terça-feira, 29 de abril de 2014

"Queria dar gostinho aos brasileiros", diz Rubinho, sobre pressão pós-Senna

Vinte anos depois, Barrichello diz que, após "morrer por seis minutos" em batida,
tem poucas memórias do acidente fatal do amigo Ayrton, ocorrido em 1º de maio

Por Rio de Janeiro
Há exatos 20 anos, em 29 de abril de 1994, Rubens Barrichello sofreu naquele sombrio GP de San Marino, em Ímola, o maior susto da sua carreira. Durante os treinos de sexta-feira, sua Jordan decolou após subir na zebra, e ele atingiu violentamente a proteção de pneus, capotando e parando com o carro de cabeça para baixo. Uma das cenas mais impressionantes da história da F-1. Rubinho precisou ser hospitalizado e recebeu a visita de Ayrton Senna. Dois dias depois, sem poder participar da corrida, Barrichello viu pela TV o acidente fatal de seu compatriota, no dia 1º de maio. Uma tragédia da qual Rubinho tem poucas memórias, devido às sequelas das batidas de dois dias antes.
– Falar do Ayrton é uma questão sempre muito delicada. Todo mundo lembra o que estava fazendo no momento do acidente, também lembra quando os aviões bateram nas torres (atentado ao World Trade Center, 11 de setembro). Mas por incrível que pareça, apesar da proximidade, me lembro muito pouco. Meu acidente na sexta-feira, com a visita do Ayrton no ambulatório, é uma vaga memória que parece que lembro por ter visto foto. O professor Sid Watkins, que era o médico daquele evento e muito amigo do Ayrton, disse que eu tinha morrido por seis minutos. Ele disse que engoli a língua, uma situação muito difícil de imaginar. Com toda aquela pancada, fiquei com uma memória reduzida por uns 20 dias. Todo o processo do acidente do Ayrton... Eu sei que estava na Inglaterra, assistindo à corrida e, como todo mundo, o momento em que ele mexe a cabeça é o momento em que pensei: “Estamos salvos. Ele vai levantar do carro e vai continuar nos dando felicidade”. Infelizmente aquele foi o último suspiro – diz o piloto, que hoje compete na Stock Car.
Montage F-1 acidente Rubinho Barrichello Ímola  (Foto: Getty Images)Acidente assustador de Rubinho Barrichello nos treinos de Ímola, em 1994 (Foto: Getty Images)

A perda de um grande ídolo como Ayrton Senna foi um momento difícil para todos os brasileiros, especialmente para Rubens – na época com apenas 22 anos, em sua segunda temporada na F-1. Além de ver em Senna uma referência, começava a criar um forte vínculo de amizade com o piloto, que o tratava como pupilo. Voltar às pistas após se recuperar do acidente foi um desafio para Barrichello.
– Foi muito difícil o processo do enterro. Em cinco dias eu estava de volta num carro com uma dúvida: medo de ter medo. Era uma situação delicada porque eu não estava com medo. Mas estava com medo de sentar no carro e sentir alguma coisa diferente. Mas sentei no carro pensando que eu tinha que ser extremamente atento com todas as curvas que fosse ver e tentar fazer o melhor tempo na pista de Silverstone. Consegui fazer o meu melhor tempo e, a partir daquele dia, realmente defini que aquilo era a minha vida. Depois tivemos que encarar Mônaco sem o Ayrton. Foi muito difícil. Aquele grid com aquelas fotos, aquela faixa “Nós sentimos sua falta”... Aquilo foi muito difícil. 
homenagem Senna Rubens barrichello (Foto: Reprodução / Instagram)Ainda nos tempos de kart, Rubens Barrichello tietando Ayrton Senna em 1987 (Foto: Reprodução / Instagram)

Para Rubinho, porém, o mais complicado foi ter que repentinamente passar de uma jovem promessa para a grande esperança da torcida brasileira, “mal acostumada” com gerações de sucesso e “órfã” de um piloto do naipe de Senna. Barrichello diz que nunca se colocou na responsabilidade de substituir Ayrton, mas quis ao máximo representar bem o país para voltar a dar alegria para os torcedores.
– Mas nada foi mais difícil do que voltar para o Brasil em 95, conviver com a falta do Ayrton no momento em que eu ainda não tinha competitivo para lutar por vitórias, sendo que era algo que eu gostaria muito, porque o brasileiro sempre foi muito apaixonado por F-1, acostumado com as vitórias. Eu não estava querendo suprir a falta do Ayrton, mas sim queria simplesmente dar um gostinho especial para os brasileiros. 
Independentemente do peso de "suceder" Senna, Barrichello trilhou seu caminho e deixou suas marcas na Fórmula 1. Tornou-se o quarto brasileiro mais vitorioso na categoria, ao lado de Felipe Massa, com 11 triunfos. Foi duas vezes vice-campeão, em 2002 e 2004, quando era companheiro de um imbatível Michael Schumacher na Ferrari. Ainda fez 14 poles e subiu 68 vezes ao pódio. De quebra, tornou-se o recordista de GPs disputados, com 326 participações.
Rubens Barrichello comemora a vitória no GP da Europa de 2002, um de seus 11 triunfos na F-1 (Foto: Getty Images)Rubens Barrichello comemora a vitória no GP da Europa de 2002, um de seus 11 triunfos na F-1 (Foto: Getty Images)
Semana #SennaSempre
Nesta semana em que completam-se 20 anos do adeus a Ayrton Senna, o GloboEsporte.com apresenta matérias especiais e entrevistas exclusivas em homenagem ao ídolo brasileiro, além de cobertura "in loco" do "Ayrton Senna Tribute 1994/2014”, evento de quatro dias que será realizado em Ímola em memória ao tricampeão. Fique ligado e confira tudo em nossa página especial “Senna para Sempre”.

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