sábado, 26 de janeiro de 2013

Ramírez estreia na Ponte com gol 'à la Ronaldinho' e decide o dérbi 190
Com pouco tempo em campo, peruano mostra estrela, faz um gol e dá passe para outro. Resultado derruba o técnico Zé Teodoro, do Guarani
 
 
A CRÔNICA
por Murilo Borges e Guto Marchiori
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Luizão. Gigena. Medina. Weldon... O maior clássico do interior do Brasil é repleto de estrelas que, logo em seu primeiro dérbi, decidem a favor de seus times. Os historiadores podem colocar agora mais um nome à relação: Luís Ramírez. Principal contratação da Ponte Preta para a temporada, o peruano decidiu para a Macaca nos poucos minutos que esteve em campo. Fez um gol de falta por cobertura (semelhante ao de Ronaldinho Gaúcho contra a Inglaterra, na Copa do Mundo de 2002) e deu o passe para Bruno Silva matar o Guarani e garantir a vitória por 3 a 1 no encontro de número 190 entre os rivais, neste sábado, no Brinco de Ouro, pela terceira rodada do Campeonato Paulista. William abriu o placar para a Macaca, enquanto Fumagalli descontou para o Bugre, ambos no primeiro tempo. Após a partida, Zé Teodoro entregou o cargo.
Assim como há um herói, o confronto deste sábado adicionou um vilão à história. Emerson falhou no lance do segundo gol da Ponte Preta e foi muito vaiado pelos pouco mais de cinco mil bugrinos que foram ao estádio. Depois de uma renovação longa no fim do ano, o titular começa a ver a estrela do reserva Juliano pintar no horizonte.
Gol Ponte Preta x Guarani (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)Agarrado por Baraka, Bruno Silva festeja gol derradeiro do dérbi (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
Além de Emerson, outro ponto decepcionante aconteceu nas arquibancadas. Com pouco mais de sete mil pagantes, o dérbi deste sábado tem o quarto pior público da centenária história do clássico. No último encontro entre Guarani e Ponte, válido pela semifinal do Paulistão de 2012, o dobro de torcedores compareceu ao mesmo Brinco de Ouro. Um retrato do enfraquecimento da marca bugrina, que detinha 16,5 mil dos 18 mil ingressos à venda.
O resultado mantém a Ponte Preta em alta no Paulistão. Ainda invicta em 2013, a Macaca chega a sete pontos em nove disputados e assume provisoriamente a liderança do estadual - antes, havia empatado sem gols com o Mogi Mirim e vencido o Corinthians no Pacaembu, por 1 a 0. Guto Ferreira tem motivos para comemorar: é sua segunda vitória consecutiva como visitante.
Na outra ponta do confronto, Zé Teodoro viu a pressão em seus ombros aumentar e não aguentou. O treinador deixa o clube sem saber o gosto de vencer uma partida pelo Guarani. Com duas derrotas e um empate, o Bugre está na parte inferior da classificação, dentro da zona de rebaixamento, e pode começar a se preocupar com a irregularidade. Quem também lamenta é Fumagalli, que, apesar do belo gol no primeiro tempo, perdeu a invencibilidade em dérbis.
No retrospecto geral, a vantagem ainda é do Guarani, com 66 vitórias. A Ponte levou a melhor em 61 oportunidades. Foram ainda 62 empates e um resultado desconhecido.
O Guarani volta a campo na quinta-feira, novamente no Brinco de Ouro. O Bugre recebe o Bragantino, às 19h30m, neste que será o terceiro confronto seguido como mandante no Paulistão. Um dia antes, porém, a Ponte Preta recebe o Oeste, às 19h30m, no Estádio Moisés Lucarelli.
Apesar de ser a segunda partida da Macaca como mandante, será a primeira atuação do time em seu estádio. Isso porque a estreia, contra o Mogi Mirim, aconteceu no Estádio Décio Vitta, em Americana, porque o Majestoso estava interditado pela Federação Paulista de Futebol (FPF).
Guarani x Ponte Preta (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)Siloé marcado por Artur: Bugre e Macaca lutam pela
vitória (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
Ponte usa falhas, Bugre vai na vontade
O maior clássico do interior paulista transformou-se, como previra Zé Teodoro, em um jogo de xadrex. E, na mudança das peças, o treinador bugrino encurralou o rival pontepretano nos momentos iniciais do primeiro tempo. No 4-2-3-1, o Guarani freou as investidas de Cicinho pela direita e os avanços de Uendel pela esquerda. Depois de anular as peças, o time partiu para o ataque, sempre no ritmo de Fumagalli.
Recuperado da lesão no calcanhar esquerdo, o meia arriscou a primeira finalização aos seis minutos, mas foi travado. Também fez lançamentos para Siloé, que, ao lado de Eusébio, dificultavam a vida de Artur pela lateral-direita da Ponte. Do outro lado do gramado, Dener tinha a responsabilidade de encostar no solitário atacante do Guarani. O ex~são-paulino se destacou pela velocidade, mas pecou nos arremates.
Demorou para a Ponte Preta equilibrar a partida, mas, quando conseguiu, fez exatamente aquilo o que o técnico considera ideal em seus times: explorar os pontos fracos do adversário. Nas costas de Bruno Recife, Chiquinho fez a festa, ao quase abrir o placar aos 17 minutos - Emerson defendeu. A resposta do Guarani veio rápida, quando Fumagalli deixou Siloé frente a frente com Edson Bastos, mas o goleiro foi mais veloz e se deu melhor.
William gol Ponte Preta x Guarani (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)William e Cicinho se abraçam para festejar primeiro gol do dérbi (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
O jogo da Ponte já estava consolidado. Mais eficiente do que o rival, a Macaca precisou de mais dois contragolpes certeiros para abrir o placar. Na primeira, Chiquinho passou por Recife, mas cruzou fraco para William. O erro serviu para o aperfeiçoamento minutos depois. Wellington Bruno caiu pela direita, enxergou falha de posicionamento de Montoya e mandou na cabeça do artilheiro, que não perdoou Emerson: 1 a 0.
A desvantagem aumentou a pressão do Guarani, que, não mais organizado como no início, criou suas chances de forma desordenada. Primeiro, Dener furou cruzamento de Oziel. Depois, Eusébio encheu o pé e parou no peito de Edson Bastos. Até cair no pé de quem mais sabe o que é a rivalidade centenária entre os times de Campinas. Após cruzamento de Oziel e desvio de Siloé, Fumagalli acertou um sem-pulo de primeira e colocou tudo igual.
Ramírez vira peça fundamental e acaba com o rival
A intensidade do primeiro tempo se perdeu nos vestiários. Zé Teodoro e Guto Ferreira mantiveram os times que iniciaram o jogo, mas o ritmo não foi mais de um clássico da magnitude de um dérbi. Do lado do Guarani, Siloé pareceu disperso, tanto nos dribles como na finalização (perdeu boa oportunidade de virar o jogo ao demorar para chutar). Na Ponte, quem decepcionou foi Wellington Bruno, preso entre os volantes adversários e sem pique para acompanhar Cicinho e Chiquinho.
Para que o clássico recuperasse o futebol da primeira etapa, os técnicos usaram o banco. Zé Teodoro sacou Sopa, machucado, e garantiu o debute de Michel Elói pelo Bugre. Já Guto Ferreira atendeu o pedido da torcida e pôs o peruano Luís Ramírez em campo, também para sua estreia. Ferrugem, pela Ponte, e Weslley, pelo Guarani, foram as demais novidades para a reta final do dérbi.
Se o xadrex de Zé Teodoro funcionou no primeiro tempo, Guto Ferreira respondeu com um belo xeque ao alterar a Ponte Preta. Logo em sua primeira participação importante na partida, Ramírez mostrou o porquê da tamanha expectativa em seu futebol. Cobrou falta por cobertura - se sem querer ou não, só ele sabe - e surpreendeu Emerson, recolocando a Macaca na frente.
Nem deu tempo para Zé Teodoro pensar em mudar o time. Três minutos após o golaço de Ramírez, Guto Ferreira comemorou o xeque-mate com requintes de crueldade. Após passe do peruano, Bruno Silva dominou pelo lado direito e acertou o cantinho da baliza de Emerson, causando sensações opostas no Brinco: a fúria bugrina com o camisa 1 e o êxtase pontepretano ao praticamente decidir a parada.
Até o final, os bugrinos tiveram que aguentar a gozação. A torcida pontepretana, com gritos de "olé", embalava a partida, enquanto os jogadores em campo trocavam passes com a tranquilidade de quem sabe que já finalizou o adversário. Decepcionados, os bugrinos foram aos poucos esvaziando o já vazio Brinco de Ouro, na cena que fecha o dérbi 190. O embalo da Ponte, reforçado por um peruano que veio para ficar, foi superior à vontade do Guarani.

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