segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Por Evelyn Rodrigues — Las Vegas, EUA
 

A USADA (Agência Antidoping dos Estados Unidos) anunciou, no dia 11 deste mês,uma punição de dois anos para Fabrício Werdum, ex-campeão peso-pesado do UFC, por testar positivo para a substância trembolona ( que aumenta massa muscular, força e vigor físico) no antidoping. O gaúcho - notificado por possível violação em maio - se resguardou nos últimos meses, entretanto, decidiu quebrar o silêncio em entrevista exclusiva ao Combate.
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Werdum quebra silêncio sobre doping e diz que não quer parar de lutar
- A USADA... eu nunca tive problema, notificação, nada sobre isso. Sempre que quiseram me testar eu estive à disposição. Eu até ganhei uma camisa da USADA de 25 testes dando os parabéns por seguir o programa, por me dedicar ao máximo. Toda vez que chegavam na academia eu brincava: "A USADA está aqui com a gente". Todo mundo vaiava, uma brincadeira. A Karine, minha mulher, disse que isso influenciou na hora da condenação, da suspensão. Eu falei: "Não tem como". Hoje em dia acredito que sim, que influenciou. Gastei mais de R$ 50 mil em testes. Quando você tem que testar algum produto para ver se a contaminação está ali, você tem que pagar mil dólares por cada produto. Testei sete produtos, proteína, creatina e até erva de chimarrão. Eu não sabia onde estava, dei tudo que tinha tomado. Deu tudo negativo. A USADA tem experiência, sabe quando um atleta está na maldade, fazendo ciclo ou quando é contaminação. O que tinha no meu corpo era muito pouco, não tinha por que dar uma condenação máxima, de dois anos. É muito tempo. Não levaram em consideração os testes que eu tinha feito, me colocando à disposição.
Fabricio Werdum levou gancho de dois anos — Foto: Evelyn RodriguesFabricio Werdum levou gancho de dois anos — Foto: Evelyn Rodrigues
Fabricio Werdum levou gancho de dois anos — Foto: Evelyn Rodrigues
O gaúcho - radicado nos Estados Unidos - conta que solicitou uma reunião com a entidade para tratar do assunto. Realizado a portas fechadas em um hotel, o encontro durou cerca de cinco horas e acabou com uma proposta que ele considerou absurda:
- Fiquei cinco horas conversando com a USADA, saí de Los Angeles e fui até Denver. Eu me senti um criminoso. Sei que não fiz nada, mas a sensação era essa. Dois caras da USADA, um detetive me analisando o tempo inteiro. Me senti tão mal... Não fiz nada, por que isso? (...) O que mais me surpreendeu foi no final da entrevista, eu achei um absurdo... Eles falaram: "Werdum, se você cagoetar alguém a gente baixa sua pena, porque alguma coisa você vai ter que pagar". Eles falam que a responsabilidade é sua de tomar qualquer coisa. (...) O cara fazer uma proposta dessa, de cagoetar alguém, isso está contra os meus princípios, mesmo se eu soubesse.
Apesar de parecer absurda para Werdum, o código de conduta da USADA prevê no artigo 10.6.1.1 que o atleta que conceder informações e provas na descoberta de violação antidoping por parte de outro atleta, por exemplo, tenha pena reduzida. Tal artigo ganhou repercussão na imprensa na semana passada, quando a organização anunciou a redução da pena de Jon Jones.
O ex-campeão dos meio-pesados havia sido flagrado pelo uso de turinabol (um esteroide anabolizante que aumenta a produção de massa muscular) em julho de 2017, mas recebeu punição de 15 meses de suspensão, apesar de já ter sido flagrado no antidoping em três ocasiões. Na justificativa para a pena reduzida, a USADA disse entender "que Jones não usou substância ilegal de forma intencional" e que ele havia "cooperado com assistência substancial para a resolução do caso".
Sem verbalizar o nome de Jon Jones, Werdum questionou o tempo de punição dado pela USADA ao peso-meio-pesado:
- Eu acho estranho esse negócio da USADA. Não vou citar nomes, mas saiu ultimamente um atleta que era para pegar quatro anos e pegou 15 meses. Eu peguei 24 meses. Como assim? Era a segunda ou terceira vez desse atleta. Dois pesos e duas medidas? Como funciona isso? - indagou.
Sem atuar desde março, quando foi nocauteado por Alexander Volkov, Werdum não pensa em aposentadoria no momento. Com duas lutas restantes em seu contrato com o UFC, e suspenso até 23 de maio de 2020, o ex-campeão dos pesados vê algumas interrogações em seu futuro.
- É dificil saber que você não pode fazer o que gosta. Financeiramente estou bem, tenho meus negócios, investimentos. Sou muito família, neste ponto estou tranquilo. Não quero que alguém me proíba... agora acabou sua carreira. Não, eu quero acabar minha carreira quando eu estiver a fim. É dificil ser proibido de lutar por causa de algo que não fiz. Estou nervoso até na hora de falar. Estou treinando todos os dias, claro que não na intensidade de luta. Pensei em fazer grappling para ficar na ativa. É uma vida inteira lutando, pensei em lutar em outro país. É tudo muito recente, tenho que conversar com o UFC ainda. Tenho trabalhado na parte espanhola do UFC como comentarista. Eu vou ver o que vou fazer, tenho mais duas lutas no UFC. Será que vou esperar os dois anos mesmo? O que vou fazer? Não sei ainda, estou indeciso - finaliza.

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