quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Carro de batida com mortes no Dakar é de equipe com mutilados de guerra

Veículo que colidiu com táxi no Peru transportava time Race2Recovery, formado por militares feridos em conflitos no Afeganistão, Golfo e Malvinas

Por GLOBOESPORTE.COM Tacna, Peru
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Integrante brinca com perna mecânica de companheiro de time da Race2Recovery (Foto: Divulgação)Birchall brinca com perna mecânica de Neathway
dias antes do acidente (Foto: Divulgação)
O carro que se envolveu no acidente com dois táxis que resultou na morte de duas pessoas na noite desta quarta-feira em Tacna (Peru) pertence à equipe Race2Recovery (um jogo de palavras que forma a expressão “Corrida para recuperação”). O time do Rally Dakar é formado por ex-militares que sofreram lesões em guerras, como as do Afeganistão, do Golfo e das Malvinas e compete com o lema "Além das lesões, alcançando o extraordinário".
A batida aconteceu após o quinto dia de competições da edição 2013 a 10km da fronteira com o Chile. A Land Rover que transportava três integrantes da equipe colidiu de frente com um táxi, resultando na morte de um motorista e um passageiro. Um outro táxi tentou desviar do acidente e acabou capotando. Ao todo, dez pessoas ficaram feridas.
Um homem não se mede pela forma como cai, mas sim pela forma como se levanta"
Tony Harris,
chefe da  Race2Recovery
Das vítimas, três pertencem à equipe Race2Recovery: o piloto Justin Birchall (foto acima), um voluntário civil de 40 anos que já havia abandonado o rali; o engenheiro mecânico Lee Townsend, ex-combatente das guerras do Golfo e das Malvinas; e o engenheiro logístico John Winskill, Major aposentado do exército, de 42 anos. Todos são britânicos.
Eles foram transferidos para um hospital de Tacna e depois transportados para outro hospital em Lima, capital do Peru. Segundo a assessoria, os integrantes estão conscientes, com quadro estável e não correm risco de morte.
- Nossos corações estão com as famílias e parentes daqueles que morreram neste trágico acidente. Oferecemos nossas condolências e solidariedade. Toda nossa equipe foi recebida com muita amizade e simpatia do povo peruano desde que chegou para o Dakar – disse Tony Harris, capitão da equipe.
acidente Rally Dakar  (Foto: Reprodução / Libero.pe)Duas pessoas morreram no acidente envolvendo dois táxis e o carro do time (Foto: Reprodução / Libero.pe)
Apesar do acidente com o carro de apoio da equipe, Harris afirmou que as outras três duplas da Race2Recovery continuarão na competição.
- Decidimos antes mesmo de começarmos que continuaremos com nosso esforço. O acidente é, obviamente, um choque enorme, mas sabemos que temos a benção dos feridos. Eles querem que o time chegue ao fim da competição – completou.
Time conta também com ex-soldados com danos psicológicos e problemas respiratórios
Integrantes da equipe Race2Recovery: Phillip Gillespie, Tom Neathway, Tim Read, John Winskill, Andrew Taylor, Whittingham Daniel, Mark Zambon y Tony Harris. (Foto: Divulgação)Integrantes da equipe Race2Recovery: Phillip Gillespie, Tom Neathway, Tim Read, John Winskill, Andrew Taylor, Whittingham Daniel, Mark Zambon e Tony Harris. (Foto: Divulgação)
Chefe e um dos fundadores da equipe, o britânico Tony Harris é um dos ex-combatentes que possui ferimentos de guerras. Apesar de ter que se aposentar do exército em razão da amputação de parte da perna esquerda (decorrência de um explosão enquanto patrulhava a cidade de Sangin, no Afeganistão), a palavra “inválido” passa longe do dicionário dele e de seus companheiros de equipe. Com o auxílio de uma prótese, Harris disputa o Dakar e diversos outros ralis pelo mundo com um QT Wildcat.
A Race2Recovery possui 28 integrantes. Dentre eles, não há apenas ex-militares que perderam membros em conflitos, mas também soldados que possuem lesões na coluna, danos psicológicos e problemas respiratórios decorrentes de guerra, além de voluntários civis. O time é composto, em sua maioria, por britânicos, exceto o francês Derousseaux Cathy (co-piloto de Harris) e os norte-americanos Mark Zambon e Tim Read.
Ex-fuzileiro naval, sargento norte-americano Mark Zambon (Foto: Divulgação)Ex-fuzileiro naval, sargento Mark Zambon é um dos dois norte-americanos do time (Foto: Divulgação)
Na edição 2013 do Dakar, a Race2Recovery conta com quatro duplas a bordo de quatro  veículos QT Wildcats competindo, três caminhões de assistência (um 4x4 e dois 8x8) e mais três Land Rovers para transporte. E foi justamente uma dessas Land Rovers que se envolveu no acidente desta quarta-feira. Nela estava Justin Birchall, voluntário civil de Lancashir (Inglaterra) e um dos pilotos da equipe. Ele havia abandonado o Dakar dias antes após ter problemas mecânicos no carro e apenas acompanhava o certame. Na competição, Birchall era auxiliado pelo navegador Tom Neathway (primeira foto), de 29 anos, um ex-paraquedista que perdeu as duas pernas após pisar em uma mina terrestre no Afeganistão.
A equipe também compete para arrecadar fundos para o Centro de Recuperação Casa Tedworth, que presta terapia física e psicológica a soldados para reintegra-los à sociedade. Antes de embarcar para o Dakar, o chefe Tony Harris declarou em entrevista ao jornal peruano “La Republica” que “um homem não se mede pela forma como cai, mas sim pela forma como se levanta”. Palavras ainda mais importantes neste momento difícil enfrentado pela equipe.

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