sexta-feira, 9 de agosto de 2013

'Maracanã russo' tem Mundial como último ato antes de fechar para a Copa

Ainda com traços soviéticos, palco da final da Copa do Mundo de 2018 recebe astros do atletismo antes de passar por grande reforma

Por Marcos Guerra Direto de Moscou
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A figura de Lenin saúda os visitantes do Luzhniki. A estatua do líder comunista continua imponente, por mais que o estádio às suas costas mude de cara. O gigante russo de 57 anos guarda em seus traços o passado soviético e em sua história, os grandes momentos do esporte de Moscou. Mesmo quem ainda não tinha nascido em 1980 não tarda a encontrar na memória a cena da lágrima do ursinho Misha, que se despedia das Olimpíadas em um mosaico na arquibancada. A partir deste sábado, o jamaicano Usain Bolt e a anfitriã Yelena Isinbayeva puxam a fila dos astros do atletismo que tentam deixar sua marca no Luzhniki, no Mundial de atletismo. Será o último ato do estádio antes de fechar as portas para a reforma que o tornará palco da final da Copa do Mundo de futebol de 2018.
O até logo do Luzhniki tem números à sua altura, grandiosos. Quase 2 mil atletas de 206 nações entrarão em ação em nove dias de competição. Liderado por Fabiana Murer e Mauro Vinícius, o Brasil terá 32 representantes na pista e um técnico com o coração apertado e os olhos brilhando em nostalgia. Comandante dos velocistas nacionais, Katsuhico Nakaya lembra bem a euforia em disputar os 100m e o revezamento 4x100m dos Jogos de Moscou.
- Guardo muitas recordações positivas. Era época do comunismo, então não sabíamos o que esperar. Foi minha primeira competição com casa cheia. A cena que ficou marcada foi o painel humano, em que o Misha soltou uma lágrima. Aquilo deixou todo mundo emocionado. O estádio não mudou muita coisa do lado de fora. A única coisa diferente é que não tinha cobertura - recordou Nakaya.
À primeira vista, o Estádio Olímpico de Moscou parece ter parado no tempo. A arquitetura extremamente limpa, sólida e prática do realismo socialista preserva a identidade e o charme do palco. No entanto, o Luzhniki não é mais o mesmo por dentro. Assim como a Rússia fez depois de romper com o comunismo no início dos anos 90, o gigante se modernizou. Deixou de acolher 103 mil pessoas, para receber 78.360 em melhores condições.
Mosaico Estádio Olímpico de Moscou (Foto: Editoria de arte / Globoesporte.com)
- O Luzhniki parece um museu, uma coisa antiga. Ele guarda isso. É uma construção sólida. Naquela época, Moscou era muito sóbria, tudo muito cinzento, sem cores. O estádio também fazia parte desse cenário. Só que a parte interna do estádio mudou bastante - contou o técnico brasileiro, que acredita ser um incentivo disputar um Mundial no estádio.
- Creio que vão acontecer grandes resultados neste mundial. Infelizmente, alguns atletas ficaram fora por causa de doping (casos de Tyson gay e Asafa Powell), mas creio que vão sair resultados surpreendentes. É legal competir em um estádio assim, é marcante como foi no Mundial de 2009, em Berlim, onde Jesse Owens competiu. Um negro vencendo as Olimpíadas na época do nazismo. Bolt bateu os recordes dos 100m e dos 200m naquele Mundial. As pessoas querem fazer seu melhor para marcar o estádio também – completou Nakaya.
atletismo joão do pulo brasil (Foto: Agência AFP)No Luzhniki, João do Pulo conquistou um bronze
olímpico no salto triplo (Foto: Agência AFP)
Erguido em apenas 450 dias no coração do Parque Olímpico, 14 anos antes dos Jogos de Moscou, o Luzhniki era conhecido como Estádio Central Lenin. A alcunha soviética ficou para trás, mas as cenas das Olimpíadas, mesmo tendo sofrido boicote americano, ficaram eternizadas em medalhas. O bronze do brasileiro João do Pulo no salto triplo é uma delas.
- Eu estava na arquibancada naquele dia. Aconteceu a situação de o João do Pulo fazer um salto que seria vencedor, mas os juízes deram queima para ele e o ouro acabou com um soviético (Jaak Uudmäe). Não era para ele ganhar - disse Nakaya.
A única mancha na história do gigante russo aconteceu em 1982, quando ainda não tinha cobertura. Em um dia gelado de outubro, quase 17 mil pessoas se agruparam no único setor da arquibancada que não estava sob neve para o entre o Spartak Moscou e o holandês Haarlem. Os anfitriões venciam por 1 a 0 quando o público começou a se retirar em massa para pegar o metrô mais vazio. A demandada, que coincidiu com o segundo gol do Spartak, resultou em atropelamento e 66 mortos - o Spartak ainda manda seus jogos no local, assim como o Torpedo Moscou, time da segunda divisão russa.
O estádio recebeu também festivais de músicas e shows de estrelas internacionais como Michael Jackson, Madonna e os Rolling Stones. Só em 1995 o Luzhniki foi totalmente reformulado, ganhou assentos e, enfim, uma cobertura. Assim, o gigante foi coroado a quatro estrelas pela UEFA - o ápice das categorias da entidade máxima do futebol europeu. A arena, que usa grama artificial, até sediou a final da Liga dos Campeões de 2008, quando os ingleses do Manchester United bateram os compatriotas do Chelsea nos pênaltis.
Depois de servir de palco para os astros do atletismo, o estádio passará por nova reforma, só que, desta vez, a estrutura externa deve sofrer um impacto maior. Para ser o palco da abertura e da final da Copa do Mundo de 2018, o Luzhniki precisa aumentar sua capacidade em mais de 10 mil assentos para chegar ao mínimo exigido pela Fifa: 89.000 lugares. Por isso, a organização da Copa da Rússia colocar o gigante no chão, o que não conta com o apoio dos russos. Erguer a cobertura e rebaixar o nível do campo também são opções. Certo mesmo é que uma arena moderna será entregue em 2017, e com poucos dos traços soviéticos que identificam o Luzhniki.
- Provavelmente o estádio vai perder um pouco da sua identidade. Vai ser construído um estádio padrão Fifa, vai ser uma arena. Deve descaracterizar o estádio. Vai ganhar por um lado, mais perder por outro - disse Nakaya.
estádio de Luzhniki, onde será a partida do Lokomotiv (Foto: AFP)O gigante Luzhniki receberá a abertura e a final da Copa do Mundo de 2018 (Foto: AFP)

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