sábado, 3 de agosto de 2013

Torcedores do Corinthians libertados na Bolívia chegam a São Paulo

Justiça boliviana solta últimos cinco torcedores que estavam presos em Oruro enquanto eram investigados pela morte de um garoto de 14 anos

Por Maria Clara Ciasca São Paulo
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cleuter oruro corinthians (Foto: Maria Clara Ciasca )Cleuter Barreto Barros, no desembarque em
Guarulhos (Foto: Maria Clara Ciasca )
Após 156 dias presos na Penitenciária de San Pedro, em Oruro, os cinco corintianos libertados na última sexta-feira, pela Justiça da Bolívia, chegaram a São Paulo no início da tarde, no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos. São eles: Cleuter Barreto Barros, Leandro Silva de Oliveira, José Carlos da Silva Júnior, Marco Aurélio Nefreire e Reginaldo Coelho.
Eles e outros sete, libertados em junho, eram acusados da morte do garoto Kevin Espada, atingido por um sinalizador marítimo durante jogo entre Corinthians e San José, no dia 20 de fevereiro, pela primeira fase da Libertadores. A defesa dos 12 sempre alegou que eram todos inocentes. Um menor, de 17 anos, assumiu a autoria do disparo em depoimento à Vara da Infância e da Juventude de Guarulhos, onde vive, e também no Consulado da Bolívia em São Paulo, mas ainda aguarda o julgamento do caso em liberdade.
O menor H.A.M., que assumiu a autoria do disparo, queria ir ao aeroporto receber os torecedores, mas foi impedido pela direção da Gaviões para 'ser preservado'
– É o dia mais feliz da minha vida – disse Cleuter, cuja família é de Manaus, e, por isso, não encontrou ninguém a sua espera no aeroporto, apenas alguns amigos da torcida organizada a qual pertence.
– É uma felicidade maior do que quando o Corinthians ganhou a final da Libertadores. O juiz ficava enrolando, enrolando... era para a gente sair há um tempo, mas nunca saía – emendou.
De acordo com Adauto de Oliveira, diretor da Gaviões, o menor H.A.M., que assumiu a autoria do disparo, queria ir ao aeroporto receber o torcedores, mas acabou sendo impedido pela organizada. Coincidentemente, ele tem um irmão chamado Kevin.
– Ele queria vir pra cá, mas achamos melhor preservá-lo. É um menino super do bem, de grande futuro, mas que errou. Demos um puxão de orelha por ele ter sido irresponsável no uso do sinalizador – disse o diretor da Gaviões.
– A gente queria fazer uma festa pela chegada deles, mas somos solidarios à causa. Ficou uma tristeza muito grande pela morte do menino – emendou.
marco aurelio oruro corinthians (Foto: Maria Clara Ciasca )Marco Aurélio Nefreire, no desembarque no aeroporto de Guarulhos (Foto: Maria Clara Ciasca )
Um dos mais emocionados era Marco Aurélio. Preso na Bolívia, ele não viu Pedro Henrique nascer. Conheceu o filho neste sábado, no aeroporto.
É felicidade maior do que quando o Corinthians ganhou a
Libertadores"
Cleuter Barros, torcedor que estava peso
– Queria agradecer todo mundo que nos ajudou, o Corinthians, a Embaixada, a torcida, até o pessoal na bolivia. Sabíamos que não tínhamos culpa, nossa consciência estava tranquila. A felicidade é bem maior que a de um titulo. Sabia que ele (Pedro Henrique) estava pra nascer, na noite que nasceu não consegui dormir. Felicidade por ser saudável, mas tristeza por nao ter acompanhado – disse Marco Aurélio, chorando.
No aeroporto de Guarulhos, cerca de 50 pessoas, entre torcedores e familiares, aguardavam ansiosamente para reencontrar os torcedores. Nos minutos de espera, muito batuque, gritos de "o pesadelo acabou" e esperança de que o triste episódio sirva de lição.
– Foi uma aflição muito grande porque toda hora achávamos que eles seriam libertados, mas sempre acontecia alguma coisa e não dava certo. Espero que agora ele se acalme um pouco, vá em menos jogos e fique mais com a família – afirmou Adriana Torres, prima de José Carlos da Silva Júnior.
Júnior, torcedor do Corinthians (Foto: Maria Clara Ciasca)Júnior, torcedor do Corinthians libertado na
Bolívia (Foto: Maria Clara Ciasca)
Júnior, como é conhecido entre os familiares, falou rapidamente sobre o período preso em Oruro e disse que não conseguiu dormir desde que recebeu a informação que poderia retornar ao Brasil.
– Aprendi a valorizar as coisas, a minha família e minha namorada. Nem dormi quando soube que ia sair – disse.
'Bolívia, nunca mais'
Tadeu Macedo Andrade, um dos sete que foram soltos em junho, fez questão de ir ao aeroporto acompanhar a chegada dos outros cinco.
– Hoje minha felicidade está completa, por saber que todo aquele sofrimento finalmente acabou, e eles vão poder almoçar com a familia – disse Tadeu.
– Acabou o processo. Estávamos lá para a investigação, não vai ter julgamento, está todo mundo absolvido, acabou tudo – emendou.
Tadeu disse que o grupo não pensa em processar a Justiça boliviana.
– Os países chegaram a um acordo para a gente ser solto, é diplomacia, então só quero encerrar tudo isso – disse Tadeu.
– A rotina voltou ao normal, já estou trabalhando e fui a todos os jogos em São Paulo. Ainda não viajei porque minha família não quer, mas daqui a um tempo vou voltar a ir nos jogos fora. Só não volto mais para a Bolivia, nunca mais – emendou.
Reginaldo, torcedor do Corinthians (Foto: Maria Clara Ciasca)Reginaldo, um dos torcedores libertados (Foto: Maria Clara Ciasca)
Entenda o processo
O grupo estava detido devido à morte de Kevin Douglas Beltrán Espada, garoto boliviano de 14 anos vitimado por um sinalizador atirado na partida entre San José e Timão, na  estreia alvinegra na Taça Libertadores da América, no dia 20 de fevereiro. No total, foram 12 presos. Sete deles foram liberados no dia 6 de junho, por falta de provas.
Em 24 de julho, Davi Gebara Neto, advogado da Gaviões da Fiel, principal torcida organizada do Corinthians, anunciou a liberação dos cinco torcedores que ainda permaneciam presos em Oruro. Entretanto, eles permaneceram na Bolívia por cerca de uma semana, pois a Justiça concedeu um período para que a família de Kevin e o San José pudessem recorrer da decisão.
Tadeu Macedo, torcedor do Corinthians (Foto: Maria Clara Ciasca)Tadeu Macedo, um dos que haviam sido libertados
antes, foi ao aeroporto (Foto: Maria Clara Ciasca)
Todos os 12 se dizem inocentes. Um jovem de 17 anos, identificado apenas como H.A.M., assumiu a autoria do crime, mas nada foi alterado no processo. Ele depôs na Vara da Infância e no Consulado da Bolívia em São Paulo, mas ainda aguarda o julgamento do caso em liberdade.
Devido à morte de Kevin, o Corinthians sofreu uma punição da Conmebol. O time chegou a jogar uma partida da Libertadores com os portões fechados e não pôde contar com sua torcida nos jogos como visitante. No início de julho, a Conmebol voltou atrás e permitiu a presença de corintianos no Morumbi, para a primeira decisão da Recopa, contra o São Paulo.
Livre de qualquer pena esportiva, o clube alvinegro, na figura de seu presidente, Mário Gobbi, acompanhou de perto a situação dos torcedores presos, trabalhando em parceria com o Ministério da Justiça. Na sexta, com a informação da liberação dos corintianos, o Timão emitiu nota oficial comparando a felicidade com a conquista de um título. À família de Kevin Espada, o Corinthians doou US$ 50 mil.
 Leonardo Silva, torcedor do Corinthians (Foto: Maria Clara Ciasca) Leonardo Silva é recepcionado por outros torcedores do Corinthians (Foto: Maria Clara Ciasca)

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