quinta-feira, 2 de junho de 2011

Magoado após saída, Alex Silva ataca dirigente e diz: 'Não sou problemático'

Beque diz que tudo mudou no clube após queda para o Avaí, não aceita protesto da torcida e afirma que, se tiver proposta, vai jogar em rival

Por Marcelo Prado Amparo, SP
Alex Silva São Paulo (Foto: Marcelo Prado / Globoesporte.com)Alex Silva fala sobre sua polêmica saída do Tricolor
(Foto: Marcelo Prado / Globoesporte.com)
Segunda-feira, 25 de maio. Uma reunião com o diretor de futebol Adalberto Baptista encerrou o ciclo de um dos jogadores mais vitoriosos do São Paulo nos últimos tempos. Após 143 jogos, 12 gols marcados e três títulos brasileiros conquistados, Alex Silva pediu rescisão de contrato e foi atendido. Seu empréstimo terminaria no dia 31 de julho, mas o clube do Morumbi já havia avisado que não compraria seus direitos federativos, que pertencem ao Hamburgo-ALE e estavam estipulados em € 3,5 milhões (R$ 8 milhões).
Magoado com a forma como as coisas terminaram, Alex Silva seguiu para Amparo, cidade que fica a 150km da capital paulista, para colocar a cabeça em ordem. Com a ajuda dos pais e da esposa, ele agora se prepara para dar sequência à carreira em outro clube e mantém a forma em uma academia.
Em conversa exclusiva com o GLOBOESPORTE.COM e a TV Globo, o camisa 3 atacou Carlos Augusto de Barros e Silva, ex-vice-presidente de futebol do clube do Morumbi, disse que se arrepende de ter falado que não jogaria em um rival do São Paulo, rejeitou os rótulos de baladeiro e problemático e afirmou que foi do céu ao inferno por causa da eliminação para o Avaí, nas quartas de final da Copa do Brasil. Confira o papo com o zagueiro.
GLOBOESPORTE.COM: Após uma semana, você resolveu falar. Já deu para administrar tudo o que aconteceu?
Alex Silva:
Eu pedi para rescindir o meu contrato. Depois que a diretoria veio a público e disse que não havia interesse em continuar comigo, não valia a pena seguir até o fim. E eu não quero voltar para a Alemanha. Se eu ficasse até o fim do meu vínculo, no dia 31 de julho, iria estourar o limite de sete jogos do Campeonato Brasileiro e seria obrigado a voltar. Muitas coisas também me chatearam demais. Não havia mais clima para continuar. Fico triste pela maneira que deixei o São Paulo. Na minha cabeça, imaginei que seria o próximo capitão do São Paulo depois que o Rogério Ceni parasse.
A quais coisas está se referindo?Teve o episódio com o presidente (Juvenal Juvêncio), que disse eu havia inventado uma proposta do Sporting-POR. Mas a gota d’água foi a manifestação da torcida, após a derrota para o Avaí. Sempre fui um cara que deu o máximo em campo. Joguei com 20 pontos no olho, sempre dei sangue, nunca fugi do pau. Antes era o monstro, o que dava a cara para bater. Agora eu e o Miranda também nos tornamos dispensáveis. Nos últimos jogos, meu joelho estava muito ruim e joguei. Talvez, se tivesse feito como muitos outros fariam e tivesse ficado no Reffis tratando, nada disso teria acontecido.
Alex Silva São Paulo (Foto: Marcelo Prado / Globoesporte.com)Zagueiro mantém a forma em uma academia enquanto espera por um acerto com um novo clube. Defensor tem propostas de várias equipes do futebol brasileiro  (Foto: Marcelo Prado / Globoesporte.com)
Acredita que esteja sendo crucificado após a eliminação na Copa do Brasil? Tal fato também aconteceu com o Dagoberto após a queda na Libertadores de 2010.Nossos casos são diferentes. Acredito que, se eu fosse jogador do clube, também permaneceria. Como não sou, acabei saindo. O que mais me magoou, o que mais me deixou triste, foi a revolta da torcida. Foi falta de respeito comigo por tudo que eu fiz no São Paulo. Todo mundo agora só me critica pela minha saída, mas ninguém lembra o meu retorno, quando tive propostas de rivais do São Paulo e de outros times do Brasil. A proposta salarial do Flamengo era muito maior, e eu aceitei a do São Paulo, que era a menor de todas que eu tinha. Mas a vida segue. Se tivéssemos vencido o Avaí, tudo estaria tranquilo. No São Paulo, isso é normal. Se o Kaká, que virou o melhor jogador do mundo, foi criticado, não é de se estranhar o que aconteceu comigo. Talvez seja o meu jeito, sou transparente, não faço média com ninguém.
Conversou com o presidente Juvenal Juvêncio no dia de sua saída?Não, falei apenas com o Adalberto Baptista (diretor de futebol). O Juvenal é um pai para mim, acredito que ele está triste pela saída e não teve coragem de me falar isso. Aquele episódio foi totalmente superado, conversamos no dia e esclarecemos. Não gostei do que ele falou, principalmente porque estávamos no dia de um jogo decisivo. E se por acaso eu fosse mal, seria crucificado, me acusariam de fazer corpo mole. O Juvenal é um brincalhão. Outros eu não sei, talvez não me quisessem mais, preferem o Coates (zagueiro uruguaio que está prestes a ser contratado).
O que aconteceu contra o Avaí foi apenas uma consequência. Estávamos empurrando com a barriga faz tempo"
Alex Silva
Como um dos líderes do elenco, você já entendeu o que aconteceu naquela partida contra o Avaí em Florianópolis?É simples. Foi um jogo em que os 11 não estiveram bem. A pegada do Avaí foi maior do que a nossa. Também tivemos falhas individuais. Eu falhei no primeiro gol ao deixar o William antecipar e marcar de cabeça. Mas, se você analisar, o que aconteceu contra o Avaí foi apenas uma consequência. Estávamos empurrando com a barriga fazia tempo. Tomamos sufoco do Goiás no Serra Dourada com um jogador a mais. No Morumbi, não jogamos bem. Contra o Avaí em casa foi outra pedreira, 1 a 0 foi lucro. A única partida boa na Copa do Brasil foi contra o Santa Cruz, em Barueri, quando tivemos atitude e poder de reação.
Você se arrepende de ter criticado a diretoria após a derrota em Florianópolis? (O jogador afirmou que havia dirigente que gostava de aparecer nas vitórias e sumia nas derrotas)Não, até porque não quis atingir ninguém. Na mesma entrevista em que eu falei isso, eu também disse que a responsabilidade era toda nossa, afinal diretor não coloca meião e entra em campo. Mas, quando falei que nenhum diretor aparecia, não estava falando mentira. Mas a responsabilidade era toda nossa. Talvez o Leco (Carlos Augusto de Barros e Silva, ex-vice de futebol) tenha ficado incomodado, ele estava no gramado naquela ocasião. Ele fica bravo com todo mundo. Já teve problema com o Miranda e com o Dagoberto. Talvez a carapuça tenha servido para ele. No dia da entrevista, atendi a um pedido da assessoria, já que ninguém queria falar. Vim a público e dei a cara para bater, não sou de me esconder (o GLOBOESPORTE.COM tentou contato com Leco, que não atendeu as ligações).
Alex Silva São Paulo (Foto: Marcelo Prado / Globoesporte.com)Alex Silva conversa com o repórter Andre Kampff, da TV Globo (Foto: Marcelo Prado / Globoesporte.com)
Como era a sua relação com o Carpegiani? Você chegou a ter problemas com ele.Não tenho nenhum problema com ele. Quando houve o episódio da minha falta, conversamos em uma sala, de homem para homem, e resolvemos tudo. O Paulo foi um dos caras que mais lutaram pela minha permanência.
Você era um dos líderes do elenco. É possível dizer que o Carpegiani tem o controle total do elenco?Ele tem o total comando do elenco. Isso ficou provado nas duas primeiras partidas no Campeonato Brasileiro.
Como lida com a fama de baladeiro e problemático?De todas as besteiras que estão falando, isso é o que mais me incomoda. Eu gosto de samba e não escondo de ninguém. Vou muito a uma casa que tem na Vila Madalena. Não devo satisfações a ninguém sobre o que eu faço no meu dia de folga. Já vi vários jogadores que passaram pelo São Paulo chegarem para treinar sem a menor condição e a diretoria passava um pano na cabeça. Eu nunca fiz isso. O mais engraçado é que eu sempre fui assim. Na época em que conquistamos três títulos brasileiros, acho que era até pior, já que não era casado. Parece que agora eu não presto mais. É impossível um jogador ser tão problemático e continuar como titular. Realmente não entendo isso. Parece que é coisa de alguém que quer desvalorizar o meu passe.
Já foi advertido por alguém do São Paulo sobre isso?Nunca. Se sou tão problemático assim, era para ter aparecido alguém e feito isso. O Muricy (Ramalho, ex-treinador) conversava comigo na boa e pedia para eu maneirar na semana de um jogo decisivo. O Carlos Alberto (meia que jogou no São Paulo em 2008 e hoje está no Bahia) teve problemas em vários clubes e foi dispensado por mau comportamento. Se sou assim também, por que nunca fui expulso de clube?
Twitter Alex Silva (Foto: Reprodução)Após o clássico contra o Palmeiras, Alex Silva atacou Valdivia no twitter. Após tanta repercussão, o zagueiro cancelou sua conta  (Foto: Reprodução)
Você sempre polemizou pelo Twitter. Tem algo de que se arrepende?Eu nunca usei o Twitter para dizer que fui ao banheiro ou comer cachorro-quente na esquina. Usava como uma maneira de me defender. A imprensa escutava o diretor e não ouvia o lado do jogador. Mas tem uma coisa de que eu me arrependo: de ter ameaçado o Valdivia após o clássico contra o Palmeiras pelo Campeonato Paulista. Não deveria ter feito isso.
Você teve duas passagens pelo São Paulo. Na primeira, entre 2006 e 2008, o time conquistou três títulos brasileiros. Na segunda, do início de 2009 até agora, o clube amarga um jejum de conquistas. O que mudou no clube?Primeiro, os três títulos foram com o mesmo treinador e com o mesmo elenco. Foram pequenas mudanças. Agora, a cada temporada, muda-se muito o grupo, muitos chegam e muitos saem. Aí, de sete que chegam, só dois dão certo, e isso prejudica. As mudanças de treinador também atrapalham. Além do mais, a diretoria resolveu mudar sua filosofia, que agora é investir em Cotia.
Cansei de dar manifestações de que gostaria de continuar. Pelo Twitter, cheguei até a me rebaixar ao pedir para ficar"
Alex Silva
No início do ano, você disse que não se via jogando em um clube rival do São Paulo. Agora isso mudou? Por quê?Mudou e é uma coisa de que me arrependo de ter dito. Naquela época, eu só pensava em continuar, e o clube só falava em me comprar. As coisas mudaram, o que eu posso fazer? Cansei de dar manifestações de que gostaria de continuar. Pelo Twitter, cheguei até a me rebaixar ao pedir para ficar. Isso está bem claro, ninguém vai distorcer a história. Agora a vida segue, e vou pensar bem com que clube vou acertar.
Já recebeu proposta de algum clube?
São muitas ofertas, mas o meu empresário está cuidando disso. Daqui, só sei do Santos. Ninguém do Corinthians me procurou. Mas vale lembrar que, ao rescindir o meu contrato, o São Paulo colocou uma cláusula dizendo que eu não posso assinar com Santos, Corinthians ou Palmeiras até o dia 31 de julho, que seria a data do final do meu empréstimo.
No caso de vestir a camisa de um rival do São Paulo, vai comemorar se marcar um gol?Claro, isso é uma besteira enorme. Eu tenho muito carinho pelo São Paulo, mas seria um desrespeito enorme ao meu próximo clube se eu não comemorasse. Sei que, quando for enfrentar o São Paulo, vou ser xingado, cobrado. Mas, se mostrar o meu futebol, a cobrança vai mudar para cima dos dirigentes que me deixaram ir embora. Agradeço ao São Paulo, marcou a minha vida, fiz grandes amigos, mas agora é passado. Aproveito para pedir desculpas, caso tenha magoado alguém. Agora a vida segue.
 

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