Burle e Scooby voltam a surfar em Nazaré e mandam recado para Maya
Um ano depois, big riders revivem emoções, deixam mensagem para a amiga que
não pôde viajar por lesão e revelam lições do dia em que foram do inferno ao céu
- Começamos fazendo "tow in" em umas ondas de uns 35 pés (10,6m). Eu peguei três e puxei o Burle em quatro ondas. Depois, pedi para ele ficar de olho porque eu queria remar. Foi legal porque foi mais uma superação minha. Remar em Nazaré grande é um desafio para todo mundo sempre. O Garrett McNamara tem feito muito isso, desbravando a Praia do Norte na remada. É muito perigoso porque a onda não quebra sempre no mesmo lugar, quebra em vários lugares e é muito fácil você tomar uma onda na cabeça e se dar mal. Mas eu estava com uma prancha 10,4, que deve medir uns 3,5m, e peguei uma onda boa. Acho que foi a maior onda da minha vida na remada. Mas, no ano passado, foi o nosso maior desafio. Surfamos as maiores ondas das nossas vidas. Posso viver a minha vida inteira e nunca mais surfar uma onda daqueles, de 80 pés (24,3m). Eram ondas oceânicas e todo o dia o mar está diferente - contou o carioca.
Pedro Scooby surfa na Praia do Norte, em Nazaré (Foto: Hugo Silva)
Carlos Burle e Pedro Scooby voltam à Praia do Norte, em Nazaré (Foto: Carol Fontes)
Carlos Burle surfa na Praia do Norte, em Nazaré (Foto: Hugo Silva)
No
ano passado, uma tempestade que atingiu o Atlântico Norte, com ventos
de
até 200 km/h, fez com que toda a costa europeia recebesse mais uma
ondulação de
proporções faraônicas. Na Inglaterra e no sul da França, dois surfistas
morreram. Liderados Burle, Scooby, Felipe "Gordo" e Maya foram à Praia
do Norte tentar superar o americano Garrett McNamara, que havia surfado
uma onda de 30m em janeiro de 2013 e
era dono do recorde de 2011, que entrou para o Guiness Book. O Canhão
de Nazaré, um desfiladeiro submarino de origem tectônica situado ao
largo da costa de Nazaré, faz com que as ondas viajam a uma velocidade
maior por conta da falha de Nazaré-Pombal e chegam à costa praticamente
sem perder energia, formando grandes dimensões. Um ambiente ideal para a
prática mais radical do surfe.
Scooby diverte o amigo com brincadeiras no farol da Nazaré, em Portugal (Foto: Carol Fontes)
Depois de pegar algumas bombas
em Nazaré no dia do épico swell, que ficou conhecido como "Big Monday", Maya entrou novamente no mar para tentar
quebrar seu próprio recorde. Após cair em uma onda por conta dos "bumps"
(irregularidades), tomou a série na cabeça. Era como se ela tivesse entrando em um ringue com Mike Tyson e sofrido um nocaute,
segundo suas próprias palavras. Burle, que estava pilotando o jet-ski,
não conseguiu
colocá-la no sled e ela foi rebocada para perto da praia por uma corda.
Inconsciente, foi reanimada com sucesso pelo big rider na areia ao som
de "Stayn Alive", dos Beeges. Por sorte, Maya sofreu apenas uma fratura
no tornozelo direito.Quatro vezes vencedora da categoria feminina do prêmio XXL, "Oscar" das ondas grandes, Maya revelou aos amigos que queria estar novamente em Nazaré e estava com "inveja branca" dos amigos. Mas, mesmo longe, ela se fez presente. Quando Burle e Scooby começaram a gravar uma mensagem para a carioca em um dia nublado e chuvoso, o sol apareceu entre as nuvens e deu origem a um belo arco-íris. "Foi só a gente falar dela que apareceu o arco-íris, foi ela. A Maya está aqui com a gente", diziam Burle e Scooby, em coro.
- A Maya queria estar aqui, falou que estava com inveja branca e desejou boa sorte. Infelizmente, ela sofreu essa lesão e não pôde vir, mas ela vai voltar ainda mais forte para surfar com a gente aqui. No ano passado, ela surfou uma onda incrível, a maior onda que eu já vi uma mulher surfar. Se a Maya não tivesse preparada física e psicologicamente, ela não teria se salvado, eu apenas fiz a minha parte. Foi uma situação estresse muito grande. Surfamos as maiores ondas das nossas vidas, mas passamos pela maior sensação de risco das nossas vidas - destacou Burle.
Pedro Scooby e Carlos Burle antes entrarem no temido mar de Nazaré (Foto: Carol Fontes)
DO CÉU AO INFERNO
- O justo seria pegar cientistas e oceanógrafos dos quatro cantos do mundo e, após uma análise técnica, chegar a um consenso. Ou fazer como o Miguel fez, ele criou um software. Não deveria ser algo sujeito a uma amizade ou uma situação política. Os juízes são todos da Califórnia e analisam tudo por uma foto, o que pode mudar dependendo do ângulo que você vê. Sinceramente, se pegar outra onda gigante, não vou nem mandar para essa eleição – disse o experiente big rider.
Onda que Burle surfou no ano passado teria de 32m a 35m, segundo estudo científico (Foto: AFP)
Quem
também pegou a maior onda de sua vida foi Pedro Scooby. Para ele, foi o dia em
que ganhou a sua “faixa preta” no surfe e provou a sua maturidade. - Foram as ondas mais poderosas que eu já vi. Ali foi o dia que eu ganhei a minha faixa preta. Quando eu conheci o Burle, aos 21 anos, eu era apenas um moleque louco que viajava o mundo atrás de ondas. Hoje, estou mais experiente, maduro... Sou casado, tenho um filho e me sinto muito mais preparado para mais desafios.
lições
Burle e Scooby no jeti-ski antes de voltarem a surfar na Praia do Norte (Foto: Hugo Silva)
Campeão
mundial na remada e no tow-in, o veterano de 46 anos tirou algumas
lições da experiência em que viveu as emoções mais variadas. A principal
delas foi reforçar a segurança, afinal, os riscos são iminentes na
modalidade mais extrema do surfe. Se no resgate de Maya, foi usado
apenas um jet-ski, agora, a equipe terá sempre dois. Além disso, o
sistema de comunicação de rádio também foi melhorado, assim como as
roupas e outros equipamentos.-Ter apenas um jet-ski no resgate da Maya foi um erro, deveríamos ter outro. Atpe tínhamos, mas eles estavam com o Scooby e o Gordo. Agora, vamos entrar sempre com dois no mar, e cinco no total. A maior lição foi na questão do preparo. O número da equipe é maior e o número de jet-skis envolvidos é maior. Temos a consciência de que devemos estar mais bem preparados com equipamentos e o preparo físico não pode nunca ser negligenciado para evitar os riscos. O sistema de comunicação com o "cliff" (o penhasco onde fica o farol) não será mais com rádios presos nos coletes, pois eles voaram. Iremos amarrá-los. O risco é iminente, seja de se machucar ou até de morte. Vamos continuar surfando ondas grandes e precisamos aprender a lidar com essas situações. Evoluímos com os erros, mas o mais importante foi que a equipe saiu ilesa. A nossa missão foi cumprida - analisou.
Apesar dos riscos e perigos da profissão, Burle se renova a cada aventura. Para o surfista que surfou um tufão em Kushimoto, no Japão, os tubos sobre os corais venenosos de Teahupoo, no Taiti, e o mar gelado de Yakutat, no Alasca, o céu é o limite. Quando está no alto de uma onda gigante, Burle conta que sente um misto de euforia, medo e adrenalina. Segundo ele, estar no limiar da morte faz que se dê um valor ainda maior à vida.
- Estar no alto de onda gigante me traz uma sensação muito intensa, é como se todos os sentimentos e emoções viessem à flor da pele. Você chega tão perto da morte que dá muito valor à vida. Acho que é isso que faz a gente voltar sempre - finalizou.
Carlos Burle aproveitou para agradecer no Santuário de Nossa Senhora da Nazaré, em Nazaré(Foto: Carol Fontes)
Carlos Burle e Pedro Scooby admiram o arco-íris em Nazaré, após lembrarem de Maya Gabeira (Foto: Carol Fontes)
Forte de Nazaré: um misto de emoções para Carlos Burle e Pedro Scooby (Foto: Bruno G. Camargo)
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