quarta-feira, 25 de junho de 2014

Ganês descarta W.O. contra Portugal: 'Jogaremos mesmo sem dinheiro'

Técnico James Appiah explica boicote e diz que situação vai ser resolvida nesta quarta-feira. Meia Atsu descarta a possibilidade de o time não entrar em campo

Por Brasília, DF
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Duas noites sem dormir, muitas reuniões e negociações. O técnico de Gana, James Appiah, explicou em entrevista coletiva, nesta quarta-feira, em Brasília, o boicote organizado pelos jogadores da seleção africana, que cobram o pagamento da premiação para a disputa da Copa do Mundo. Na última terça-feira, os atletas se recusaram a treinar e deixaram um representante da Fifa esperando a delegação no local que deveria acontecer a atividade, no CT dos Bombeiros, em Brasília. A atitude serviu como um ultimato à Associação Ganesa de Futebol para resolver o problema. E o pagamento está previsto para acontecer até o fim do dia na concentração
Sempre calmo e sereno nas respostas, James Appiah espera que a situação esteja resolvida nas próximas horas. Os jogadores não aceitaram que o pagamento fosse feito via transferência bancária e exigiram dinheiro vivo. A quantia, que gira em torno de US$ 3 milhões (cerca de R$ 6,7 milhões), está vindo para Brasília após o presidente do país africano, John Dramani, se comprometer com os atletas de que resolveria o problema. 
Falo para eles esquecerem a parte financeira. Mas é difícil
Appiah
- Há uma questão sobre o pagamento da premiação, mas o governo do país e a federação estão cuidando disso. E vai ser solucionado em duas ou três horas. Isso deveria ter sido resolvido antes, mas não foi. (...) Não durmo há duas noites. Não é o melhor cenário para mim. Como disse antes, isso deveria ser resolvido antes da competição. E não posso mais ficar repetindo para eles "o dinheiro vai chegar, o dinheiro vai chegar". Falo para eles esquecerem a parte financeira. Mas é difícil. Agora o presidente de Gana interveio na questão e vai ser resolvido (...) Receber o dinheiro vai motivá-los - disse James Appiah.
Appiah e Christian Atsu, coletiva Gana (Foto: Reuters)Técnico James Appiah e o meia Christian Atsu durante a coletiva Gana nesta quarta-feira, em Brasília (Foto: Reuters)

Questionado se a seleção de Gana não entraria em campo se o pagamento não fosse realizado, o meia Christian Atsu, de 22 anos, garantiu que esta possibilidade não vai acontecer. E prometeu que o time vai lutar pela classificação para as oitavas de final.
- Estamos na maior competição do mundo. Mesmo que o dinheiro não chegue, vamos esquecer tudo e entrar em campo. Não vamos deixar de jogar se o pagamento não acontecer. O que houve foi uma decisão importante que tomamos. Agora, isso passou. Amamos a nossa nação e queremos jogar por ela - disse o jogador do Chelsea, da Inglaterra.
Appiah admitiu que a questão atrapalha a preparação para o jogo decisivo contra Portugal. Aos 53 anos, ele treina a seleção desde abril de 2012 e foi o primeiro treinador local a qualificar o Gana para uma Copa do Mundo. Durante toda a coletiva, ele procurou defender os jogadores dos comentários de que estão colocando a parte financeira à frente do sonho de disputar uma Copa do Mundo e defender as cores do país africano. Ele explicou também que o impasse aconteceu porque a Fifa distribui o dinheiro às federações somente depois da Copa, mas as nações africanas têm por hábito pagar os atletas antes. 
- É um direito dos jogadores receber o dinheiro e foi prometido que o pagamento aconteceria antes de vir para o Brasil. É o mesmo dinheiro pago aos jogadores do mundo inteiro. A Fifa repassa o dinheiro para os países, que pagam os jogadores. Seria certo receber algo que foi prometido. Mas os jogadores estão focados. Vamos deixar isso para trás e entrar em campo para dar o melhor de nós. Defender cores da nossa bandeira é nosso grande objetivo. 
Segurança não preocupa Atsu
Outra curiosidade dos jornalistas era saber por que os jogadores exigiram o pagamento em espécie, quando seria muito mais simples e rápido realizar uma transferência bancária. Appiah explicou que isso tem relação com a cultura do país. 
- A prática em Gana sempre foi pagar em dinheiro, e não por transferência bancária. Alguns jogadores nem têm conta em bancos em Gana. O sistema (bancário) é todo diferente do que vocês estão acostumados na Europa. Mas é uma prática comum entre a gente - disse.
O jogo contra Portugal é decisivo para Gana, mas ficou em segundo plano. O principal assunto da coletiva girava em torno do dinheiro. Diante dos diversos questionamentos sobre a polêmica da premiação, o representante da Fifa deu uma pausa nas perguntas para o técnico James Appiah, relembrou a todos os jornalistas que o jogador Christian Atsu também estava presente na sala e resolveu fazer uma pergunta básica e ele sobre a partida: "Atsu, o que você espera da partida contra Portugal?"
- Todos os jogadores estão focados na partida contra Portugal. Tivemos uma reunião com nosso capitão e mostramos que estamos focados. Sabemos que essa partida é muito importante para o nosso povo - respondeu o jogador, meio sem graça.
O personagem mudou, mas o foco seguiu o mesmo. Após a "pergunta oficial", o boicote e a ameaça de greve voltaram aos holofotes. Atsu admitiu que a pressão em cima da seleção agora é muito maior após o episódio. Um fracasso em campo pode significar muitas críticas aos jogadores, que poderiam ser chamados de "mercenários". 
Para os jogadores seria ruim uma derrota, já que as pessoas vão culpar a questão financeira. Não temos mais opções. Precisamos vencer de qualquer forma e fazer nosso povo orgulhoso
Atsu
- A partida é muito importante para todos os ganeses, não só para os jogadores. Para os jogadores seria ruim uma derrota, já que as pessoas vão culpar a questão financeira. Não temos mais opções. Precisamos vencer de qualquer forma e fazer nosso povo orgulhoso.
Questionado se ele não estava preocupado com a segurança, já que com o pagamento da premiação teria muito dinheiro em mãos, Atsu mostrou-se tranquilo. E riu quando foi perguntado onde iria guardar tantas notas e se colocar "debaixo do colchão" era uma possibilidade. 
- É uma pergunta difícil para mim (risos). A gente vai guardar na nossa bolsa e vamos ter que trancar em algum lugar, né? E depois vamos transferir o dinheiro para nossas contas bancárias.
Antes da coletiva, Dramani Mahama, presidente da Associação Ganesa de Futebol, anunciou por meio de nota oficial que o pagamento aos jogadores será feito nesta quarta. Em meio à turbulência nos bastidores com o incômodo acerto financeiro entre dirigentes e jogadores, a seleção vive o momento mais importante na Copa. O time ganês precisa vencer Portugal, nesta quinta-feira, em Brasília, por dois gols de diferença e ainda torcer por uma vitória simples da Alemanha sobre os Estados Unidos, em Pernambuco.

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