque pago do meu bolso. Resido no Rio de Janeiro, no Andaraí. Viajo bastante e passo muito tempo fora porque não há estrutura para desportos no gelo.
Na sexta-feira, o COB promove uma eleição para o próximo mandato. O atual presidente, Carlos Arthur Nuzman, é candidato único. Maleson tentou apresentar uma candidatura de oposição - mas o COB não aceitou alegando que ele não tinha o apoio de 10 confederações necessário para registrar chapa.
 

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