sábado, 2 de julho de 2011

Espião de Parreira em 94, Kleiton Lima admite: 'mulheres são mais determinadas'

Técnico da Seleção feminina fala sobre sua carreira no futebol, como é controlar 21 mulheres e ainda a convivência com a `popstar` Marta

Por Clícia Oliveira Dusseldorf, Alemanha
Kleiton Lima comanda treino da seleção brasileira feminina de futebol (Foto: Rafael Ribeiro / CBF)Kleiton Lima foi informante de Parreira na Copa de 94
(Foto: Rafael Ribeiro / CBF)
Aos 37 anos, o santista Kleiton Lima, técnico da Seleção Brasileira feminina, carrega em seu currículo alguns títulos e histórias no futebol. Ao contrário de seus antecessores, que iniciaram a carreira trabalhando com os homens, Kleiton começou a sua vida profissional treinando mulheres. Jogou nas categorias de base do Santos e depois foi parar nos EUA. Na Copa de 94, quando defendia o São Francisco United Soccer, o técnico foi convidado para participar do treinamento dos Russos, adversários do Brasil no Mundial. A partir daí, Kleiton se tornou o `espião de Parreira` e levou todas as informações do time russo para o então treinador da Seleção. Depois disso, o santista voltou para o Brasil e iniciou sua carreira no futebol feminino. Casado e pai de um filho, Lima carrega nas costas a responsabilidade de comandar 21 mulheres. Mas isso não é problema para ele.

Como começou a sua carreira no futebol?

Eu era jogador e comecei nas categorias de base do Santos. Aos 20 anos de idade fui parar nos EUA. Joguei no São Francisco United Soccer Club e me tornei campeão da Califórnia.

E a sua história com o futebol feminino?

O meu time nos EUA tinha uma equipe feminina. Eu não conhecia muita coisa do futebol delas, mas comecei a ver os treinos das meninas e gostei da modalidade. Fiquei com vontade de fazer algo com o futebol feminino. Fui me chegando e comecei a trabalhar com elas. Eu ensinava a elas o gingado, o balanço na hora de correr com a bola. Aí comecei a acompanhar.

E que história é essa de que você foi espião do Parreira na Copa de 94, nos EUA?

Eu estava na Copa do Mundo de 1994 e o Brasil estava fazendo a preparação para a competição. A Rússia, uma das adversárias da Seleção na fase inicial, não permitia filmagens e nem a entrada de jornalistas em seus treinamentos. O Parreira não tinha muitas informações do adversário. Por coincidência, o meu time (San Francisco) foi convidado para participar do treinamento dos russos, e eu estava lá. Depois do fim da União Soviética, era o primeiro ano da Rússia no Mundial, e por essa razão, todos os treinamentos eram secretos. Eu estava treinando junto com o time russo e a imprensa brasileira descobriu. Logo depois, o Américo Faria me procurou e pediu que eu fizesse uns relatórios para ele. E foi aí que eu fiquei conhecido com o `espião do Parreira`

E depois disso?

Em 1995 eu voltei para o Brasil e montei uma escolinha de futebol feminino. Em 1997 começou de verdade a minha carreira no profissional. O Santos me convidou para montar um time. Trabalhei lá de 97 até 2010, foram 15 anos no clube.

E como é a convivência com as meninas? É fácil conviver com 21 mulheres diariamente? É mais fácil lidar com mulheres ou com homens?

As mulheres são mais dedicadas e determinadas do que os homens. O homem acha que sabe tudo, a mulher te escuta mais. No começo era um pouco mais difícil pra mim, hoje eu entendo o universo delas, tem que saber a hora de chegar e falar. A mulher demonstra mais que tem um problema e até leva isso para dentro de campo, elas são mais carentes neste sentido, elas sem amam mais e brigam mais também. O homem, quando tem um problema, consegue esquecer e deixar fora das quatro linhas. Mas eu entendo tudo isso, o organismo da mulher é mais complicado, elas são mais emotivas, mais sensíveis.

E como sua mulher lida com o seu trabalho?

Minha esposa Daniela me acompanha desde o começo da minha carreira. Nós temos um filho de 7 anos. Quando eu era jogador ela já era minha namorada. Ela é super presente e me ajudou muito. Daniela aconselhava as meninas menores e acompanhava o processo educativo das mais novas.

Não podemos deixar de falar de uma jogadora que é a estrela do time. Como é a sua convivência com a Marta?

Eu tenho uma convivência muito boa com ela. Ela jogou comigo no Santos, a gente conseguiu investir e levá-la para o Brasil para jogar como profissional. Sou um pouco amigo dela. Ela é uma atleta que tem uma personalidade muito reservada. Hoje, a Marta tem status de pop star. Mas na verdade ela é tão engraçada quanto as outras jogadoras.

A Formiga e a goleira Andréia Suntaque são as mais velhas do elenco. Tem a Bia e a Thaís de 17 e 18 anos. Jogadoras muito novas atuando com outras mais velhas. Você mudou um pouco a cara do time com uma renovação de jogadoras?

Eu fui taxado como o treinador revolucionário, que estava mudando tudo. Mas não é bem assim. Existem jogadoras que já estão na Seleção há muito tempo, caso da Formiga, da Cristiane. É uma renovação natural. Com os resultados o Brasil cresceu e temos que aproveitar o máximo dessa geração de meninas novas.

E o time da Alemanha? Elas são as favoritas no Mundial?


A Alemanha é a favorita sim. Elas estão jogando em casa, são bicampeãs do mundoe tem tradição no esporte. Mas o Brasil possui uma baita Seleção. Não dá para apostar ainda em quem será campeã. Todos os times estão mostrando que têm condições de chegar longe.

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