segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Com ajuda de tri mundial, Brasil sonha com Paralimpíadas de Inverno

Fernando Fernandes incentiva prática de esportes de neve, mas foco é paracanoagem em 2016. Pela 1ª vez, país tem atletas de snow e cross country

Por Gabriele Lomba Rio de Janeiro
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Era um sonho antigo e que ganhou fôlego extra depois do sétimo lugar do Brasil no quadro de medalhas dos Jogos Paralímpicos de Londres. Pela primeira vez na história, o país tentará mandar atletas às Paralimpíadas de Inverno. Nesta semana, o triatleta Fernando Aranha disputará sua primeira competição no esqui cross country. André Cintra treina para a Copa do Mundo de snowboard. Para chegar a Sochi 2014, a dupla conta com uma ajuda de peso. Fernando Fernandes, ex-BBB e tricampeão mundial de paracanoagem, carregará a bandeira do paradesporto de neve. Está se aventurando no esqui alpino e no cross country, mas o foco dele é Rio 2016. E, claro, encorajar atletas a aprender modalidades de inverno.

- O Brasil tem condições de se tornar bem sucedido em qualquer esporte e em qualquer modalidade. Temos o mais importante: material humano. Temos excelentes atletas, como o Fernando Aranha, mas o que precisamos é de planejamento e incentivo, algo que o Comitê Paralímpico Brasileiro vendo proporcionando cada vez mais - conta Fernandes.
Fernando Fernandes (Foto: João Garschagen/TV Globo)Fernando Fernandes no esqui alpino (Foto: João Garschagen/TV Globo)
Uma série de coincidências levou Fernandes e Aranha aos esportes de inverno. Os dois são atletas de elite e estão em busca de vaga nos Jogos do Rio. Mas o pontapé do projeto paralímpico verde-amarelo começou um pouco antes, quando André Cintra, em meados deste ano, entrou em contato com a Confederação Brasileira de Desportos de Neve (CBDN) e participou do Campeonato Brasileiro, em Valle Nevado, no Chile.
- É o começo de um novo capítulo na história dos esportes de inverno. Todos estamos muito entusiasmados com essa possibilidade. Há muito tempo o Comitê Paralímpico Internacional estava nos "paquerando" para tentarmos mandar alguém, mas nós não tínhamos nenhuma pessoa. Quando o André entrou em contato, vimos ali uma boa oportunidade de tentar. Ensinar alguém depois de ter sofrido leão não é tão simples. Nos países que dominam o snowboard e esqui, a maior parte dos atletas já competia e migrou para o paradesporto depois de sofrerem algum tipo de lesão - explica Pedro Cavazzoni, superintendente técnico da CBDN.
snowboard André Cintra paralímpico (Foto: CBDN)André Cintra compete no snowboard (Foto: CBDN)
André teve de amputar a perna depois de um acidente de moto; Aranha ficou paraplégico aos 2 anos de idade, em decorrência da poliomielite; Fernando Fernandes, modelo, perdeu os movimentos em um acidente de carro - estava sem cinto de segurança.
O que Fernandes queria mesmo era praticar esqui alpino. A modalidade, porém, é muito mais técnica que o cross, onde o mais importante é a força física, e o movimento é parecido com o que os cadeirantes costumam fazer. Além disso, permite que os atletas treinem longe da neve, com cadeiras adaptadas. O ex-BBB vai treinar na neve, mas os esforços estão voltados verdadeiramente para Rio 2016, que marcará a estreia na paracanoagem.
No cross, seus pulmões chegam a congelar cada vez que você respira"
F. Fernandes
- Meu esporte é a canoagem e o objetivo maior é Rio 2016. Mas desde que me lesionei tive como meta e objetivo pessoal ajudar a desenvolver todos os esportes paralímpicos e adaptar os esportes que ainda não foram adaptados aqui no Brasil como motocross, etc...

Fernando Fernandes esquiou pela primeira vez para uma reportagem no programa "Esporte Espetacular". Ao conversar com a CBDN, quis testar o cross country também.
- O cross country é uma modalidade muito dura, ainda mais quando não se está acostumado com o frio. Seus pulmões chegam a congelar cada vez que você respira, já que é um esporte de resistência - conta.
esqui cross country Fernando Aranha paralímpico e Leandro Ribela (Foto: CBDN)Fernando Aranha e Leandro Ribela terinam em Oestersung (Foto: CBDN)
Especialista em endurance, Aranha foi logo apontado como potencial candidato a uma vaga em Sochi 2014. Até o mês passado, porém, nunca tinha treinado na neve. O início foi de luxo: ficou dez dias sob os cuidados da equipe sueca de esqui cross country adaptado, em Ostersung. Nesta terça, disputará uma etapa na Finlândia.
Além de treinar com um país especialista em esportes de neve, ele conta com o apoio de Leandro Ribela, atleta olímpico e coordenador técnico de cross country da CBDN. Os dois se conheceram na Universidade de São Paulo. Depois de ver como atletas de esqui treinavam, foi até lá para pedir uma ajuda: queria uma alternativa de treino para desenvolver sua forma de nadar. Foi então que soube da ideia de montar uma equipe paralímpica.
Da USP a Ostersund, a maior dificuldade não está no esqui adaptado ou na superfície escorregadia... e sim, no frio....
- Neste momento a maior dificuldade na adaptação é com relação ao frio, principalmente nas extremidades, pés. Nunca usei tanta veste. Tenho o histórico no triatlo, no ciclismo e na corrida de rua, sempre no endurance, o que tem me ajudado a enfrentar as atividades próprias do esqui cross country. Mas aprender as técnicas usadas neste esporte nada natural para brasileiros em tão pouco tempo é algo que acho muito difícil. Mas me sinto apto ao desafio. Certo que não serei campeão logo de cara, mas sem dúvida darei meu melhor pra tentar uma vaga nos Jogos Paralímpicos de Sochi - conta Aranha.
snowboard André Cintra paralímpico e Isabel Clark (Foto: CBDN)André Cintra e Isabel Clark (Foto: CBDN)
André está na Europa comprando e testando próteses. No snowboard, o equipamento é fundamental. As mais modernas têm um pistão que simula os movimentos de um joelho, travando em determinada angulação, de acordo com a força que a outra perna do atleta faz. O snowboarder seguirá depois para os Estados Unidos, onde deve competir duas etapas da Copa do Mundo em 2013.
No esqui e no snow, as principais forças são EUA e Europa Central - França, Suíça, Áustria, Alemanha e itália. No cross country se destacam também Noruega e Suécia.
- As chances de um resultado expressivo são muito boas nos Jogos Paralímpicos de Inverno. Algumas modalidades começaram há pouco tempo, então está todo mundo mais perto do zero. E os países favoritos não estão tão à frente dos que estão começando agora - explica Pedro Cavazzoni.

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