segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Lutador, técnico e 'pai de 40', Cristiano Marcello quer contar histórias em livro

Ex-Chute Boxe e dono da CM System investe em seus alunos com paciência. Ele relembra bastidores da carreira, como briga em parque de Curitiba

Por Rio de Janeiro
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Cristiano Marcello era um dos pilares da Chute Boxe na época em que a equipe teve seu auge. O carioca treinou o jiu-jítsu de nomes como Wanderlei Silva e Maurício Shogun e conciliou a função com a de lutador profissional de MMA. Hoje, aos 35 anos, ele compete no UFC, feito que conquistou após participar do reality show "The Ultimate Fighter" nos EUA, e tem seu próprio time, a CM System, onde se diz "pai" de 40 atletas. Nesses anos todos foram várias histórias, a mais famosa delas em 2005, nos bastidores do Pride, quando Cristiano se envolveu em uma briga com Charles "Krazy Horse" Bennett ao defender Wand em uma discussão e "apagou" o americano com um triângulo. A ideia dele é escrever um livro para contar outras curiosidades:
Cristiano Marcello lutador do UFC (Foto: Ivan Raupp)Cristiano Marcello deve voltar ao octógono no início de 2014 (Foto: Ivan Raupp)
- Não conheço, posso estar enganado, mas sou o único cara que já lutou Pride, UFC e participou do TUF como atleta, não como técnico. Então, acho que tenho alguma coisa para contar. Passei pelo jiu-jítsu, pelo vale-tudo, e hoje em dia estou no UFC. Vivi o auge do Pride. Vi tudo isso acontecer. Tenho muita história, e pessoas vão me ajudar a lembrar isso. Acho que vai ser um livro interessante - disse Cristiano Marcello ao Combate.com.
Eu tinha essa responsabilidade como técnico (na Chute Boxe). Parei de lutar por dois anos e
meio, e depois voltei a lutar
sendo técnico. Então, consigo administrar isso muito bem. Agora, além disso, sou pai, e
pai de 40, né?"
Cristiano Marcello, sobre a CM System
O lutador contou um dos episódios que o marcou, quando "apagou" mais um, desta vez um treinador da academia de José "Pelé" Landi que queria resolver as coisas da maneira antiga:
- Uma vez tive uma desavença com um cara de Curitiba, que na época era técnico na academia do Pelé. O Pelé, como muito sujeito homem, disse que o cara estava com problema comigo e chegou para o Rafael (Cordeiro) um dia na Chute Boxe falando que o cara queria sair na porrada. Nós fomos para o parque. No meu carro foram o (Jorge Patino) Macaco, o Roberto Piccinini, que dava aula na Chute Boxe dos EUA na época, o Rafael Cordeiro e o Nadim Andraus. Fomos no carro, aí ligaram para um policial, o Mendes, amigo em comum, para não ter aquela coisa generalizada. No parque chegamos às vias de fato. Eu botei o cara para dormir e morreu a história.
E Cristiano espera ter muito mais histórias para contar a partir de seus alunos da CM System, em Curitiba, em quem está investindo com força. Orgulhoso, ele está vendo os resultados aos poucos e tem paciência para o longo prazo. A seguir, confira a estrevista na íntegra:
COMBATE.COM: Sua última luta foi em março. Quando espera voltar ao octógono?
CRISTIANO MARCELLO: Meu empresário tem falado com o Joe Silva (matchmaker do UFC), e acredito que será alguma coisa para o final deste ano ou início do ano que vem. Como eu tenho falado, queria botar a casa em ordem na CM System. Graças a Deus, foram 39 lutas e 33 vitórias. Só nos meses de agosto e setembro serão 14 ou 15 lutas. Essa rapaziada que tenho construído desde o zero vai começar agora a mostrar o trabalho que vem sendo feito.
Cristiano Marcello na luta do UFC contra Kazuki Tokudome (Foto: Getty Images)Cristiano vem de derrota para Kazuki Tokudome no UFC Japão. Ele tem cartel 13-5 (Foto: Getty Images)
Você agora está mais focado em ser treinador do que lutador?
Minha carreira foi sempre dividida nisso. A verdade é que comecei na Chute Boxe quando só tinha o Wanderlei (Silva) estourado, lutando fora. Na época ele tinha ganhado uma luta do Sakuraba. Fiz ele ser campeão do Grand Prix (do Pride). Vários outros passaram pela minha mão. Ajudei a fazer Cris Cyborg, (Murilo) Ninja... Eu tinha essa responsabilidade como técnico. Parei de lutar por dois anos e meio, e depois voltei a lutar sendo técnico. Então, consigo administrar isso muito bem. Agora, além disso, sou pai, e pai de 40, né? Eu me viro nos 30, é uma coisa que gosto de fazer, e consigo administrar isso bem.
Você está com 35 anos. Pretende lutar até quando?
Acho que sigo lutando enquanto eu conseguir competir e estiver conseguindo fazer três rounds tranquilo. Sempre me cuidei muito bem. Não penso em me aposentar. Eu vejo as coisas acontecerem, mas não faço planos. Eu boto um ponto lá em cima da montanha e vou percorrendo sem muito estudo. Vou mais no meu "feeling" e no bom senso. Acho que é assim com a luta também. Enquanto eu conseguir treinar com os meninos da academia de igual para igual, eu tenho condições de estar lá.
Como é o seu investimento na CM System? Tem lucro ou prejuízo?
Não tenho lucro nenhum. Só de luz e internet, tudo o que for gastar, vai ter que lutar todo mundo para pagar os 15% (risos). Não tenho nada a esconder. Ainda bem que tenho um sócio que acredita nisso e não vê só o lucro imediato, que é o Crisanto. Então, é tranquilidade. Vamos abrir mais dois alojamentos, e atualmente são 23 morando lá. Vamos chegar na capacidade de 30 moradores. A gente está realmente acreditando que isso vai render frutos. Mas agora não. Não é prejuízo porque eu, como atleta do UFC, teria que pagar camp (preparação para uma luta), e lá não tem essa história. Não tem estrela. Todo mundo ajuda o outro no treino. Estamos vendo a longo prazo. Não sei quem foi o grande empresário que falou isso: o negócio vai dar certo de cinco a sete anos. O meu tem quatro e já está fluindo. Não tenho pressa ou desespero de ter um cara no UFC só por estar lá. Quero que ele chegue e fique, não para fazer número.
Cristiano Marcelo treino MMA (Foto: Reprodução/Twitter)Cristiano (em pé ao centro, de camisa branca do UFC), e os 'filhos' (Foto: Reprodução/Twitter)
Você está com a ideia de escrever um livro? Tem muita história para contar?
Acho que tenho. Vivi dentro da família Gracie desde os 12 anos de idade. Tive a oportunidade de morar com o melhor nome do jiu-jítsu, Rickson Gracie, na casa dele. O cara é uma lenda, aprendi muito com o modo dele de viver e pensar. Tive a felicidade de conviver com o Royler Gracie, o maior competidor da família Gracie, no meu modo de ver. E teve a Chute Boxe em seu auge. Tive a oportunidade de viver e saber o que era ser um atleta de lá. Tenho essas histórias. Não conheço, posso estar enganado, mas sou o único cara que já lutou Pride, UFC e participou do TUF como atleta, não como técnico. Então, acho que tenho alguma coisa para contar. Passei pelo jiu-jítsu, pelo vale-tudo, e hoje em dia estou no UFC. Vivi o auge do Pride. Vi tudo isso acontecer. Tenho muita história, e pessoas vão me ajudar a lembrar isso. Acho que vai ser um livro interessante. Não vou querer criar polêmica, vou contar fatos e a visão do Cristiano Marcello.
Independentemente de termos negócios diferentes, vai haver o respeito, mesmo não tendo mais aquele grau de afinidade. Eu tenho ótimas lembranças da Chute Boxe daquela época.  Acho que a vida continua. O princípio de tudo
é o respeito"
Sobre relação atual com ex-companheiros
Um fato famoso seu foi aquele vídeo finalizando o Krazy Horse nos bastidores do Pride. Tem alguma coisa parecida com isso?
Tenho bastante. Invasão de academia... Uma vez tive uma desavença com um cara de Curitiba, que na época era técnico na academia do Pelé. O Pelé, como muito sujeito homem, disse que o cara estava com problema comigo e chegou para o Rafael (Cordeiro) um dia na Chute Boxe falando que o cara queria sair na porrada. Nós fomos para o parque. No meu carro foram o (Jorge Patino) Macaco, o Roberto Piccinini, que dava aula na Chute Boxe dos EUA na época, o Rafael Cordeiro e o Nadim Andraus. Fomos no carro, aí ligaram para um policial, o Mendes, amigo em comum, para não ter aquela coisa generalizada. No parque chegamos às vias de fato. Eu botei o cara para dormir e morreu a história. Parada de sujeito homem mesmo, como se resolvia antigamente. Isso é um dos fatos, e são vários outros.
Como é sua relação hoje com os caras da Chute Boxe?
Cada um seguiu seu caminho. Uma coisa que é inegável é que todo mundo teve uma história junto. Independentemente de termos negócios diferentes, vai haver o respeito, mesmo não tendo mais aquele grau de afinidade. Eu tenho ótimas lembranças da Chute Boxe daquela época.  Acho que a vida continua. O princípio de tudo é o respeito. Do jeito que o esporte está hoje em dia não tem como não ser dessa maneira.
Você não se dava bem com alguém da Chute Boxe? Quem?
Ah, sempre tem, né? Todo lugar tem pessoas que, ou por inveja ou por questões de achar que o seu jeito não é o certo... Sempre vai haver divergências. Minha mãe sempre me falou uma coisa: "Meu filho, você sendo um elefante numa floresta, é impossível não pisar numa formiga". É o que acontece. Você às vezes por não dar uma atenção à pessoa, nem por maldade, a pessoa se sente inferiorizada, como se você estivesse fazendo algum mal.
Cristiano Marcello e Reza Madadi, Pesagem UFC Rio III (Foto: André Durão / Globoesporte.com)Cristiano e Reza Madadi discutem na pesagem do UFC Rio III (Foto: André Durão / Globoesporte.com)
E o Reza Madadi? Você já teve uma luta tensa contra ele, que foi preso por roubar bolsas e consequentemente demitido do UFC. O que achou disso?
Isso me surpreendeu muito, porque é um cara realmente muito duro e muito bom. Na Suécia só é menos popular do que o (Alexander) Gustafsson. Mas eu costumo falar: quem sou eu para julgá-lo? Deve ter tido seus motivos. Só que quem fez coisa errada tem que pagar. De maneira nenhuma eu quero crucificá-lo ou falar alguma coisa para depreciar a imagem dele. Mas cada um tem que assumir seus atos. Então, só tenho a lamentar.

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