quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Sob a sombra de empresários,
PSG e Monaco polarizam Francês

Agentes de jogadores mais influentes nos últimos anos, Jorge Mendes e
Mino Raiola ajudam clubes a dividirem o favoritismo na disputa pelo título

Por Cláudia Garcia, especial para o GLOBOESPORTE.COM Lyon, França
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De um lado, Cavani. Do outro, Falcao Garcia. À sombra de cada um dos artilheiros, os empresários Mino Raiola e Jorge Mendes, respectivamente. A movimentação de Monaco e Paris Saint-Germain no mercado europeu de transferências para a temporada 2013/14 mostra a força que dois dos empresários mais poderosos do continente depositaram no Campeonato Francês que começa nesta sexta-feira - o PSG inicia a defesa do título contra o Montpellier, às 15h30m (de Brasília), com transmissão ao vivo do SporTV e cobertura em Tempo Real do GloboEsporte.com.
Jorge Mendes, de 47 anos, empresário e conselheiro número 1 de Cristiano Ronaldo e José Mourinho, foi quem convenceu Falcao García, James Rodríguez, João Moutinho, Ricardo Carvalho e recentemente o brasileiro Fabinho a assinarem contrato com Monaco, um clube que tem uma média de público de cinco a dez mil espectadores por jogo.
Mino Raiola, de 46 anos, é um empresário italiano, naturalizado holandês. Apesar de não ser o agente oficial de Cavani, o enigmático baixinho exerceu forte influência para o artilheiro da última temporada do "calcio" sair do Napoli para o PSG. Nos últimos anos, conduziu Ibrahimovic por cinco grandes clubes europeus, em transferências que movimentaram cerca de 170 milhões de euros, mais de meio bilhão de reais. Na sua lista de clientes, aparece com destaque também o compatriota Balotelli, de quem intermediou a mudança do Manchester City para o Milan em janeiro passado, além dos brasileiros Maxwell e o holandês Van Der Wiel, ambos do Paris Saint-Germain.
Cavani e Ibrahimovic Treino PSG (Foto: Divulgação / Site PSG)Cavani e Ibrahimovic no treino PSG: influência direta do italiano Mino Raiola (Foto: Divulgação / Site PSG)
Com a força dos dois empresários, PSG e Monaco atraíram mais atenção ainda ao Campeonato Francês de 2013/14. Na última temporada, o time da capital montou seu esquadrão investindo forte em contratações. Capitaneadas por Ibrahimovic, as negociações levaram para a equipe os brasileiros Thiago Silva e Lucas e até mesmo o inglês Beckham. Mas, com a volta à primeira divisão, o Monaco tratou de dividir os holofotes. Sua principal aquisição foi Falcao García, ex-Atlético de Madri, conduzido ao Principado por € 60 milhões (cerca de R$ 183 milhões), a maior transação da pré-temporada até o clube de Nasser Al-Khelaifi responder à altura com Cavani, que custou € 64 milhões (cerca de 194 milhões) e virou a quarta maior da história.
Jorge Mendes, um diplomata que move milhões
reprodução capa revista l'équipe jorge mendes (Foto: Reprodução / Revista L'équipe)Capa da revista francesa "L'Equipe" dá destaque
ao "agente muito especial" Jorge Mendes: poderoso
no mercado (Foto: Reprodução / Revista L'équipe)
A relação entre o Monaco e o empresário Jorge Mendes é especial e dura mais de 16 anos. Começou em 1997, quando o português acertou a transferência de um jogador da terceira divisão para o clube do Principado. Esse jogador era Costinha, que depois se tornou numa peça fundamental do Porto e da seleção treinada na época pelo brasileiro Luiz Felipe Scolari.
- Ele já tinha 22 anos e ainda jogava na terceira divisão portuguesa, no Nacional da Ilha da Madeira. Eu tinha acabado de entrar para o mundo do futebol, e nós não conseguíamos encontrar um clube da primeira divisão em Portugal para o Costinha. O presidente do Monaco na época, Campora, perguntou o que é que tinha a ganhar com a compra de um jogador da terceira divisão portuguesa? Consegui que o Costinha ficasse por experiência no Monaco. Após o terceiro dia, ligaram de volta propondo um contrato de cinco anos - contou Jorge Mendes em recente entrevista ao jornal francês "L’Equipe".
Dessa forma, segundo o empresário, era consumada uma transferência inédita no futebol: um jogador da terceira divisão portuguesa que ia para um clube influente do futebol europeu. Um ano antes, em 1996, Jorge Mendes fundara a Gestifute, que atualmente gere as carreiras de mais de 80 jogadores de futebol e outras dezenas indiretamente. Foi ele quem levou Felipão ao comando do Chelsea, em 2008, acertando em seguida a transferência de Deco, do Porto para o clube de Londres. Mas as suas minas de ouro atualmente são Cristiano Ronaldo, José Mourinho e Radamel Falcão, astro maior do novo Monaco.
Todos querem fazer negócios com o Mendes. Se pudéssemos, trataríamos muito mais com ele"
Luis Felipe Vieira, presidente do Benfica
A influência de Jorge Mendes no mundo do futebol não conhece fronteiras. Reportagens na imprensa europeia contam que o empresário gasta € 10 mil em faturas telefônicas por mês e um milhão de euros em viagens por ano. No seu dia-a-dia, é normal ter jornadas que parecem coisa de maluco, como fazer bate-volta ao México só para assistir a um jogo de futebol e depois jantar em Madri com Cristiano Ronaldo. Um dia, tomou café da manhã com o ex-presidente do Barcelona, Joan Laporta, almoçou em Londres com Roman Abramovich, bilionário russo dono do Chelsea, e jantou em Lisboa com Luis Felipe Vieira, presidente do Benfica. Rotina agitada que parece normal para o homem que foi reconhecido em 2010, 2011 e 2012 como o empresário do ano pela Globe Soccer Awards.
- Todos querem fazer negócios com o Mendes. Se pudéssemos, trataríamos muito mais com ele - comentou Luis Felipe Vieira.
Mino Raiola, a verdadeira Gioconda em Paris
Mino Raiola não é tão midiático ou influente quanto Jorge Mendes no mercado do futebol, mas a distância entre os dois já foi maior. O empresário italiano conquistou terreno nos últimos anos com a transferência de Ibrahimovic do Internazionale para o Barcelona e depois para o Milan. Ninguém entendeu como, mas Raiola conseguiu introduzir uma cláusula no contrato do sueco com os catalães em que o empresário ganharia € 1,2 milhões por ano até 2014. Uma quantia que ainda beneficia o italiano, mesmo o sueco estando atualmente no PSG.
No verão passado, Raiola conquistou mais notoriedade animando um mercado atípico, pouco movimentado e marcado pela falta de liquidez dos grandes clubes. O agente tirou partido do mau momento financeiro do Milan e levou Ibrahimovic para o Paris Saint-Germain por € 21 milhões. Na hora de brigar pelo salário do sueco em Paris, o empresário comparou o atacante à Monalisa, quadro do italiano Leonardo Da Vinci, em exibição no museu do Louvre na capital francesa.
- Ibra é como a Gioconda, uma peça rara, e por isso muito custosa - disse Raiola aos jornalistas na ocasião.
Balotelli com o empresário Mino Raiola (Foto: Divulgação)Balotelli sorri com o empresário Mino Raiola: parceria italiana no mercado (Foto: Divulgação)
A frase se tornou célebre e, pouco depois, Ibra assinou contrato milionário com o PSG por três temporadas, ganhando cerca de € 14 milhões por ano. Em janeiro, Raiola voltou a agitar o mercado, mediando a transferência de Balotelli para o Milan. Uma negociação que ele próprio tornou possível, convencendo o Manchester City a aceitar a forma de pagamento dos € 23 milhões em cinco vezes pelo clube rubro-negro. O empresário tem a confiança dos grandes clubes italianos e também uma grande influência no mercado holandês e francês, onde tem a sede da sua empresa, a "Sportsman", precisamente no Principado de Montecarlo.
Raiola também atendeu o pedido do Robinho para sair do Manchester City, ajudando a levar o brasileiro para o Milan. Foi ele também que mediou a passagem do francês Paul Pogba do Manchester United para o Juventus.
Em pouco tempo, Mino Raiola multiplicou a sua influência no mercado francês, cujo crescimento se dá graças às injeções de capital russo e do Oriente Médio. Raiola também é responsável pela carreira do talentoso meia Étienne Capoue, do Toulouse e da seleção francesa, e tem uma enigmática relação comercial com o talento do PSG, Blaisse Matuidi, com quem trabalha indiretamente, mas sem qualquer formalidade legal.
Jorge Mendes tem uma grande vantagem, que é o Mourinho. É um grande empresário que gere a carreira de grandes jogadores de um pequeno país como Portugal. Eu? Eu sou italiano, holandês, brasileiro, tcheco…"
Mino Raiola, empresário
Raiola tem livre acesso ao vestiário do Paris Saint-Germain em todos os jogos do time. Passeia normalmente pela zona mista do Parque dos Príncipes, junto aos jogadores, como se fosse um membro qualquer do clube. Fala com torcedores, jornalistas e staff. O italiano não tem qualquer intenção de esconder a sua influência no clube de Nasser Al-Khelaïfi, que em apenas 18 meses se tornou num dos mais importantes da Europa com a sua contribuição.
Mino Raiola se define como um homem que "cria o mercado". Na realidade, as jogadas criativas deste empresário italiano o colocaram na lista dos agentes mais influentes do mundo na companhia de Pini Zahavi e Jonathan Barnett. Porém, o número um continua sendo Jorge Mendes, que gere uma empresa com um valor de mercador de cerca de 500 milhões de euros, algo digno de um clube de futebol.
- Ele tem uma grande vantagem, que é o Mourinho. É um grande empresário que gere a carreira de grandes jogadores de um pequeno país como Portugal. Eu? Eu sou italiano, holandês, brasileiro, tcheco… - afirmou Mino Raiola em entrevista à edição de abril da conceituada revista "France Football".
Se no ano passado o empresário entrou com toda a força no mercado francês, movimentando os passes de Ibra, Pogba, Maxwell, Capoue e até Matuidi, que dispensou os serviços do maior empresário de jogadores franceses, Jean-Pierre Bernès, para poder trabalhar com Raiola, este ano o italiano está gerindo tudo com muita calma e paciência. Ainda falta mais de um mês e meio para o fim da janela do mercado na Europa, mas Jorge Mendes já movimentou € 130 milhões só no Monaco. Com Ibra e Balotelli firmes em seus clubes (PSG e Milan), Raiola conseguiu "encaixar" Cavani no clube da capital. Agora, é esperar a próxima mexida de peças.
ERRATA: foi publicado inicialmente nesta matéria que Jorge Mendes é o empresário do zagueiro Thiago Silva, mas o jogador do PSG é agenciado por Paulo Tonietto. O erro foi ao ar às 19h45m e corrigido às 22h26m.

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