terça-feira, 6 de agosto de 2013

Cigano prevê mais que uma trilogia com Velásquez: 'Cinco ou seis lutas'

Peso-pesado diz que derrota para americano o marcou mais que vitória
no primeiro confronto e que leva vantagem mental: 'Ele não acabou a luta'

Por Rio de Janeiro
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No dia 19 de outubro, o UFC verá sua primeira trilogia valendo um cinturão na história da categoria peso-pesado, quando o atual campeão, Cain Velásquez, enfrentar pela terceira vez o desafiante número 1, Junior Cigano, em Houston, EUA, no UFC 166. Todas as lutas valeram cinturão: a primeira, em novembro de 2011, foi vencida pelo brasileiro; na segunda, em dezembro de 2012, o americano de raízes mexicanas tomou o título de volta.
Junior Cigano (Foto: Adriano Albuquerque)Junior Cigano em almoço com a imprensa antes do UFC Rio 4(Foto: Adriano Albuquerque)
Ambos os lutadores são os responsáveis pelas únicas derrotas um do outro no UFC; de resto, praticamente não foram ameaçados por seus demais adversários dentro do octógono. Além disso, são relativamente jovens: Velásquez tem 31 anos de idade e Cigano, 28. Por tudo isso, o lutador catarinense radicado na Bahia acredita que sua rivalidade com o americano se estenderá além do tira-teima de outubro.
- A luta que eu mais quero agora é essa, porque foi o cara contra quem eu ganhei o cinturão, que me tirou o cinturão, e que vejo como meu maior oponente dentro do UFC hoje. Não quero nenhuma outra luta, quero essa, mesmo que não fosse pelo cinturão. É lógico que eu ia querer quem estivesse com o cinturão, pois é outra realidade - com o cinturão e sem o cinturão, é totalmente diferente, minha intenção é ser o campeão. Como ele é o campeão, é um momento muito bom para ele e muito bom para mim. E quanto à trilogia, acho que vai passar disso. Vai ser quatro, ou cinco, ou seis vezes, porque ele é um cara bom pra caramba, diferenciado, e eu vou fazer de tudo para me manter no topo da categoria também. Acho que vamos nos encontrar várias vezes - afirmou Cigano num almoço com membros selecionados da imprensa na última sexta-feira, no Rio de Janeiro.
Sei que sou melhor do que aquilo que mostrei, tenho essa consciência, e agora quero trabalhar duro para mostrar quem eu sou. A derrota ficou mais marcada. É de onde você tira mais aprendizado, das falhas"
Junior Cigano, lutador do UFC
O enorme interesse de Cigano em enfrentar Velásquez se justifica não só pelo fato de o americano ser o detentor do cinturão, mas pela marca indelével que sua vitória por pontos em cinco rounds, no evento principal do UFC 155, deixou na psique do brasileiro. O ex-campeão peso-pesado, que desde então se recuperou com um nocaute sobre Mark Hunt no UFC 160, em maio passado, admite que a derrota ofuscou a memória do seu triunfo por nocaute, em apenas 1m04s, no primeiro encontro entre os dois, quando conquistou o título que manteve por pouco mais de um ano.
- A derrota (ficou mais marcada). A vitória foi um momento maravilhoso da minha vida, me tornei o que eu nem sonhava ser um dia, campeão, foi incrível, mas perder, e da forma que eu perdi, marcou mais. Me incomodou por um tempo mais. Agora não incomoda mais porque superei, tirei um aprendizado daquilo. Sei que sou melhor do que aquilo que mostrei, tenho essa consciência, e agora quero trabalhar duro para mostrar quem eu sou. A derrota ficou mais marcada. É de onde você tira mais aprendizado, das falhas - contou.
Apesar disso e do domínio exercido por Velásquez na revanche, Cigano acredita que terá a vantagem mental quando reencontrar o atual campeão em outubro. Segundo ele, a memória de que o brasileiro pode terminar a luta com apenas um golpe será suficiente para que o americano seja cauteloso.
- Acho que vai ser um problema para ele, na mente, porque ele deu tudo o que tinha e não conseguiu terminar a luta. Eu terminei a luta em um minuto. É bem diferente. Acho que numa luta de contato total, tenho a vantagem, e acho que ele sabe disso. Tanto eu quanto ele temos que ser quase perfeitos na nossa estratégia para ganharmos a luta - explicou.
Confira alguns tópicos abordados por Cigano em seu bate-papo com a imprensa:
Declaração de que Velásquez 'bate como uma moça'
"Não foi exagerado e não quis gerar reação nenhuma. É que as pessoas têm a tendência a entender sempre no sentido ruim. Falei até na frente do Cain mesmo que não tinha a intenção de desrespeitá-lo. É porque eu estava num programa de comédia na rádio, e falei que tinha ficado muito inchado, mas não tinha corte na cara. E o cara quando pega, quando tem pegada, os cortes aparecem logo. Daí, falei que não bate tão forte assim, falei que batia como uma moça. Me perguntaram, falei que disse mesmo, mas não foi para desrespeitar. Na coletiva, ele não falou nada, só deu risada. Mas aí, na outra coletiva, em Nova York, ele falou alguma besteira lá, que eu preferi não... Disse que eu ia apanhar como uma menina de novo..."
Cigano e Cain Velasquez , UFC 155 (Foto: Getty Images)Junior Cigano e Cain Velasquez  na segunda luta entre eles, no UFC 155 (Foto: Getty Images)
Declaração é forma de se motivar?
"Minha motivação está longe disso. É a mudança que minha vida teve, as oportunidades que estou tendo, que tive para mudar a vida da minha família. Não preciso falar mal. Tanto eu quanto ele, somos muito respeitosos um com o outro. Até falei lá que, para mim, ele seria um bom campeão, se ele não estivesse na minha categoria (risos). Como ele está, não vai ser."
Outros potenciais desafiantes nos pesos-pesados
"Agora mesmo, não estou vendo nada. Até por causa do resultado que teve, minha cabeça está totalmente voltada para o Cain. Se você pedir para eu dar uma revisada na categoria, nem vou saber dizer, mas com certeza tem, porque é o peso-pesado, sempre tem que ter muito cuidado, porque um soco pode mudar tudo."
Lutar contra brasileiros é um problema?
"Não, só com o Minotauro que não dá."
Erros na revanche com Velásquez
"Dei muito espaço. Nos primeiros três minutos da luta, defendi todas as quedas dele, ele não conseguiu me derrubar e já estava com um semblante até de frustração, mas depois que entrou o soco, que eu senti, aí mudou tudo. Nesse início de luta, eu dei muito espaço para ele, porque ele caía no chão e é MMA, você tem que aproveitar a luta em qualquer lugar. Em vez de eu aproveitar quando ele caía no chão e ir por cima para marcar pontos... Você tem que jogar com a regra, foi um dos meus maiores aprendizados. Eu saía e me afastava, ele se levantava. Foi uma situação muito confortável para ele. Conseguiu um bom golpe e mudou tudo. Aí fiquei meio no automático até o terceiro round. No quarto round, começo a dar uma recuperada. Já assisti várias vezes a luta..."
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o Cain deu tudo dele e eu era só um bobo ali. Eu não batia, não reagia, ele só tinha momentos bons. E com todos os momentos bons que ele teve, mesmo assim, ele não acabou com a luta"
Junior Cigano
Golpe de Velásquez desmoralizou?
"Acho que não, ainda mais no peso-pesado. Acho que ao contrário, mostrou o quanto duro eu sou para ser nocauteado, porque eu apaguei, tanto que eu nem lembrava do golpe. O Dórea veio me falar depois, "Você sentiu o golpe" e eu disse, "Que golpe, professor? Não senti nada! Bate que nem uma moça!" Falei de novo esse negócio... Mas com respeito, por favor! (risos) A Miesha até falou, "Acho que isso não é uma crítica que ele está fazendo, é uma crítica positiva..." (risos) Nem lembrava do golpe. Acho que foi uma coisa até boa, vi que suporto golpe, passei um momento muito difícil e voltei. Continuei lutando por cinco rounds, ninguém acreditava. Só fiquei meio voando (risos). Mas o Cain deu tudo dele e eu era só um bobo ali. Eu não batia, não reagia, ele só tinha momentos bons. E com todos os momentos bons que ele teve, mesmo assim, ele não acabou com a luta."
Houve excesso de confiança no nocaute?
"Sempre tenho (confiança no nocaute), sempre vou com a consciência de que posso nocautear, mas não teve excesso, excesso de confiança não é uma coisa que passa por mim, não faz parte da minha característica, porque tenho consciência que os lutadores lá, ainda mais o Velásquez, são muito duros. Eu sempre treino demais. Tanto respeitei ele que deu o overtraining. Treinei muito, foi o maior treino que eu já fiz. Foi muito pesado e passou da conta."
Especulação de que derrota teria sido vendida
"Me deixa triste porque estão falando da índole da gente, de vender... Isso é um absurdo, porque você sendo campeão, no meu caso, eu ganhava sete, oito vezes mais sendo campeão do que eu ganho agora. Você acha que ia trocar por algum dinheirinho, deixar de ser campeão? Não existe isso. Isso machuca, deixa um pouco triste, mas acho que é na inocência mesmo de não conhecer. A gente conheceu uma época no boxe em que ouvia-se falar dessa coisa de vender lutas. No UFC, não existe isso. O boxe é totalmente diferente. Aqui, a gente é empregado do UFC, lá, meu empresário é meu patrão, ele que vai vender a luta, sempre vai ter aquela discussão. Aqui, eles que fecham a luta e pronto. Não existe vender a luta no UFC. O pessoal ainda não pegou esses detalhes, mas acho que estão aprendendo."
Especulações: fruto da falta de conhecimento dos fãs?
"O esporte cresceu mais no nosso país depois que foi para a TV aberta, que as pessoas começaram a conhecer um pouco mais e gostar. Antes, todo mundo falava que era briga, que estavam saindo na porrada... Agora conhecem um pouco mais, sabem que lutador treina pra caramba, se dedica, tem uma vida regrada, não é fácil, está competindo, trocando técnicas, vendo quem é o melhor. Não é briga, é uma luta. As pessoas começaram a virar fãs e, quanto mais elas aprendem, mais vão gostar."
Luta no Brasil
"Na verdade, não ligo onde vai ser minha luta, só me preparo, vou e luto. Mas é claro que quero lutar no meu país, o UFC até já sabe da minha vontade. Alguma hora, acontece. Não vou forçar nada. Peso-pesado, é um evento que eles gostam de fazer num horário que seja compatível para o mundo todo, deve ter alguma coisa disso. Mas alguma hora acontece. Se Deus quiser, eu recupero esse cinturão e aí eu posso exigir (risos)"
Quem sabe após um TUF Brasil entre ele e Fabricio Werdum?
"Eu e Werdum? No TUF? Acho que não. Para lutar pelo cinturão, ele está na cara do gol. Acho que talvez role isso. Se Deus quiser, eu vou pegar esse cinturão e talvez eles coloquem ele (contra mim)."
Cigano Pesagem UFC Rio (Foto: Adriano Albuquerque)Na sexta, Cigano participou de sessão de perguntas e respostas com fãs do Rio (Foto: Adriano Albuquerque)
Possibilidade de Vitor Belfort subir aos pesos-pesados
"Ele disse isso? Ele não está maluco, ele tem condições, já lutou nos pesados né? Vai ter que ganhar um peso, botar uma carcaça lá. Não sou contra não, ele tem condições, até porque o Vitor mesmo é grande, o Anderson também, são caras grandes, que dariam o peso se fizessem um treino de força. A coisa boa do peso-pesado para um cara desse é que não tem o sofrimento de ter que bater peso, não tem o desgaste. Talvez a gente possa ver até melhores performances deles, do Vitor e outros, porque não vão ter que se preocupar (em cortar peso), que nem eu! Mas eu não quero ficar grande também. Às vezes o pessoal quer fazer treino para eu ficar mais forte e eu digo que não, meu diferencial é a velocidade, vou ficar grande para que? Para ficar um Brock Lesnar da vida? Mas para eles tem sentido, porque eles estariam grandes, num peso bom, muito fortes. O negócio dos pesos-pesados é que eles são fortes, batem fortes, mas são lentos, e talvez um cara assim não fosse tão lento."
Lutador com quem gostaria de conviver mais
"José Aldo. Sei que é um cara muito gente boa, mas tenho muito pouco convívio com ele. Gostaria de saber um pouco mais. É um cara tranquilão, normal, tem a família e a filha dele. Eu o admiro muito."
Intercâmbios em outras equipes
"Depois que o esporte começou a crescer mais, fiquei sem tempo. Nunca mais vim ao Rio de Janeiro para treinar aqui. Sinto falta. É importante fazer esse intercâmbio. Nunca mais fui aos Estados Unidos. Tem que ir, porque é outro ensinamento, outro aprendizado. Uma besteira que você pode saber, eu não sei, e pode ser interessante."

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