quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Mundo Afora: fãs de Zico no Udinese não aceitam compará-lo a Di Natale

Torcida 'Udinese Club Arthur Zico Orsaria' leva faixa com nome do Galinho a todos os jogos do time: 'Temos muitas saudades dele', diz presidente

Por GLOBOESPORTE.COM Rio de Janeiro
 Giampaolo Pozzo, dono do Udinese, afirmou no início do ano que estava em dúvida sobre quem era melhor: Zico, que defendeu o clube nos anos 80, ou Antonio di Natale, atual camisa 10 e craque da equipe que é vice-líder do Campeonato Italiano. O Galinho fez 57 gols em 79 jogos entre 1983 e 1985, sem conquistar títulos. Di Natale já balançou a rede 119 vezes em 237 partidas, sendo o artilheiro do Calcio dois anos seguidos, e ainda ajudou o clube a se classificar duas vezes para a Liga dos Campeões 2004/2005 e 2011/2012. Nos números, o italiano supera o brasileiro e dá argumentos para a comparação do dirigente. Mas, para um pequeno grupo de torcedores do time alvinegro, Zico continua no topo: a torcida organizada "Udinese Club Arthur Zico de Orsaria" é devota do ídolo do Flamengo.
– Essa comparação entre Zico e Di Natale não existe. Di Natale classificou a equipe para a Liga dos Campeões e ganhou títulos individuais como o de artilheiro, mas o Galinho ganhou tudo no Brasil e no mundo. Infelizmente, não ganhou uma Copa do Mundo com a Seleção Brasileira, mas ele é uma lenda do futebol. Os dois são grandes jogadores, com uma visão de jogo excelente, mas Zico foi e sempre será o Zico. Temos muitas saudades dele – disse Alessandro Scarbolo, um dos fundadores e atual presidente da torcida que leva uma faixa de 36 metros com o nome do brasileiro a todos os jogos do Udinese na Europa, dentro e fora de casa.
Montagem - Zico e Di Natale pela Udinese (Foto: Divulgação)Zico e Di Natale, camisas 10 do Udinese: Galinho ficou apenas dois anos no time (Fotos: Reprodução)
Destaque da Itália nas eliminatórias da última Copa do Mundo, Di Natale foi artilheiro do Campeonato Italiano com 29 gols em 2009/2010 e 28 em 2010/2011, quando o Udinese ficou em quarto lugar e conseguiu vaga na Champions desta temporada. A boa campanha no último ano rendeu os elogios do dono do clube, impressionado com a boa fase do atacante:
- Estou em dúvida sobre quem é melhor entre os dois. Di Natale está crescendo tecnicamente a cada ano - afirmou Pozzo, em janeiro.
Nem mesmo os gols de Di Natale fazem o grupo de fãs de Zico esquecer o antigo camisa 10. O caso de amor começou em 1983, quando o Galinho trocou o Flamengo pelo Udinese por US$ 4 milhões, o maior valor pago até então na Itália por um jogador. Alessandro Scarbolo, de 45 anos, diz que fez questão de usar "Arthur Zico" no nome da torcida para aumentar a identificação do craque com o clube, além de citar o nome de Orsaria, cidade a 17 quilômetros de Udine e onde o grupo foi fundado.
Zico (Foto: Reprodução)A faixa com nome de Zico aparece em todos os
jogos do Udinese na Europa (Foto: Reprodução)
– O Udinese de 1983 que o Galinho jogou era: Brini, Galparoli, Tesser, Orazi, Edinho, De Agostani, Causio, Miano, Mauro, Zico, Virdis. O treinador era o Ferrari. Este para mim foi o melhor Udinese que vi jogar – afirmou Alessandro, por email.
O "esquadrão" alvinegro não conquistou nada na temporada 1983/1984 e terminou em nono lugar. Mas Zico fez 19 gols, apenas um atrás na artilharia do campeonato, que ficou com Michel Platini, do campeão Juventus. As cobranças de falta do Galinho entraram para a história do Calcio, e o brasileiro chegou a ser aplaudido por torcedores rivais. Emocionado com a homenagem da torcida que leva seu nome, Zico mantém contato até hoje com Alessandro & Cia.
– Faço questão de retribuir sempre esse carinho que eles têm por mim. Nós nos falamos constantemente. Essa idolatria é digna de respeito porque sei que não tem nenhum interesse político por trás disso. Foi uma época maravilhosa que eles sempre fazem questão de lembrar e eu tive o prazer de participar disso. Tenho certeza que esse afeto ocorre principalmente porque fiz o meu papel dentro de campo – disse Zico ao GLOBOESPORTE.COM.
 A torcida foi fundada oficialmente em 21 de dezembro de 1984, após um jantar entre o camisa 10 e os fãs. Foi a primeira dedicada a um jogador do Udinese, considerado um dos melhores do mundo de sua época.
Durante seus 27 anos de atividades, a organização também se orgulha de suas ações sociais através da participação em alguns eventos de caridade, principalmente no Natal. Atualmente, com 160 seguidores, a torcida viaja pela Europa para acompanhar o time italiano, levando uma faixa de 36 metros de comprimento que sempre é exposta sobre as arquibancadas dos estádios com o objetivo de resgatar uma das épocas mais gloriosas da história do clube.
Antes de acertar com o Udinese, Zico teve propostas de Roma e Juventus. O craque havia acabado de conquistar o  tricampeonato brasileiro com o Flamengo (1980, 1982 e 1983), além de ter vencido a Libertadores e o Mundial em 1981. Em 1982, foi o camisa 10 da Seleção na Copa do Mundo na Espanha. Com o currículo, chegou ao Udinese com status de rei.
Zico (Foto: Reprodução)Torcida italiana dá boas-vindas a um dos maiores jogadores de futebol da época (Foto: Reprodução)
A Federação chegou a suspender a compra do atleta por causa do alto valor, mas os moradores da cidade, revoltados, ameaçaram até pedir o separatismo da Itália. O lema era: "Ou Zico ou Áustria!", uma referência à época em que a região pertencia ao Império Austríaco. A ameaça foi levada a sério pelo presidente da Federação Italiana, Sandro Pertini, que enfim aceitou a compra de Zico.
– A comoção em relação à minha chegada se deu muito em função dessa proibição que ocorreu. Na Itália, fui muito feliz. Meus filhos foram alfabetizados lá, e guardo um carinho especial por todos, em especial pela torcida do Udinese, que me recebeu de maneira bem calorosa e emocionante. Foi uma época muito feliz da minha vida – lembrou o atual treinador da seleção do Iraque.
Para os membros da "Zico Orsaria", uma noite mágica está guardada na memória: a despedida de Zico, em 6 de fevereiro de 1990. Uma grande delegação de fãs italianos veio ao Brasil para assistir ao jogo no Maracanã, palco de 333 gols do craque em 435 partidas disputadas. No amistoso entre estrelas do Flamengo e uma seleção do mundo, 89.622 espectadores viram o combinado rubro-negro empatar por 2 a 2, mas sem o Galinho balançar a rede.
Aos 43 minutos do segundo tempo, o árbitro Wilson Carlos dos Santos parou o jogo. Zico deu a volta olímpica escoltado por um coro emocionado de "Tá chegando a hora". O craque fez um discurso de agradecimento destacando as alegrias vividas na carreira e, às 23h35m, se despediu dos quase 90 mil torcedores presentes no estádio.

Zico (Foto: Arquivo Pessoal)Visita de Zico no dia do 25° aniversário de fundação
do "Arthur Zico de Orsária"(Foto: Arquivo Pessoal)
– Foi um dia muito especial. Aquele 6 de fevereiro nunca mais esquecerei. Depois da partida, nós fomos encontrar com Zico, sua esposa e seus filhos em um restaurante da Barra de Tijuca. Os brasileiros viram o carinho que nós, italianos, temos por ele e ele por nós – lembrou Alessandro.
O presidente do fã-clube também faz questão de destacar a amizade existente entre o "Udinese Club Arthur Zico de Orsaria" e seu maior ídolo. Alessandro disse que torce muito para que tudo dê certo no novo caminho do ex-jogador no comando técnico da seleção do Iraque.
– A última visita que ele nos fez foi no dia do 25º aniversário de fundação do nosso clube. Nossa amizade já dura 27 anos, e o respeito é recíproco. A cada 15 dias sempre trocamos e-mails ou nos falamos por telefone. Treinar o Iraque é uma grande oportunidade muito grande para ele. Depois do grande sucesso no Japão, espero de coração que o nosso Galinho classifique o Iraque para a Copa do Mundo de 2014 no Brasil. Sucesso, Galo! – finalizou.

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