quinta-feira, 19 de abril de 2012

Sob protestos e ameaças, F-1 inicia fim de semana do GP do Bahrein

Às vésperas do primeiro treino livre, conflitos seguem intensos na ilha. Radicais defendem 'Grande Prêmio de sangue'. Membros da Force India deixam país

Por GLOBOESPORTE.COM Sakhir, Bahrein
Equipes e pilotos estão no Bahrein para a quarta etapa do Mundial de Fórmula 1 sob clima de tensão. A instabilidade política e os conflitos seguem a todo vapor na ilha do Oriente Médio. Apesar dos protestos contra a prova e de especulações sobre um possível cancelamento como aconteceu em 2011, a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) confirmou o evento, declarando ter garantias de segurança para todos os envolvidos com a categoria.
Um dia antes dos treinos livres desta sexta-feira, o país asiatico teve uma madrugada conturbada. Vários confrontos entre policiais e manifestantes aconteceram nesta quinta-feira nas áreas xiitas do Bahrein, perto da capital, Manama. Dois funcionários da Force India deixaram o Bahrein após membros da equipe se envolverem em um incidente no caminho do circuito de Sakhir para o hotel na noite desta quarta. Um carro com quatro mecânicos da escuderia indiana foi forçado a parar em razão de protestos entre manifestantes e polícia, em uma estrada a caminho da capital Manama. Um coquetele molotov explodiu próximo ao carro, mas ninguém ficou ferido.
"A Batalha Começa", diz cartaz que anuncia GP do Bahrein (Foto: Getty Images)"A Batalha Começa", diz cartaz que anuncia GP do Bahrein (Foto: Getty Images)
Um grupo de jovens liderado pelo rebelde Mohamed Ahmed Abdel Aziz – que está hospitalizado devido a um confronto com o exército local – prometeu “três dias de fúria” para este fim de semana. Alguns manifestantes radicais defendem uma mobilização para um "Grande Prêmio de sangue". A maioria das equipes já reforçou a segurança para o período em que estiverem no país. Por outro lado, o chefe comercial da F-1, Bernie Ecclestone, e responsáveis pelo circuito tem dado declarações minimizando os conflitos.
Protestos seguem no Bahrein (Foto: AP)Manifestantes exibem cartazes contra realização do GP (Foto: AP)
De maioria xiita, o Bahrein é governado pelo Rei Hamad, pertencente à dinastia sunita. Os manifestantes pleiteiam reformas democráticas, a queda do governo e condenam a disputa do GP de F-1 enquanto os conflitos não cessarem. A repressão contra os protestos é violenta, com denúncias de mortes e de violação de direitos humanos. Dizeres como "Parem de correr sobre nosso sangue" em pinturas nos muros e mensagens na internet, representam a insatisfação dos manifestantes com a realização da prova.
Mesmo com o cenário não conspirando à favor, os pilotos entram na pista a partir da sexta-feira, 4h (horário de Brasília), para o primeiro treino livre, com transmissão do SporTV. O treino classificatório está marcado para as 8h de sábado, e a corrida, para 9h de domingo - ambos transmitidos pela TV Globo e acompanhados em Tempo Real pelo GLOBOESPORTE.COM.
Após três etapas disputadas, Lewis Hamilton é o líder do campeonato com 45 pontos, dois à frente de seu companheiro de McLaren, Jenson Button. Apesar de os pilotos da equipe britânica figurarem nas duas primeiras colocações, a expectativa é grande por mais um bom desempenho da Mercedes. A equipe mostrou grande evolução na China e conseguiu uma histórica vitória com o alemão Nico Rosberg. Campeã do Mundial de Pilotos, com Sebastian Vettel, e Construtores nos dois últimos anos, a RBR quer voltar a figurar no topo da classificação. Enquanto Lotus busca se firmar no pelotão da frente, a Ferrari continua enfrentando dificuldades com o modelo F2012.
Horários GP do Bahrein (Foto: Editoria de arte / Globoesporte.com)
header fórmula 1 - especialista (Foto: Editoria de Arte / Globoesporte.com)
Emerson Fittipaldi (Foto: Getty Images)Fittipaldi: "Pilotos têm que ir" (Foto: Getty Images)
Com toda a experiência de quem fez história no automobilismo, principalmente na Fórmula 1,  Emerson Fittipaldi comentou sobre a situação vivida pela categoria às vésperas do GP do Bahrein. O bicampeão lembrou de um episódio semelhante que viveu em 1975, quando manifestantes protestavam contra o governo Perón, na Argentina. Na ocasião uma ameaça de bomba deixou todos em alerta no paddock. Fittipaldi destacou que os pilotos são esportistas devem participar do evento, pois não possuem ligação com os conflitos na região.
- Os pilotos têm que ir, é parte do contrato. São esportistas que estão lá participando de um campeonato e são independentes do problema político que está acontecendo lá. Pouca gente sabe, mas uma vez eu estava na Argentina, em 1975, e a uma hora da largada veio um cara da polícia e falou: “todo mundo para fora, porque há uma bomba no paddock e ela vai explodir”. E tinha mesmo, em cima dos boxes. Era uma época em que havia um movimento de oposição ao governo Perón, e nós sentimos este problema, corremos este risco – relembra o piloto, que à época guiava pela McLaren.
header fórmula 1 - sinal verde (Foto: arte esporte)
Depois de ligar o sinal de alerta após o decepcionante desempenho apresentado no chuvoso GP da Malásia, a Mercedes parece ter resolvido o problema de desgaste de pneus, que a fez sofrer nas duas corridas de abertura da temporada. A escuderia alemã deu um grande salto de qualidade e dominou o GP da China. Embaladas pelo inovador sistema de duto aerodinâmico conectado à asa móvel, as flechas de prata fizeram dobradinha no grid de largada em Xangai, com Nico Rorberg na pole e Michael Schumacher em segundo. Já na prova, Rosberg imprimiu um ótimo ritmo de corrida, não deu chances aos adversários e subiu ao alto do pódio pela primeira vez na carreira, vitória inédita para a Mercedes em seu retorno à F-1, em 2010.
header fórmula 1 - sinal vermelho (Foto: arte esporte)
A decisão da FIA e de Bernie Ecclestone de confirmar o GP do Bahrein tem sido alvo de críticas ao redor do mundo. A Anistia Internacional, organização de direitos humanos, condenou a realização da corrida, criticou duramente o governo local e afirmou que as autoridades buscam passar uma imagem de segurança, enquanto agem com violência na repressão aos protestos na região.
Protesto Barhein (Foto: AFP)"Parem de correr sobre nosso sangue", diz uma das pinturas em muros no Bahrein (Foto: AFP)
O lado financeiro também parece pesar: os lucros com a realização da prova de 2010, a última que a F-1 disputou em Sakhir, ficaram na casa dos 300 milhões de euros, cerca de 720 milhões de reais. Manifestantes prometeram “três dias de fúria” para o fim de semana. Possíveis incidentes durante o evento correm o risco de manchar a categoria máxima do automobilismo mundial.
header fórmula 1 - o circuito (Foto: arte esporte)
Circuito do Bahrein (Foto: Editoria de arte / Globoesporte.com)
header fórmula 1 - no ano passado (Foto: arte esporte)
Protestos no Bahrein adiam corrida da GP2 (Foto: AFP)Protestos cancelaram corrida em 2011 (Foto: AFP)
Em 2011, o GP do Bahrein estavaprogramado para abrir o mundial de F-1 no dia 13 de maio. Entretanto, em razão da instabilidade política na região - semelhante ao cenário encontrado este ano -, os próprios promotores anunciaram a não realização da prova a três semanas da data prevista. Com isso, a abertura aconteceu no GP da Austrália, no dia 27 de março. A FIA tentou, ao longo do ano, remarcar a corrida, mas acabou optando pelo cancelamento. A última vez que a F-1 esteve no circuito de Sakhir foi em 2010. A vitória ficou com Fernando Alonso, que na ocasião fazia sua estreia pela equipe Ferrari.

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