quinta-feira, 31 de julho de 2014

Mundo Afora: Academia Puskás
vive polêmica com "elefante branco"

Fundado em homenagem ao grande craque húngaro, clube se envolve em polêmica com construção de arena cuja capacidade é bem maior que a população de Félcsut

Por Rio de Janeiro
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Maior jogador da história da Hungria, Ferenc Puskás morreu em 2006. Um ano depois, nascia na cidade de Félcsut a Academia Puskás, um time de futebol dedicado a formar novos atletas para o futebol local e prestar homenagem ao grande ídolo. Em 2014, o clube cresceu: está na primeira divisão nacional e ganhou um estádio luxuoso, também em honra ao falecido craque, que vem causando polêmica pelos gastos exagerados.
A Pancho Arena, nomeada assim em referência a um dos apelidos de Puskás, sediou jogos do Campeonato Europeu sub-19, terminado nesta semana, e chamou a atenção pelo design diferente e uma estrutura bem diferente dos demais estádios do país. Mas também levantou questões: por que uma cidade tão pequena como Félcsut, com apenas 1,6 mil habitantes, precisa de um estádio com capacidade para 4,5 mil pessoas?
A resposta está em Viktor Orbán. Atual primeiro-ministro da Hungria, ele foi o fundador da Academia Puskás e o idealizador da Pancho Arena. Criado em Félcsut, ele construiu o estádio próximo à sua casa com a ajuda de empresas – segundo a imprensa local, as mesmas que conseguiram contratos com o governo durante o comando de Orbán. Ao todo, a obra custou € 12,4 milhões (cerca de R$ 37,2 milhões).
- A Pancho Arena é um monumento à corrupção e à megalomania – criticou Szarvas Koppany Bendeguz, político da oposição húngara, na ocasião da inauguração do estádio, em abril.
Pancho Arena antes da inauguração: estádio custou R$ 37,2 milhões (Foto: Site Oficial do Puskás)

A escolha do nome do clube também tem a ver com as ambições de Orbán. Com a criação da academia e a utilização de um nome tão respeitado como o de Puskás, o político se destacou: afinal, nem mesmo o Honvéd, clube pelo qual o ex-craque jogou, havia feito uma homenagem como esta.
- Para entender as razões pelas quais demorou tanto tempo para Puskás ser homenageado, é preciso saber o pano de fundo histórico e político. Puskás deixou a Hungria depois da revolução de 1956 e seu nome não existiu na imprensa e no público húngaros por décadas, enquanto ele tinha sucesso no Real Madrid. O Honvéd batizou seu estádio com Jószef Bozsik, que era um amigo de infância e companheiro de time de Puskás, mas não lembrou de Puskás – contou György Szöllõsi, diretor de comunicação da Academia Puskás. 
Orbán, ao centro, posa com representantes da Fifa atrás de painel com foto de Puskás (Foto: Site Oficial do Puskás)

Curiosamente, a Academia Puskás nasceu de uma iniciativa interessante, embora possivelmente vista com interesse político. Quando foi criado, o clube tinha o objetivo de desenvolver promessas em Félcsut, cidade que não tinha nenhuma relação com Puskás. Aos poucos, o projeto foi crescendo.
- Depois de diversos desenvolvimentos estruturais, Orbán pediu a permissão de Puskás, que ainda era vivo, para usar o nome no clube. Esta permissão foi concedida em 2006. Não queríamos um time na primeira divisão, estar na segunda divisão era suficiente para os nossos objetivos, mas os jogadores conquistaram o acesso em 2013 e nós não quisemos atrapalhar o sonho deles – explicou Szöllõsi.
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Pancho Arena tem capacidade para 4,5 mil pessoas (Foto: Site Oficial do Puskás)

PARCERIA COM O VIDEOTON

A trajetória da Academia Puskas é peculiar desde o início. Quando iniciou os trabalhos, o clube fez um acordo com o Videoton, um dos principais times do país, e passou a funcionar, na prática, como uma equipe reserva do parceiro. O acesso à primeira divisão, porém, também mudou a relação.
- O time pertencia ao Videoton quando estava na segunda divisão. Hoje não é mais, porque os jogadores do Videoton tiveram que rescindir o contrato lá para permanecer aqui de vez. Mas há casos de jogadores que não estavam sendo utilizados na última temporada no Videoton e vieram por empréstimo. Os jogos da Academia Puskás eram no estádio do Videoton antes que a Pancho Arena ficasse pronta – explicou o zagueiro Fábio Oliveira Nascimento, brasileiro que defende a equipe há dois anos.
Fábio, à direita, em ação pela Academia Puskás (Foto: Arquivo Pessoal)

Embora os laços não sejam mais os mesmos, a parceria entre a Academia Puskás e o Videoton continua. O caminho natural é que os destaques do time menor sejam encaminhados para a matriz.
- O Videoton tem o direito de coletar os melhores jogadores da Academia. Nosso time adulto era a equipe reserva do Videoton há alguns anos, mas nos últimos anos somos um clube independente que dá seus melhores jogadores ao Videoton há cada metade de temporada e coopera tecnicamente com o parceiro. Mas em campo é uma verdadeira luta quando as equipes se enfrentam. Mas nosso principal objetivo é desenvolver jogadores talentosos para o Videoton. Nós precisamos do Videoton porque é um clube que sempre disputa competições europeias e é onde nossos jovens podem alcançar condições profissionais – explicou Szöllõsi. 
BOA ESTRUTURA E SIMPATIA DOS RIVAIS

Em sua primeira temporada na elite, a Academia Puskás precisou lutar contra o rebaixamento, mas, no fim, se salvou. O time ficou em 14º lugar num torneio com 16 equipes, justamente o limite para evitar a degola.
Apesar das dificuldades em campo, a estrutura do clube é boa. A proximidade com Orbán faz com que o time tenha uma boa organização fora de campo, principalmente em relação aos padrões do futebol húngaro.
- A Academia Puskás tem uma estrutura muito boa. Ainda não dá para comparar com os grandes daqui, mas em mais dois anos será com certeza. Isso leva tempo e organização, mas agora eles estão se organizando na primeira divisão, fazendo o estádio, etc. Uma coisa boa é que eles não deixam faltar nada para os jogadores. Fazem de tudo e dão de tudo para trabalhar e ficar bem no país – disse Fábio.
Torcida exibe bandeira com o símbolo do clube e foto de Puskás (Foto: Site Oficial do Puskás)

O curioso é que, apesar do nome em homenagem ao ídolo, a Academia Puskás tem pouco a ver com o ex-atacante do Real Madrid. O legado para o time, até o momento, é a simpatia de outros torcedores. Algo que a polêmica em torno do novo estádio ameaça diminuir.
- Aqui é praticamente uma escola de futebol, com o objetivo de formar jogadores. Nossa equipe é muito jovem, com poucos jogadores experientes. Isso agrada aos torcedores dos times mais tradicionais daqui – contou Fábio.

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