terça-feira, 25 de novembro de 2014

"Visualizo a minha vitória sobre Jones
todas as noites", diz Daniel Cormier

Desafiante ao cinturão dos meio-pesados do UFC treina com multicampeão Marcus Buchecha e brinca com diferença de envergadura para Bones

Por San Jose, EUA
No próximo dia 03 de janeiro, o ex-campeão peso-pesado do Strikeforce, Daniel Cormier, colocará a sua invencibilidade de 15 lutas em jogo em sua primeira disputa de título no UFC. O adversário é o campeão meio-pesado da organização Jon Jones, oito anos mais novo que “DC”, 10 cm mais alto e com uma diferença de envergadura de 32 centímetros. Tais números parecem se transformar em uma equação na cabeça do ex-atleta olímpico, que trabalha incansavelmente com seus treinadores da AKA (American Kickboxing Academy), em San Jose, na Califórnia, para usá-los a seu favor:
- Na horizontal todo mundo é igual - brincava ele durante uma sessão de treinos, na qual estudava minuciosamente alguns detalhes do jogo do adversário.
Jon Jones Daniel Cormier encarada (Foto: Evelyn Rodrigues)Daniel Cormier quer tirar cinturão de Jon Jones (Foto: Evelyn Rodrigues)
A concentração do companheiro de treinos de Cain Velásquez era tanta, que chegou a impressionar os demais lutadores da academia. Aos poucos, eles se aglomeravam ao redor da sala de treinos para acompanhar, mesmo que pelo vidro que separava a sala, os detalhes da sessão.
- Eu visualizo a minha vitória contra Jones todas as noites. Toda noite eu penso no momento em que terei a minha mão erguida, mas isso não é novo, é algo que eu tenho feito toda vez que me preparo para uma luta. Eu visualizo o resultado, porque sei que isso é determinante para o treino. A minha luta é desenhada aqui na academia. Se eu colocar todo o meu esforço e treinar o mais duro que eu conseguir, eu vou vencer. Se eu deixar coisas pendentes no treino, então eu corro risco de perder. Todo mundo aqui da AKA sabe que é assim. Eu visualizo a vitória todos os dias. Não sei como vai acontecer, mas me vejo com a mão erguida novamente e vou fazer isso de um jeito em que as pessoas vão pensar: “Jon Jones nunca foi assim tão bom ou o Daniel Cormier é algo que nós nunca vimos antes?”.
Ao lado de Cormier, o multicampeão mundial de jiu-jítsu, Marcus “Buchecha” Almeida, repassava detalhes e discutia parte da estratégia para a luta contra Jones. O brasileiro estava de passagem rápida pela academia. Seriam apenas dois dias de treino com o peso-meio-pesado, suficientes para afiar o chão do lutador:
- Eu e o "DC" estávamos estudando ali algumas coisas que poderiam ser feitas na luta dele contra o Jones. Se, por acaso, acontecer de ele cair por baixo em uma situação ruim, estávamos trabalhando mais o jiu-jítsu para esse tipo de situação e voltado para o oponente,  no caso o Jon Jones. A gente trabalhou bastante esses ataques, as saídas, as defesas e tal. O jiu-jítsu dele melhorou muito, principalmente a defesa.
Daniel Cormier Marcus Buchecha (Foto: Evelyn Rodrigues)Marcus Buchecha comanda treino de jiu-jítsu (Foto: Evelyn Rodrigues)
Aluno exemplar, Cormier é também treinador de wrestling do time e faz uma verdadeira ginástica para dar conta de todas as suas responsabilidades na academia. Capitão de MMA da AKA, o lutador acompanha todos os treinos da equipe profissional e ainda cuida de um programa de wreslting voltado para crianças. Sempre bem-humorado, ele conversou com a equipe do Combate.com sobre a sua rotina de treinos, a dedicação a outros atletas e a rivalidade com Jones:
- Toda vez que nos encontramos tem aquela eletricidade no ar, mas na semana da luta vai pegar fogo. Nós dois queremos arrancar a cabeça um do outro e eu mal posso esperar por isso. Ele nunca enfrentou ninguém tão bom quanto eu. Nunca enfrentou ninguém que vai usar o wrestling do jeito que eu uso, ou que vá colocar a pressão que eu vou impor.  Eu vou fazê-lo lutar do jeito que eu planejo que ele lute. Ele vai ser uma pessoa completamente diferente no octógono no dia 03 de janeiro.
Daniel Cormier UFC (Foto: Evelyn Rodrigues)Luta contra Jon Jones está marcada para 3 de janeiro (Foto: Evelyn Rodrigues)
Confira a entrevista na íntegra:
O que mudou desde que você assumiu o posto de capitão de MMA da AKA?
- Ser nomeado do capitão do time é algo que tem um significado muito especial para mim. Eu treino aqui desde que comecei a minha carreira no MMA, vim para cá porque havia tantos lutadores bons e a academia está sempre se desenvolvendo e mudando para melhor. Alguns nomes de lutadores mudaram, mas o resultado e o produto ainda são os mesmos. É um grande momento para mim, é algo muito grande mesmo. Todo dia eu treino e tento  brincar com os caras, para melhorar o ambiente, deixar as coisas mais leves. Tentamos ter uma atmosfera onde não estamos apenas trocando porrada no dia a dia. Se há algum problema, eu tento resolver com os lutadores, conversar. Já fiz coisas que os caras não sabem, mas eu sinto que faz parte desse papel. Se alguém não está feliz, eu tento ir lá conversar, tento ser a ponte entre os atletas e os treinadores em caso de algum problema. Eu também sou um dos treinadores do time. Isso é mais do que ser apenas o capitão do time, está nas ações que eu tenho no nosso dia a dia, desde ajudar os caras, emprestar dinheiro, ser um líder.
Daniel Cormier UFC (Foto: Evelyn Rodrigues)Cormier treina na AKA (Foto: Evelyn Rodrigues)
Você também tem um programa de wrestling voltado para crianças. Fale um pouco sobre ele:
- O meu time de wrestling infantil é um projeto do qual eu me orgulho muito. Esse projeto já existe há três anos e meio.  No ano passado, nós tivemos três campeões estaduais e cinco alunos na final, além de três "All-Americans". Na última temporada, nós fomos o primeiro do ranking no Estado, o que é maravilhoso. Nós nunca conseguimos imaginar o que esse pequeno clube da AKA pode fazer. Nós temos um pequeno grupo e conseguimos conquistar muita coisa com eles em um curto espaço de tempo. O meu aluno mais novo tem cinco anos de idade e o mais velhos tem 13 anos. Tive quatro ou cinco alunos com cerca de 14 anos. São 25 alunos no total e outros 12 que treinam fora daqui. Muitos deles também fazem aula de jiu-jítsu, outros só wrestling…depende. Eu tento fazer com que eles façam aulas de todas as modalidades, mas não é toda criança que quer fazer tudo.
Como é a sua rotina diária de treinos?
- A maior parte do meu tempo eu fico aqui em San José, perto da minha família. Eu amo estar perto das minhas crianças e da Celina, minha esposa, mas se eu não estou em casa, geralmente estou aqui na academia. Quando tenho gravação no UFC Tonight (programa oficial de televisão do Ultimate nos EUA), geralmente eu vou para Los Angeles num dia e volto no outro.
Como está a preparação para o duelo contra o Jones?
- A preparação tem sido ótima, estou em uma ótima fase do treino e, aos poucos vamos entrando na parte mais dura do camp, mas estou treinando muito bem. O Buchecha veio passar uns dias aqui e, quando você tem a chance de treinar com um cara como ele, você não sente isso em nenhum outro lugar, é aprendizado. Também tenho isso com o Leandro Vieira, treinador de jiu-jítsu aqui da AKA. Tenho essa aprendizagem do jiu-jítsu, de posicionamento, técnica e abordagem de luta.  Eu tiro toda a vantagem que eu puder de caras como o Buchecha e o Leandro. Eles olham para o jogo do Jones no chão e me dizem que não estão muito impressionados com o que ele faz no chão. Por isso, eu quero implementar a minha estratégia, sei que temos diferença de tamanho e alcance, mas sei como me movimentar e fechar a distância.
Eu visualizo a minha vitória contra Jones todas as noites. Toda noite eu penso no momento em que terei a minha mão erguida, mas isso não é novo, é algo que eu tenho feito toda vez que me preparo para uma luta. Eu visualizo o resultado, porque sei que isso é determinante para o treino. A minha luta é desenhada aqui na academia. Se eu colocar todo o meu esforço e treinar o mais duro que eu conseguir, eu vou vencer"
Daniel Cormier
Você e o Jones protagonizaram uma briga no lobby do MGM que teve uma grande repercussão. Como você acha que será o clima na semana da luta? Vocês se falaram depois do ocorrido?
- Eu acho que a semana da luta vai ter um clima muito tenso entre mim e o Jones. Vai ser intenso porque nós temos os nossos compromissos para vender a luta até lá. Toda vez que nos encontramos tem aquela eletricidade no ar, mas na semana da luta vai pegar fogo. Nós dois queremos arrancar a cabeça um do outro e eu mal posso esperar por isso. Nós não trocamos uma palavra desde a briga, não interagimos de nenhuma forma fora das câmeras. Eu não tenho nenhuma vontade de falar com ele e nem de tentar resolver nada com ele e não há necessidade de fazer isso, porque no dia 03 de janeiro nós vamos poder resolver isso dentro do octógono. (nota da redação: a entrevista com Cormier aconteceu antes da coletiva de imprensa realizada na semana passada em Las Vegas para divulgar o calendário de lutas do UFC em 2015. Após a coletiva, a nossa equipe conversou novamente com “DC”, que reafirmou que ainda não havia falado com Jones sem a presença da mídia).
Na audiência da Comissão Atlética de Nevada que julgou vocês dois pelo que aconteceu no lobby do MGM, você disse que agiu em legítima defesa e disse que não se considerava culpado pelo fato de a briga ter tomado a proporção que tomou…
- O que eu disse é que eu agi em resposta ao que ele fez. Ele encostou a sua testa na minha e essa nem era uma encarada na pesagem, era uma encarada em um evento para promover o duelo, mas muito no início. Não tinha necessidade de fazer aquilo.  As coisas tomaram uma proporção muito grande, mas tudo começou com ele encostando a cabeça na minha. Depois que eu o empurrei, ele tentou me acertar com um soco. Então eu acho que ele continuou ampliando a situação. Claro que eu tenho culpa na história, eu nunca disse o contrário. Não sou estúpido, não vou fugir de nenhuma responsabilidade, não sou assim. Mas que eu acredito que tudo aconteceu em resposta a uma ação que ele iniciou, isso eu acredito e foi isso que eu falei na audiência, apesar de muita gente ter entendido errado.
O Javier Mendez, treinador principal da AKA, disse que acredita que o Jones nunca enfrentou um adversário do seu nível técnico. Você concorda?
- Ele nunca enfrentou ninguém tão bom quanto eu. Nunca enfrentou ninguém que vai usar o wrestling do jeito que eu uso, ou que vá colocar a pressão que eu vou impor.  Eu vou fazê-lo lutar do jeito que eu planejo que ele lute. Ele vai ser uma pessoa completamente diferente no octógono no dia 03 de janeiro.
Como você vê o jogo do Jones?
- Jones não tem muitos buracos em seu jogo, mas ele faz coisas repetidamente que vão me dar a oportunidade de capitalizar e impor o meu jogo.
Você imagina como vai ser a luta no dia 03 de janeiro?
- Eu visualizo a minha vitória contra Jones todas as noites. Toda noite eu penso no momento em que terei a minha mão erguida, mas isso não é novo, é algo que eu tenho feito toda vez que me preparo para uma luta. Eu visualizo o resultado, porque sei que isso é determinante para o treino. A minha luta é desenhada aqui na academia. Se eu colocar todo o meu esforço e treinar o mais duro que eu conseguir, eu vou vencer. Se eu deixar coisas pendentes no treino, então eu corro risco de perder. Todo mundo aqui da AKA sabe que é assim. Eu visualizo a vitória todos os dias. Não sei como vai acontecer, mas me vejo com a mão erguida novamente e vou fazer isso de um jeito em que as pessoas vão pensar: “Jon Jones nunca foi assim tão bom ou o Daniel Cormier é algo que nós nunca vimos antes?”.

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