terça-feira, 14 de outubro de 2014

Técnico tenta explicar fase de Paulo Thiago: "Problema é só psicológico"

Josuel Distak, líder da XGym, cita "medo de perder de novo" após derrotas consecutivas, saída do Bope e "má sorte" do lutador por levar knockdowns

Por Rio de Janeiro
Josuel Distak UFC (Foto: Ivan Raupp)O treinador Josuel Distak (Foto: Ivan Raupp)
Após 10 vitórias em solo nacional, Paulo Thiago foi contratado pelo UFC em 2009 e estreou no octógono com um nocaute surpreendente sobre o veterano e bem ranqueado Josh Koscheck. Nas três lutas seguintes, perdeu para o também experiente Jon Fitch, resultado considerado normal, e venceu Jacob Volkmann e Mike Swick. Chegou a ser tratado como uma promessa do Brasil na organização. De lá para cá, no entanto, foram mais nove duelos, com sete derrotas e apenas dois triunfos. O nível das performances do brasileiro foi caindo gradativamente, assim como a relevância dos adversários. O que houve? Como explicar uma queda tão substancial em cinco anos? O Combate.com procurou o treinador principal de Paulo, Josuel Distak, que apontou o lado psicológico como grande obstáculo que o lutador de Brasília enfrenta atualmente.
Para Distak, as seguidas derrotas têm minado cada vez mais a tranquilidade de Paulo Thiago - perdeu as três últimas lutas, para Brandon Thatch, Gasan Umalatov e Sean Spencer. É o que o técnico chama de "medo de perder de novo". E por conta dos maus resultados, o atleta acaba sendo questionado diversas vezes a respeito da pressão e da ameaça de demissão. Mas o UFC parece apostar mesmo em Paulo, pois, pelo menos até a publicação desta matéria, ele seguia com contrato vigente na organização, o que o torna uma rara exceção nesse quesito.
A derrota atrapalha um lutador, porque ele fica com medo de perder de novo"
Josuel Distak
- A derrota atrapalha um lutador, porque ele fica com medo de perder de novo. O Fedor (Emelianenko), melhor lutador de todos os tempos, perdeu para o (Fabricio) Werdum e em seguida perdeu também para Pezão e Dan Henderson. Ele voltou para o lugar dele e teve de fazer um trabalho psicológico. Aí voltou a ganhar. O medo de perder de novo é uma barreira muito grande. Mas nós vamos trabalhar isso. Os leões sempre dão a volta por cima. O problema do Paulo é só psicológico. O resto está tudo ok - disse Distak.
O treinador contou que já acertou parceria com uma psicóloga para dar suporte não só a Paulo Thiago, mas a todos os lutadores da equipe XGym, do Rio de Janeiro, na questão emocional a partir de agora. E para o peso-meio-médio (até 77kg) brasiliense será ainda mais importante. Segundo Distak, o fato de Paulo há cerca de quatro meses ter trocado o Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais), com o qual tinha grande identificação, tendo inclusive o apelido de "Caveira", pelo Batalhão de Polícia de Choque, abalou-o bastante. O lutador também mudou sua música de entrada de "Tropa de Elite", do Tihuana, para "Que país é esse?", do Legião Urbana, no último duelo.
- Para quem não sabe, o Paulo saiu do Bope. O Paulo tem a maior paixão pelo Bope, e até na luta teve que mudar a música de entrada. Trocou o comandante do batalhão, e ele proibiu o Paulo de treinar, para ele fazer a missão de trabalho por lá, e isso o atrapalhou. O coração dele ficou dividido, porque o Paulo é apaixonado pelo Bope. Mas ele teve que trocar de batalhão, teve que resolver os problemas por lá, e isso também atrapalha emocional e psicologicamente. Essa foi a maior dificuldade dele. O Paulo ama o Bope, ama ser o "Caveira". Isso influenciou com certeza. Você olha a música com a qual ele entrou, do Legião Urbana. A música antiga (Tropa de Elite) inspirava o Paulo, trazia a torcida junto dele. O emocional dele foi abaixo ali.
Paulo Thiago x Sean Spencer ufc brasilia (Foto: Rodrigo Malinverni)Paulo Thiago (de costas) perdeu para Sean Spencer em Brasília, sua casa (Foto: Rodrigo Malinverni)
Contactada pela reportagem, a assessoria de imprensa de Paulo Thiago, por outro lado, negou que a troca de batalhão o tenha influenciado emocionalmente e disse que ele deixou o Bope somente por conta da missão de reforçar o Choque nos eventos da Copa do Mundo. E continua por lá. A assessoria afirmou ainda que a mudança de música foi ideia do próprio lutador para homenagear sua cidade, Brasília, com o som de uma banda local.
O Paulo não está tendo sorte.
Mas não dá para dizer que é questão de tática ou técnica. Só que estamos levando má sorte
em tomar knockdown"
Josuel Distak
Outro ponto destacado por Josuel Distak é a sorte. Ou a falta dela, de acordo com o treinador. Ele lamentou os knockdowns sofridos por Paulo Thiago nas últimas lutas. Na última, contra Sean Spencer, o atleta foi ao chão após um direto logo no início do combate.
- Esse último camp foi o melhor da história do Paulo Thiago. A gente estava pronto para vencer. Mas a gente tomou uma mão em menos de 5 segundos, e a luta desandou. A luta entre o Tim Kennedy e o Yoel Romero foi um exemplo disso. O Romero teve 28 segundos para se recuperar e fazer uma luta dinâmica. E o Paulo não teve esse tempo. Teve que se recuperar aos trancos e barrancos. Você vê que ele estava bem condicionado. Depois do knockdown, tentamos buscar a luta, mas desandou. Na outra luta (contra Gasan Umalatov) ele também tomou knockdown. Todo mundo pode tomar knockdown, mas são poucos os que se recuperam e terminam lutando. Tem lutador que toma knockdown e não volta. Na última eu não vi um lutador de muita expressão. Vi um lutador que teve sorte de conectar um golpe no Paulo Thiago, e nós tentamos buscar a luta, só que não deu. Paciência. Mas a gente acredita que o Paulo vai dar a volta por cima na sorte de luta, não na sorte de treino. Para todos os meus lutadores eu digo: a vontade de treinar tem que ser maior do que a vontade de vencer. O Paulo não está tendo sorte. Mas não dá para dizer que é questão de tática ou técnica. Só que estamos levando má sorte em tomar knockdown. Não vejo o Paulo vencendo, mas ele tem tentado buscar a vitória. Ele está se livrando do fantasma.

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