segunda-feira, 4 de julho de 2011

Com lágrimas nos olhos, Conca dá adeus e se declara: ‘Amo este clube’

De saída para China, ele não esconde a emoção ao interromper casamento de três anos e meio, mas garante: ‘Volto para o Flu. Não tem jeito’

Por Cahê Mota Rio de Janeiro
Conca se despede do Fluminense (Foto: Ivo Gonzalez / Agência O Globo)Em coletiva, Conca se despede do Fluminense
(Foto: Ivo Gonzalez / Agência O Globo)
Uma vírgula, não um ponto final. Fazendo questão de frisar a todo instante que retornará ao Fluminense e agradecendo inúmeras vezes pelos momentos que viveu no Brasil, Darío Conca se despediu oficialmente nesta segunda-feira do Tricolor. Visivelmente emocionado e com os olhos cheio d'água, o argentino, que está de saída para Guangzhou Evergrande, da China, concedeu entrevista coletiva, em hotel na Zona Sul do Rio de Janeiro, para explicar os motivos que o fizeram deixar as Laranjeiras após três anos e meio.

Ao lado do presidente Peter Siemsen, Conca evitou falar sobre as cifras milionárias que vai receber em dois anos e meio no futebol chinês e reforçou que optou pelo melhor para sua família. O apoiador ressaltou ainda a importância de deixar o clube pela porta da frente e sem polêmicas - como foram os casos das conturbadas saídas de Muricy Ramalho e Emerson -, às quais, no entanto, Conca não se referiu diretamente.

Em seu discurso inicial, o jogador se declarou apaixonado pelo Flu:

- Estou muito emocionado e feliz por ter recebido uma proposta tão importante. Mas fico triste porque todo mundo sabe o que sinto pelo Fluminense. Foi difícil tomar essa decisão, mas acho que é um momento importante para minha vida. Pensei muito e acho que é o melhor para mim, para minha família... Todos sabem que amo este clube. Agradeço ao Fluminense por ter feito tudo o que fez por mim, por ter ajudado na minha educação, no meu caráter, e sempre tentei respeitar todo mundo. Peço desculpas se um dia fiz alguma coisa errada e só quero agradecer. Um dia vou voltar a vestir essa camisa tão bonita e importante. Agradeço a torcedores, companheiros, diretorias, treinadores.... todo mundo. Todos os empregados que estão ou passaram pelo clube e me ajudaram muito para eu ser a pessoa que sou hoje. Na China, confio no meu trabalho e espero desempenhar um grande futebol para o pessoal que confiou em mim.

Quem abriu a entrevista, entretanto, foi Peter Siemsen. Dizendo-se com o coração esfacelado, o presidente lembrou a importância do Fluminense para o crescimento e a valorização de Conca, um ídolo que ele considera insubstituível.

- Como torcedor, estou com o coração machucado. Não só pelo que o Conca construiu como atleta, mas também suas atitudes com a instituição. É algo praticamente insubstituível. Qualquer vinda de jogador será uma mera aposta. Estou machucado, triste. Mas o Fluminense se orgulha por ter participação para que ele tivesse recebido uma proposta deste valor. Fomos uma porta para o mundo. O coração está esfacelado, mas fico feliz pelo ídolo Conca.

Confira toda a entrevista de Conca


Seleção

Não aconteceu de ser convocado, mas não fiquei no Fluminense pela seleção. Fiquei muito tempo aqui por me sentir feliz. Todo mundo sabe a importância de jogar em um time tão grande. E, como já falei, foi uma decisão importante. Tive que pensar muito e optei pelo melhor para minha família, para minha carreira. Muita gente pode pensar que o mais importante era a seleção, e sempre falei que o mais importante era o Fluminense. Na China, vou continuar fazendo o meu trabalho. Não estou indo só por ser uma oferta boa. Confio que posso ajudar.

Retorno


É difícil pensar em encerrar a carreira agora. Falei com o presidente, com o Sandro (Lima, vice de futebol), com o Celso (Barros, presidente do patrocinador), que gostaria de ficar dois anos e meio lá e voltar. Vou fazer de tudo para isso. Será bom por ser o clube onde me sinto bem, onde sou querido e espero poder voltar para encerrar a carreira. Mas tenho dois anos e meio para desempenhar um grande trabalho.

Silêncio recente

Decidi não falar porque não tinha nada concreto, nada assinado, e o futebol ensina. Já vi negociações 99% certas e no último minuto não acontecerem. Seria uma falta de respeito falar algo ou pensar em outro clube antes de encerrar meu contrato.

Recado para a torcida


Agradeço muito ao torcedor (pausa emocionada). Sempre tentei respeitar, honrar a camisa e peço desculpas se um dia não fiz alguma coisa certa. Sempre vou ser agradecido. Todos me trataram muito bem. Levo comigo aquele carinho, aquele amor. Um dia vou voltar. Tenham certeza de que sempre vou levar o Fluminense e a torcida no coração.

Despedida

De quinta-feira para cá foi muito duro. No dia do jogo (contra o Atlético-PR), acordei cedo, fiquei muito triste e comecei a pensar no que poderia acontecer. Fiquei mal no quarto, preferi ficar sozinho. Comecei a chorar um pouco. É triste sair de um lugar onde me sinto muito bem e fui tratado com respeito. Fico feliz por sair do jeito que estou saindo, agradecendo ao Fluminense. Ultimamente, algumas saídas foram difíceis para o clube e isso não faz bem para ninguém. Posso sair de bem com diretoria, jogadores, torcida, e fico feliz.

Esquecimento na China

Vou para um futebol diferente, mas não vou ficar sumido, não. Só vou fazer meu trabalho em outro país. Não tenho que pensar que vou para lá para sofrer ou sumir. Tenho que ter o respeito. Vou lá para fazer um trabalho e devolver a confiança das pessoas. Não quero mídia, quero ajudar o clube e fazer um bom trabalho. Fico triste por deixar pessoas que me ajudaram muito, mas é como falei na reunião para fechar contrato: vou para lá com muita vontade e felicidade. E não é o clube que vai me levar para seleção. O Marcelo joga no Real Madrid e não está na Seleção.

Diferenças culturais

Perguntei um pouco sobre a comida e disseram que tem muito restaurante italiano, brasileiro... Acho que isso não vai ser problema. Depende da força de vontade de cada um. Vai ser um país totalmente diferente, e tenho que me acostumar. É um desafio na minha vida e espero cumprir bem. Quando cheguei ao Brasil, também foi difícil e consegui. Quatro anos e meio depois, estou triste porque vou sair.

Salário milionário

Sobre o salário, o dinheiro, acertei com o pessoal e prefiro não comentar. Não é o momento de falar sobre isso.

Idioma

No contato que tive com eles (dirigentes chineses), não consegui aprender nenhuma palavra (risos). Mas vou procurar na internet para chegar lá ao menos falando bom dia.

Importância do Flu

O Fluminense foi mais importante na minha vida do que eu para o clube. Jogadores passam, o clube fica. Só tenho motivos para agradecer. Não tenho palavras para o que fizeram por mim, tanto torcedores como companheiros. O Fluminense é muito grande e não merece que falem dele como já falaram.

Ida para China


Vou ficar no Brasil até sexta-feira resolvendo alguns assuntos e depois viajo para China. Minha família está agilizando os papéis para ir comigo. Enquanto isso, vou com minha namorada acertar algumas coisas para quando meus familiares chegarem.

Pior e melhor momento no Flu


Tive algumas tristezas, mas nada grande. Até quando perdemos a Libertadores, a Sul-Americana, todo mundo ficou triste. Só que o torcedor entendeu e sempre deu apoio. Todos os meus dias no Fluminense foram felizes.

Gol mais marcante

Lembro-me de todos os gols que fiz pelo Fluminense, mas alguns foram mais importantes, como os da Libertadores de 2008 e do Campeonato Brasileiro do ano passado. Não teve um principal. Fazer um gol com essa camisa é uma honra sempre.

O que sabe do clube chinês


Tem um estádio grande, bonito, com média de público de 30 mil, lidera o campeonato... O pessoal que está agora pegou o clube na Segunda Divisão e já está na liderança.

Amistoso com o Real Madrid em agosto

É algo importante. Nossa equipe está evoluindo, tem marcado jogos importantes, e essa vai ser uma oportunidade bonita para aproveitar.

Vida na China

Já me mostraram algumas coisas da cidade, algumas praias, que eu gosto muito. Quero conhecer. Gosto muito de viajar nas férias, mas o mais importante vai ser fazer um bom trabalho. Dizem que a China é um país muito bonito.

Distância da família

Saí de casa com 21 anos (para defender o Universidad Católica, do Chile). Acho que estou acostumado a viver longe da minha família de um lado para o outro.

Lembranças do Rio

O Rio é uma cidade maravilhosa. Minha família gosta muito, todas as pessoas, independentemente do clube, me tratam bem aqui e em todo Brasil. Fico feliz pela cidade ter me homenageado há pouco tempo (recebeu o título de cidadão carioca). Foi algo muito bonito. Uma cidade tão importante fazer isso por mim eu nunca esperei. Apesar de não ter demonstrado muita alegria no momento, que é algo meu, fiquei muito feliz. Agradeço a todo o povo.

Retorno para outro clube brasileiro


Vou voltar para o Fluminense. Não tem jeito. Meu coração é tricolor. Sou um profissional, todo mundo sabe que tem que ser assim, mas já falei com o presidente que quero voltar para cá.

Últimos momentos no Flu


Aquele jogo contra o Atlético-PR foi complicado. Ouvir aquela torcida maravilhosa pedindo para eu ficar foi difícil e bonito. Sempre demonstraram caminho por mim, mas nunca pensei que gostariam tanto. Tenho que pedir desculpas por não ter me despedido. Não tinha nada assinado. Agora, sei que o povo chinês vai me esperar de braços abertos. Me despedi dos jogadores hoje (segunda-feira). Depois do jogo, todo mundo perguntava, e eu dizia que ainda não estava acertado. Só pude agradecer por me tratarem sempre como mais um, apesar da rivalidade com a Argentina. Todos me ajudavam nos piores momentos. Pude dar um abraço em um por um para agradecer por tudo.

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