segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Na rotina dos títulos, técnico de Cigano festeja: ‘Cain entrou no jogo’

Baiano Luiz Dórea comemora acerto na estratégia da luta do pupilo,
que faturou o título dos pesos-pesados do UFC: 'Ele é um fenômeno'

Por Raphael Carneiro Salvador
Luiz Dórea posa com Júnior Cigano e o cinturão do UFC (Foto: Reprodução/Twitter)Luiz Dórea posa com Júnior Cigano e o cinturão
do UFC (Foto: Reprodução/Twitter)
Retornar para Salvador com o título de campeão mundial na bagagem já virou rotina para Luiz Carlos Dórea. Aos 49 anos, o treinador baiano é reconhecido internacionalmente como um dos principais nomes do boxe. Foi com ele que Acelino "Popó" Freitas chegou ao tetracampeonato mundial (como superpena pela WBO e AMB, e como leve, por duas vezes, pela WBO). E foi com os ensinamentos de Dórea que o catarinense Júnior Cigano nocauteou o mexicano-americano Cain Velásquez e ficou com o cinturão dos pesos-pesados do UFC.
Apesar de estar acostumado às conquistas – além de Popó e Cigano, Dórea é também o treinador de boxe de Rodrigo Minotauro, Rogério Minotouro e Anderson Silva –, o feito de Cigano é especial para ele. Há nove anos com o foco no MMA (Mixed Martial Arts ou Artes Marciais Mistas, em português), Dórea treina o catarinense radicado em Salvador há apenas cinco. Minutos depois de desembarcar em Salvador, o treinador conversou com exclusividade com a equipe do GLOBOESPORTE.COM Bahia.
- São muitos títulos, mas a emoção é a mesma como se fosse o primeiro. Não dá para descrever com palavras o que estou sentindo. Ele tem apenas cinco anos treinando. Sei o que ele passou, e digo que é um fenômeno – declarou.
Dórea lembrou que a conquista foi ainda mais emocionante porque, dias antes da luta, Cigano lesionou o menisco e chegou a ficar dois dias sem poder colocar os pés no chão. O treinador revelou que, além do tratamento médico, teve de fazer um forte trabalho psicológico para dar forças ao lutador. Para isso, Dórea utilizou um episódio da sua própria carreira.
- Quinze dias antes de me tornar campeão mundial de boxe, na luta que fiz em 1988, eu tive uma ruptura no bíceps e só pude lutar por causa de Otto Alencar (atual vice-governador da Bahia). Mostrei ao Cigano que ele poderia fazer o mesmo, e tive que intensificar o trabalho psicológico quando, no aquecimento, percebi que ele tinha sentido a lesão novamente.
Apesar do alerta com o problema no joelho de Cigano, que será operado provavelmente na semana que vem, Dórea se sentiu aliviado quando percebeu que Cain Velásquez "havia entrado no jogo" planejado pelo treinador. Apesar de ser especialista no wrestling (luta no chão), Velásquez afirmou dias antes do combate que seria capaz de lutar de igual para igual com o brasileiro no boxe.
- Ainda bem que ele pensou isso. Ele é um grande lutador, mas a agilidade e a velocidade de Cigano nas pernas e nos braços é impressionante. Queríamos que ele fizesse isso porque sabíamos que quanto mais tempo Cain ficasse em pé, mais risco ele corria de ser nocauteado - comentou Dórea.
Comemoração e novas promessas
Após a luta, Luiz Carlos Dórea contou que a equipe do brasileiro foi chamada pelo presidente do UFC, Dana White, para receber parabéns pelo título. De acordo com o treinador, os pedidos de autógrafos e fotos com brasileiros e americanos duraram horas.
- Depois disso, ficamos no quarto por horas conversando. Ele não acreditava que tinha sido campeão, e eu fiquei o tempo todo dizendo: "Você é campeão mundial" – relembrou aos risos.
Luiz Dórea, mestre de boxe (Foto: Reprodução SporTV)O treinador baiano se tornou referência mundial no boxe (Foto: Reprodução SporTV)
Para conseguir chegar a este momento, com um atleta preparado desde o começo em sua academia, Dórea comentou que precisou estudar muito a adaptação do boxe para o MMA. O primeiro contato com a modalidade aconteceu em 2003, quando Rodrigo Minotauro ingressou na arte marcial e o convidou.
Desde então, Dórea tem feito um trabalho intensivo para entender melhor o esporte e manter o aproveitamento. Além dos atletas que hoje competem no UFC, o treinador não abandonou o boxe. Em setembro, Dórea comemorou a conquista de Everton Lopes no Campeonato Mundial de Boxe Amador.
- Nossa diferença é que o trabalho é feito desde cedo. Trabalho a base com os meninos e os acompanho sempre. No caso de Cigano, por exemplo, sei de tudo o que ele sofreu fora dos ringues. Para mim, ele é o exemplo do brasileiro, um povo sofredor, mas que não desiste - afirmou o treinador.
Apesar da festa pela conquista de Cigano, Dórea não terá muito tempo para comemorar. A partir de agora, o treinador já volta as atenções para os irmãos Rodrigo Minotauro e Rogério Minotouro. Os dois irão subir no octógono do UFC em dezembro, em Toronto, no Canadá. E, com a moral de quem já é íntimo dos títulos mundiais, o treinador profetiza:
- Vem mais gente por aí. Os que estão mais perto de chegar ao UFC são Neilson Gomes, Ednaldo Lula e Renato Velame - revela Dórea, com o retrospecto de 20 lutas neste ano e apenas duas derrotas.

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