Gilbert Durinho: de pupilo do técnico de Spider a treinador de Vitor Belfort
Niteroiense relembra quando teve de sair da academia de Ramon Lemos ao aceitar convite do Fenômeno. "Acho que minha escolha foi muito boa", diz
Naquela altura o duelo entre Vitor e Anderson já havia acontecido. Poucos meses depois, Durinho se tornaria campeão mundial de jiu-jítsu e, por meio de um patrocinador comum, conheceu Belfort. Eles fizeram um treino juntos e de cara se deram bem. O Fenômeno, então, fez o convite. Durinho seria seu treinador na arte suave e seu aluno no MMA.
Vitor Belfort comemora uma das primeiras vitórias de Gilbert Durinho no MMA (Foto: Reprodução / Twitter)
- Na hora eu aceitei. Vi duas oportunidades, a do MMA e também a
financeira. E também tem a questão da mídia, pois eu ia treinar o Vitor
Belfort. Daria uma mídia boa, o Vitor ia me pagar um bom dinheiro, e eu
ia lutar MMA. Aceitei de imediato. Aí fui comentar com o Ramon, e ele
não gostou muito, pois já era treinador do Anderson Silva. Mas eu achei
uma ótima oportunidade na época e resolvi abraçar. Aí tive que escolher,
ou ficar na Atos treinando jiu-jítsu e buscar um espaço no MMA pelo
Ramon, ou treinar com o Vitor. Acho que minha escolha foi muito boa -
disse, em entrevista por telefone ao Combate.com.Durinho conta que, apesar da ligação com Ramon, nunca treinou com Anderson. E não guarda mágoa do ex-treinador pela forma como saiu. Ele enxerga a mudança com naturalidade:
- Aprendi muito com o Ramon. Evoluí muito no jiu-jítsu com ele. Mas é que nem pai e mãe. Você não vai ficar na casa deles a vida toda, tem que viver sua vida. Achei a oportunidade e resolvi agarrar. Ainda tenho amizade com todo mundo da Atos. Foi um caminho natural que segui. Sou grato ao Ramon por tudo. Nós não nos encontramos muito depois disso, mas ainda temos um respeito fortíssimo um pelo outro.
Jiu-jítsu "por acaso"; apelido estranho
Bem antes de entrar para a equipe de Ramon Lemos, o primeiro contato de Durinho com as artes marciais não foi no jiu-jítsu. Ele começou no caratê, aos 4 anos, em Niterói-RJ, e competiu no esporte até os 8. O jiu-jítsu entrou na vida do niteroiense "por acaso".
O pai, Herbert Burns, trabalhava com estofado de automóvel, e um dia o filho Gilbert achou um quimono com faixa vermelha e preta dentro de um carro. Seu Herbert conversou com o dono da faixa, um professor de jiu-jítsu, e fez uma proposta: em vez do pagamento pelo serviço prestado, pediu uma bolsa na academia para os três filhos, Gilbert, Frederic (o mais velho) e Herbert (o mais novo, com o mesmo nome do pai e que também virou lutador de MMA), que brigavam muito em casa e precisavam de mais distração para gastar as energias. O professor aceitou e deu bolsa de três meses para o trio. O pai os incentivou a dar o melhor, pois não poderia pagar a mensalidade após o fim do período grátis. Os resultados apareceram rapidamente, e o mestre os deixou seguir com a bolsa.
Durinho (à dir.) com Ramon (centro), Bruno Frazatto (à esq.) e os irmãos Mendes (Foto: Arquivo pessoal)
Já o apelido de "Durinho" foi uma "herança" do irmão mais velho. Por
seu estilo arrojado, Frederic passou a ser chamado por Vitor "Shaolin"
Ribeiro de "Todo Duro". Quando Gilbert disse ao mesmo Shaolin seu nome
em voz alta, não gostou do que ouviu na sequência:- Quê? Gilbert? Você não é o irmão do Todo Duro? Então você é o Durinho - recordou o lutador, que não gostou do apelido e acredita que exatamente por isso ele pegou tão facilmente.
Erros na estreia no UFC; Blackzilians
Hoje, aos 28 anos, Gilbert Durinho é um lutador do UFC. A estreia ocorreu em julho, em San Jose (EUA), com vitória por decisão unânime sobre o sueco Andreas Stahl. Da primeira luta de MMA, em janeiro de 2012, até agora, foram oito combates no total, e ele venceu todos. Durante esse período, o maior problema foi com o peso, pois ele não conseguiu bater os 70kg da categoria dos leves algumas vezes. Por isso, a estreia no Ultimate foi com mais segurança, nos meio-médios (até 77kg). Essa divisão, no entanto, foi reprovada por Durinho:
- Estou treinando, me dedicando. Mesmo vencendo a luta, vi que cometi muitos erros. Estou trabalhando isso. O primeiro erro foi o peso, porque tenho um pouco de dificuldade de bater 70kg. O Vitor, o meu médico, a gente tinha essa dúvida se minha performance seria melhor nos 77kg. Mas tive que fazer muita força. Meu adversário era mais pesado e mais forte. Cometi alguns erros por não estar igual a ele no peso e na força. E cometi erros de wrestling. Poderia ter derrubado em algumas ocasiões. Quando derrubei, não consegui trabalhar no chão. Estava escorregando muito, tinha muito sangue. Acho que dava para ter aproveitado mais as chances na trocação também. Faltou um pouco de experiência. Sou bem perfeccionista e gosto das coisas nos mínimos detalhes. Vou melhorar no que eu puder. Quero ser o melhor.
Lutador vibra com triunfo em sua estreia no UFC (Foto: Kyle Terada-USA TODAY Sports / Reuters)
Durinho aponta um fator determinante para sua evolução no MMA: a ida
para a Blackzilians junto dos amigos Vitor Belfort e Cezar Mutante.
Segundo ele, o que mais tem por lá é material humano:- Ganhei muita experiência vindo para cá, porque tem muito atleta do UFC aqui. Todas as terças e quintas tem UFC aqui, só não vai para o Sherdog (risos). Acho que evoluí bastante. Cheguei ao UFC com um pouco de bagagem. Eu já treinava com o Vitor. Cheguei aqui e encontrei muitos sparrings. Treinei muito com o Eddie Alvarez, com o Gesias (Cavalcante), com o Cosmo (Alexandre), o Abel Trujillo, Michael Johnson, Vitor, Cezar... Tem muito material humano. É o conjunto, e esse é o diferencial da Blackzilians.
A próxima luta de Durinho será de volta aos leves, no UFC 179, que será realizado no Rio de Janeiro, dia 25 de outubro, no Maracanãzinho. O adversário é o americano Christos Giagos. A ficha de ter sido incorporado à maior organização de MMA do mundo demorou a cair.
- Estou muito feliz com esse momento. Até eu entrar no octógono estava daquele jeito: "Caraca, vou lutar no UFC. É hoje! Chegou a hora". Teve muita coisa, muito esforço e muito suor até eu chegar lá. Teve disciplina, investimento, tempo, todo um processo. Tive que ter paciência em alguns momentos da carreira, porque às vezes parece que está longe, mas a gente tem que perseverar. Hoje em dia dou muito valor. Só depois que eu lutei, a ficha caiu - concluiu.
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