segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Atletas doam verba para a construção de um banheiro em escola no Haiti

Brasileiros, que participam da Jornada Haitiana do Esporte pela Paz, arcarão com gastos da obra e abrem portas para sonho de ter aulas de educação física

Por João Gabriel Rodrigues Direto de Porto Príncipe, Haiti
As ruas da comunidade de Waf Jeremy pouco parecem com ruas. São pedras espalhadas por todos os cantos, limitadas por paredes nos dois lados, restos do que um dia já podem ter sido casas. No meio, um rio de esgoto cruza praticamente toda a área, servindo de fonte de água para beber e se banhar para moradores da região mais pobre de Porto Príncipe. Em uma das vielas, uma construção de portas mambembes dava lugar a uma sala de não mais do que 60m². Com cadeiras espalhadas no curto espaço, funciona ali a única escola do lugar, a Institution Mixte Moratha, com nove classes simultâneas, 327 alunos e nenhum banheiro.
Escola HaitiMias de 300 crianças estudam em uma pequena escola no Haiti (Foto: João Gabriel / Globoesporte.com)
Do lado de fora, um campo baldio, preenchido por um mato ralo e pedras, serve de quintal da escola. É lá também que as crianças se aliviam entre as aulas. No desespero da situação, o pastor Romain Colurcicle, diretor do colégio, pediu a ajuda do Exército brasileiro. Na tarde de sexta-feira, os atletas que participam da Jornada Haitiana do Esporte pela Paz visitaram o lugar e anunciaram a doação da verba para a construção de um banheiro no local. É o primeiro passo para uma antiga vontade de alunos e professores: aulas de educação física para que as crianças possam, enfim, praticar esportes em um país que não parece ligar muito para isso.
Escola HaitiPrecária escola não tem nem banheiro para as
crianças (Foto: João Gabriel / Globoesporte.com)
- Não podemos ter aulas de educação física porque não temos um banheiro. Nem mesmo material para que as crianças pratiquem esportes. Temos espaço aqui fora, mas não temos estrutura. Só que agora, com a doação, isso pode mudar – disse o pastor.
O ex-capitão da seleção brasileira de vôlei, Nalbert, que se juntou ao grupo no Haiti nesta sexta, foi quem fez o anúncio, cercado por crianças.
- É uma emoção muito grande. Estamos aqui para ajudar como pudermos. Não fizemos muito, mas é uma emoção muito grande.
Escola sobrevive às custas de doações
O gasto com cada criança na escola é de 250 gourdes por ano, cerca de R$6 na conversão. Como poucos pais têm emprego, nem todos pagam. Por isso, a Mixte Moratha só sobrevive às custas de doações. Professora do lugar, Leónne Dorcena lamenta as dificuldades.
Escola HaitiUm rio de esgoto cruza quase toda a área da
escola (Foto: João Gabriel / Globoesporte.com)
- É tudo muito difícil. Os alunos não podem ir ao banheiro, quanto mais praticar esportes. É muito difícil porque a maioria vem sem comer. E assim eles não têm como aprender nada.
Na saída, os problemas pareciam deixados de lado. Atletas como Nalbert, Luiz Lima e Antonio Pizzonia eram cercados pelas crianças, todas à espera de brincadeiras e carinho. Em uma rua ao lado, algumas jogavam bola e faziam festa com os brasileiros, inclusive os militares. Se ainda há muito a se fazer, ao menos um passo foi dado.

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