domingo, 13 de fevereiro de 2011

Um ‘vestibular’ de cartas marcadas

sáb, 12/02/11
por Rafael Lopes |

Bruno Senna e Nick Heidfeld testam pela Renault-Lotus em Jerez de la Frontera
O acidente de Robert Kubica no rali “Ronde di Andora” colocou a Renault-Lotus em uma posição bastante complicada. A um mês do início da temporada 2011 da Fórmula 1, a equipe chefiada pelo francês Eric Boullier ficou sem seu primeiro piloto, que seria a grande referência para o desenvolvimento do R31, modelo deste ano, que conta com o inovador escapamento dianteiro. O russo Vitaly Petrov, que não mostrou muita coisa em sua primeira temporada na categoria, era o outro titular. Dentro do time, a dúvida entre trazer um novo piloto, com mais experiência, ou apostar em um dos reservas pipocava a todo momento. As opções no mercado não eram muitas, tampouco animadoras. Boullier, então, restringiu a lista: Nick Heidfeld, Vitantonio Liuzzi e Bruno Senna.
Só que o dirigente se revelou bastante contraditório. Após dizer que Senna, seu principal reserva, teria chances na disputa, voltou atrás e disse que o time precisava de alguém com experiência. Em seguida, mudou de ideia novamente. E foi assim durante toda a última semana. Político, Boullier parecia não querer se comprometer: dizia o que a imprensa queria ouvir naquele momento. E a Renault-Lotus decidiu avaliar Heidfeld e Bruno Senna no fim de semana de testes em Jerez de la Frontera, em uma espécie de “vestibular”. O alemão andaria no sábado e o brasileiro, no domingo. O time só avaliará outras opções, como Liuzzi e o espanhol Pedro de la Rosa, em caso do alemão, ex-Sauber, não agradar. Ou seja, é um “vestibular” feito para Heidfeld entrar.
O alemão tem experiência neste tipo de prática. Em 2005, ele disputou contra Antonio Pizzonia uma vaga de titular na Williams. Heidfeld tinha o apoio da BMW, fornecedora de motores na ocasião, e o brasileiro, que já era o piloto de testes, contava com o apoio da equipe. Cada um andou em oito dias nos circuitos de Jerez de la Frontera, Barcelona e Valência. O “Jungle Boy” foi melhor avaliado após todas as atividades, mas a vontade da montadora prevaleceu: Heidfeld assumiria a vaga de titular. A situação em 2011 é parecida, só que as grandes credenciais do alemão, desta vez, são a experiência e a ótima fama de bom acertador de carros. Algo essencial em uma Fórmula 1 com testes proibidos durante a temporada.
Em uma análise fria da situação, Heidfeld realmente é o melhor nome disponível para substituir Kubica por boa parte ou por toda a temporada. Apesar de nunca ter brilhado na Fórmula 1, o alemão é o único dos nomes citados pela Renault-Lotus capaz de assumir uma responsabilidade tão grande para a equipe. A chance de Bruno Senna testar em Jerez é algo bastante justo com o brasileiro. É fato que se o polonês precisasse se ausentar por uma ou duas corridas, ele assumiria a vaga. Se o lesionado fosse Petrov, por exemplo, seria uma aposta menos arriscada colocar um reserva com apenas um ano de experiência na categoria. Afinal, o desenvolvimento do carro e a responsabilidade ficariam nas mãos do companheiro.
Para encerrar, sobre os testes deste fim de semana em Jerez de la Frontera, Heidfeld deve mesmo assumir a vaga de titular. A única chance de Bruno Senna – e não é garantida, mesmo assim – seria ter um desempenho amplamente superior ao do alemão. Vale lembrar que não se trata de tempo na pista, já que as condições dela mudam muito de um dia para o outro, mas do trabalho com os mecânicos e engenheiros. Ou seja, dar um bom feedback sobre o carro e apontar direções no sentido de evoluir o R31. Sendo realista, Heidfeld tem muito mais condições de fazer esse papel. E isso não é demérito para Bruno. Ele precisa mostrar que merece uma chance mais para o fim do ano ou em 2012. Este tem de ser seu objetivo quando entrar no cockpit neste domingo.

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