sábado, 4 de fevereiro de 2012

Castelão vira sala de aula para operários não alfabetizados

Com o fim dos trabalhos diários, 35 funcionários renovam seus sonhos aprendendo a ler e escrever

Por Gioras Xerez Fortaleza, CE
aulas estádio castelão  (Foto: Divulgação)Após um dia todo de trabalho, funcionários ainda
têm forças para estudar (Foto: Divulgação)
Uma lição de cidadania. Depois de contribuírem durante todo o dia para a construção do maior estádio do Norte/Nordeste, um grupo de 35 operários guarda as ferramentas para pegar lápis e papel e se dedicar aos estudos. Eles fazem parte da turma do curso de alfabetização promovido pelo Consórcio Construtor, formado pelas empresas Galvão Engenharia S/A e Andrade Mendonça Construtora Ltda, em parceria com o Serviço Social da Indústria (Sesi).
As aulas são administradas no refeitório da administração do canteiro de obras do Castelão, que a partir do fim do expediente é adaptado para virar sala de aula. De segunda a quinta-feira, das 17h30m às 19h30m, a turma se dedica a (re)aprender as matérias do currículo de 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental na modalidade de ensino EJA (Educação de Jovens e Adultos).

Parcerias e metas
Reforma do Estádio Castelão para a Copa do Mundo de 2014 (Foto: Divulgação/Secopa)O objetivo dos organizadores é deixar pronto o
estádio no final de 2012 (Foto: Divulgação/Secopa)
O secretário especial da Copa 2014, Ferruccio Feitosa, em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM/CE, explica que iniciativas como essa no Castelão são o resultado do esforço para fortalecer ações de aspecto social dentro de seus projetos.
- E esse curso é mais um gol de placa que nós conseguimos fazer, que é exatamente dar oportunidade para essas pessoas crescerem intelectualmente e profissionalmente - diz o secretário.
Ferruccio Feitosa acrescenta que as aulas serão realizadas até a data prevista para a conclusão do novo Castelão, ou seja, 31 de dezembro de 2012.
- As aulas vão abranger todos os funcionários. Vamos fazer um rodízio e até o fim das obras todos os operários vão receber conteúdo didático - afirmou.
Por falar em conclusão das obras, Ferruccio Feitosa frisou novamente que o Castelão pode ficar pronto antes do final deste ano.
- Se o ritimo continuar, tenho a certeza que vamos atingir a nossa meta, que é entregar o Estádio Castelão no dia 31 de dezembro ou até mesmo antes - concluiu.

Sonho concretizado
Luís Nobre, 54 anos, trabalhador de serviços gerais; Vicente Alves, 48 anos, serviços gerais; e Geraldo Nicolau, 48 anos, pedreiro, estão entusiasmados com as aulas e já estão projetando planos para o futuro.
- O meu sonho é tirar a minha carteira de habilitação. Acho que o que eu aprender na sala de aula vai me ajudar nisso - conta Luís Nobre.
Já Vicente Alves conta que, para crescer profissionalmente, é necessário ter conteúdo.
- Para quem quer crescer no emprego é muito importante ter estudo e graças a iniciativa estou tendo a chance de quem sabe crescer profissionalmente - reforçou Vicente.
Já Geraldo sonha em ler sozinho um livro inteiro.
- Quero ler alto e desembaraçado e se seguir o ritmo dos estudos como está sendo as obras do Castelão vou conseguir até o meio do ano - brincou.
Esse universo de possibilidades é o que aguarda o servente Márcio Roberto Carvalho Silva, 28 anos. Com olhos marejados, ele revela toda a sua emoção em começar a aprender a ler e a escrever.
- Eu nunca tinha tido essa oportunidade e agora estou tendo. Eu vou me dedicar muito - promete.
Pai de uma menina de 7 meses, Márcio se preocupa em garantir a ela as oportunidades que não teve na vida.
- Quem não sabe ler nem escrever, não sabe escutar nem enxergar. Depois que eu aprender, vou ter um mundo de conhecimento pra conquistar e esse exemplo eu quero deixar pra minha filha. Ela vai estudar tudo o que eu não pude - diz.

Aporte para os funcionários
Para o início do curso, o Consórcio forneceu aos alunos inscritos todo o material didático. Os trabalhadores também recebem lanche antes das aulas. Ao Sesi, cabe a destinação de professor capacitado para o projeto. Durante os dois primeiros meses do curso, os alunos serão avaliados para nivelar a escolaridade e, a partir de então, os módulos serão de acordo com o nível de escolaridade.

Para cada aluno que tiver 100% de frequência durante o mês, será fornecida uma cesta básica e duas horas extras sempre que o colaborador comparecer à aula, como forma de incentivo aos estudos.

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