quarta-feira, 17 de abril de 2013

De Mito a mina de ouro: Dedé deixa o Vasco para aliviar o caos financeiro

Único ídolo desenvolvido pelo clube neste século, zagueiro iniciou trajetória com episódio negativo ao cometer entrada dura em Carlos Alberto no treino

Por Gustavo Rotstein Rio de Janeiro
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Quando Dedé chamou a atenção no Vasco pela primeira vez, não foi como herói, mas como vilão. Uma entrada dura em Carlos Alberto durante o treino quase deixou o então capitão fora de uma decisão de turno do Campeonato Carioca de 2010. O jovem zagueiro contratado do Volta Redonda dez meses antes era, naquele momento, uma aposta de um clube com poucos recursos para buscar jogadores renomados. Passados quase três anos, ele se tornou um dos principais atletas do Brasil, que nesta quarta teve confirmada sua transferência para o Cruzeiro. Aquele zagueiro que inicialmente foi um investimento barato é a esperança de um futuro mais tranquilo para São Januário em termos financeiros.
Dedé comemora, Vasco x Quissamã (Foto: Guilherme Pinto/Agência O Globo)Ídolo, Dedé comemora seu último gol com a camisa do Vasco (Foto: Guilherme Pinto/Agência O Globo)
Ao receber cerca de R$ 14 milhões por 45% dos direitos econômicos de Dedé, o Vasco espera colocar em dia os dois meses de salários atrasados de jogadores e funcionários, além dos direitos de imagem de alguns atletas - que não são pagos há mais de seis meses -, aliviando o conturbado ambiente atual. Os recursos com a venda do zagueiro são o retorno esperado para um clube que inicialmente se mobilizou para fazer dele o seu representante na Copa de 2014. No entanto, depois percebeu que precisa deixá-lo sair em nome da sua saúde financeira.
- As pendências do Vasco são muito grandes, então não é possível dizer que essa negociação, se ela ocorrer, resolveria todos os problemas do Vasco. Mas temos questões emergenciais a solucionar, e para isso, é natural que usemos esses recursos - explicou o diretor geral do clube, Cristiano Koehler.
Por pouco, Dedé não teve uma passagem até relâmpago pelo Vasco, sem deixar saudades. Jogou pouco em 2009 e, quando teve chances, não caiu nas graças da torcida. Esteve para ser dispensado ao fim da Série B. Já em 2010, em evolução, o zagueiro chegou a assinar um pré-contrato com um clube da Coreia do Sul. Mas a negociação não se concretizou por vontade do próprio zagueiro, que recebeu do ex-companheiro de Volta Redonda Júnior Baiano o conselho de permanecer no Brasil e buscar seu espaço em São Januário.
Temos questões emergenciais a solucionar, e para isso, é natural que usemos esses recursos"
Cristiano Koehler, diretor geral
O auge de Dedé no Vasco se deu na temporada seguinte - embora tenha terminado o ano anterior como titular. Em 2011 formou-se de fato o primeiro ídolo desenvolvido em São Januário neste século. Desse ponto de  vista, o zagueiro foi a contradição de uma tendência no clube, que repatriou referências como Edmundo, Pedrinho, Felipe e Juninho. As atuações quase irrepreensíveis e o título da Copa do Brasil o transformaram no Mito, aos olhos da  torcida, que criou bordões de idolatria.
Nesse momento os clubes do exterior passaram a olhar com Dedé com mais atenção, até que o clube conseguiu que um grupo de investidores comprasse uma parte dos direitos econômicos de Dedé e o garantisse no Vasco até, no mínimo, o fim da Libertadores de 2012. No entanto, a grande expectativa os cruz-maltinos, da diretoria e do próprio jogador era cumprir o contrato então assinado, que vislumbrava a permanência do ídolo até depois da Copa.
Estava difícil resistir ao assédio de alguns dos europeus. Mas diante do interesse de clubes da expressão  de Queens Park Rangers, da Inglaterra, e Anzhi, da Rússia, Dedé deixou claro que a preferência era permanecer no Vasco e manter sua visibilidade até o Mundial. Para a diretoria cruz-maltina, também era válido se manter firme ao desejo dos estrangeiros e esperar uma valorização que viria em 2014.
O ano de 2012 foi de queda para Dedé, que no início e no fim da temporada sofreu duas sérias lesões na perna esquerda. Em meio a uma possível desvalorização, o Vasco estendeu o contrato do zagueiro até o fim de 2015 e aumentou a multa rescisória. Mesmo assim, ele não perdeu seu posto de ídolo, passando a ser uma referência após a saída dos principais jogadores da equipe ao longo do ano, que terminou com o assédio do Corinthians.
Em 2013, Dedé foi logo alçado ao posto de capitão do Vasco e viu o Corinthians entrar de cabeça para contratá-lo. Inicialmente firme no discurso de permanecer em São Januário, o camisa 26 passou a considerar a possibilidade de sair, principalmente pela queda de qualidade do elenco cruz-maltino e da falta de perspectivas financeiras do clube. Mas mesmo com a certeza da diretoria de que o zagueiro permaneceria pelo menos até 30 de junho, o Cruzeiro surgiu com uma oferta irrecusável para todas as partes.
Foi então que Dedé decidiu dar adeus. O Vasco perdeu o ídolo, a referência, o Mito, mais um baque para sua fase ruim. Mas, em contrapartida, ganhou uma tranquilidade que fará com que os remanescentes tenham a motivação necessária para tentar preencher essa lacuna.

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