Crise sem fim: volante Wendel acusa Vila de falsificar assinatura em recibo

Jogador tem quatro salários para receber, e clube teria anexado recibos falsos no processo. Atacante Willian e lateral Osmar vivem mesma situação

Por Daniel Mundim Goiânia

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O repertório de polêmicas no Vila Nova é vasto. Jogadores e comissão técnica do clube se preocupam mais em afastar as eternas crises extra-campo do que no futebol propriamente dito. Quando a equipe está parada, como acontece atualmente devido à suspensão temporária da Série C, os bastidores do Tigre fervem ainda mais. Um dia após a diretoria e o técnico Robélio Schneiger discordarem em relação ao contrato do treinador, uma nova bomba surgiu na equipe.
Nesta quarta-feira a diretoria tomou conhecimento das acusações do volante Wendel, que passou pelo clube em 2010 e 2011 - durante o mandato do ex-presidente Geso de Oliveira - de que o Vila Nova teria forjado recibos de pagamento ao atleta. O jogador entrou na Justiça ainda no ano passado para receber R$ 136 mil que o clube lhe devia. O juiz deu ganho de causa para o atleta, e o clube foi intimado a pagar.

Acima, uma assinatura feita por Wendel. Abaixo, a suposta assinatura falsa, referente ao recibo de pagamento de R$ 45.250 (Foto: Reprodução)

Entretanto, em um dos julgamentos do processo, o Vila apresentou vários recibos de pagamento. Dois deles, um de R$ 45.250 mil e outro de $ 1,5 mil, teriam sido forjados. Os advogados de Wendel logo contestaram os documentos, que teriam assinaturas falsas do jogador e pediram um exame grafotécnico para comprovar a veracidade de tais recibos. Em um julgamento posterior, os dois documentos foram retirados dos autos do processo.
- Entrei com ação contra o Vila por não pagamento de quatro salários, de dezembro de 2010, de março, abril e maio de 2011. Quando foi na primeira audiência eles colocaram todos estes valores que eu estava reclamando e fizeram a minha assinatura. Eu vi, conversei com o advogado, e nós pedimos o exame grafotécnico. Na segunda audiência a juíza perguntou se eles queriam cinco dias para conseguir algum documento original, algum comprovante bancário, ou retirariam o documento. Deram esses cinco dias e eles preferiram retirar, ou seja, é praticamente um atestado de confissão – declarou o volante Wendel, que hoje está sem clube.

A juíza deu cinco dias para eles enviarem algum documento oficila, ou comprovante, e eles preferiram retirar, ou seja, é praticamente um atestado de confissão"

Wendel, ex-volante do Vila Nova

Segundo o diretor jurídico do Vila Nova, Rodolfo Mota, esta não é a primeira vez que o clube enfrenta este tipo de acusação. O lateral-direito Osmar, que passou pelo Tigre entre os anos de 2008 e 2010, e que atualmente está no Red Bull Brasil-SP, e o atacante Willian, atualmente no Corinthians, e que esteve no time goiano em 2009, também tiveram experiências parecidas. No processo de ambos, o Vila Nova é acusado de falsificar recibos de pagamento para se livrar das dívidas.
Comissão é criada para investigar caso
Com mais este grande problema para resolver, a atual diretoria decidiu nomear uma comissão de conselheiros do clube para investigar as acusações. Segundo o presidente Marcos Martinez, a comissão será a mesma que apurou as irregularidades do mandato de Eduardo Barbosa, que foi destituído da presidência vilanovense. De acordo com o advogado do clube, Rodolfo Otávio, o grupo investigará se o Vila Nova foi lesado neste episódio. Ele ressalta que o clube em si não responderá pela suposta falsificação, e sim as pessoas que teriam cometido o crime.
- O Vila Nova não falsifica nada. Pessoas podem ter falsificado. O Vila Nova vai ser penalizado somente na ação trabalhista. Já foi instaurada uma sindicância para investigar os fatos, para ver se houve pagamento, se houve saída dos cofres do clube e se o Vila foi lesado. Caso isso tenha acontecido, tentaremos reaver o dinheiro. E se for concluído que não houve falsidade, podemos cobrar do atleta o valor e propor ação por calúnia – argumentou.
O advogado lembra que as acusações recaem para administrações diferentes, portanto não é possível acusar uma só pessoa.
- As informações nos autos narram que as supostas falsificações ocorreram em anos diferentes, então não estamos individualizando em apenas uma administração – explicou.

Segundo Wendel, Vila Nova lhe deve quatro meses de salários (Foto: Diomício Gomes/O Popular)

Ex-presidente se defende
O ex-presidente Geso de Oliveira, que era o mandatário máximo do clube enquanto Wendel passou pelo Vila Nova, se esquivou das acusações. Segundo ele, quem cuidava do departamento de futebol e pagava os salários dos jogadores em seu mandato era a New Ville Sports, empresa comandada por Sizenando Ferro.
- Eu não tenho conhecimento de nada, não tenho recibo. Eu era o presidente, mas cuidava apenas da administração, da manutenção do dia a dia. Quem mexia no futebol, quem pagava jogador era a New Ville, não tenho conhecimento, não tenho recebimento, era o presidente, cuidava apenas a administração, da manutenção no dia a dia. Eu estou tranquilo. Fui eu mesmo que aconselhei o (Marcos) Martinez a fazer a comissão – declarou.
Wendel revelou que o Vila Nova o devia cerca de R$ 80 mil. O volante disse que tentou por várias vezes acertar com o clube, mas nunca obteve êxito. Segundo ele, tudo piorou a partir da entrada da New Ville.

Willian também entrou na Justiça contra o Vila
para receber salários atrasados, e teria sido
prejudicado com recibos falsos (Foto: Marcos
Ribolli / Globoesporte.com)

- Quando assumiu essa New Ville e foi que começaram a atrasar os meus salários, acho que eu não fazia parte dos planos deles. Eu até me encontrei com o Geso, acordamos em parcelar a dívida em oito vezes, nunca dificultei em nada, mas eles nunca honravam – afirmou.
Geso de Oliveira confirmou que se encontrou com o atleta, mas disse que o clube não conseguiu chegar a um acerto com Wendel.
- Ele me procurou uma vez para tentar fazer um acordo para ver se conseguia com o Sizenando o dinheiro, liguei para ele – Sizenando – e não deu certo, então deixei para lá, não quis interceder – revelou.
O GLOBOESPORTE.COM tentou entrar em contato com o ex-presidente da New Ville Sports, Sizenando Ferro, mas ele não atendeu as ligações.
Sentença marcada
Segundo Wendel, a próxima sentença de seu caso já tem data marcada. Será no dia 20 de junho, e por enquanto a dívida do Vila Nova com o Juninho ainda se mantém em R$ 136 mil. O volante ressaltou que não se importa em saber quais foram as pessoas responsáveis pela suposta falsificação no recibo, e sim em receber o dinheiro que tem direito.
- Não tenho nem como saber – o responsável pela falsificação –, mas não estou preocupado com essas coisas, minha preocupação é só receber o que o Vila me deve – disse.