terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Vitor Belfort pode ser licenciado para lutar em Las Vegas, diz diretor

Líder da Comissão Atlética de Nevada, Keith Kizer lembra que carioca lutou na cidade em 2011, mas se mostra reticente sobre isenção para uso de TRT

Por Direto de Las Vegas, EUA
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Desde que foi revelado que o lutador Vitor Belfort estava fazendo uso da polêmica terapia de reposição de testosterona (TRT), no início de 2013, fãs e especialistas em MMA vêm especulando que o carioca só luta no Brasil, sede de seus últimos três combates, porque só no país ele recebe permissão para o uso do tratamento. A especulação é baseada numa declaração de Keith Kizer, diretor executivo da Comissão Atlética do Estado de Nevada (NSAC), de que Belfort não receberia a mesma isenção sob sua jurisdição, devido a um exame antidoping positivo em Las Vegas no passado.
Em entrevista ao Combate.com, todavia, Kizer afirmou que vem sendo mal interpretado. Com boatos de que o UFC estaria planejando a luta entre Belfort e o atual campeão dos pesos-médios, Chris Weidman, para Las Vegas, o líder da NSAC negou que o brasileiro seria impedido de lutar no estado. Ele explicou que o ex-campeão peso-meio-pesado do UFC precisaria comprovar que sua deficiência de testosterona não tem relação com uso anterior das chamadas "drogas de melhora de rendimento", ou "drogas de performance", mas se mostrou aberto a analisar o caso do carioca.
Vitor Belfort e Dan Henderson UFC Goiânia (Foto: Getty Images)Para lutar em Las Vegas, Vitor Belfort precisa provar que a necessidade do TRT não está relacionado com uso anterior de 'drogas de melhora de rendimento'  (Foto: Getty Images)
- Foi distorcido e mal entendido em alguns lugares. Ouvi gente dizer que ele não pode se licenciar aqui. É claro que ele pode! Ele recebeu uma licença aqui há dois anos (em 2011, para a luta contra Anderson Silva). A questão é se ele poderia ser elegível para uma isenção para uso de TRT, e essa é uma decisão da comissão. O obstáculo que ele teria, diferente de alguns outros - e só cedemos essa isenção seis vezes em toda a nossa história - é provar que sua deficiência não é relacionada a uso anterior de drogas de melhora de desempenho. Se ele não conseguir, pelas regras da Wada, ele não seria qualificado a receber a isenção. Se ele mostrar que não é relacionado, aí ele seria elegível, mas ainda seria uma decisão da comissão. Se ele não puder provar que não tem relação com drogas de performance, aí a comissão poderia negar, baseado nas políticas da Wada, pois seria causado por ele próprio - explanou Kizer.
Como Belfort comprovará isso, o próprio Kizer não sabe. O diretor médico da Comissão Atlética Brasileira de MMA, Dr. Márcio Tannure, já declarou anteriormente ser difícil determinar as causas de uma deficiência. O lutador, todavia, já usou como argumento o fato que Chael Sonnen, flagrado em 2010 por níveis elevados de testosterona na Califórnia, recebeu uma isenção para uso de TRT da comissão de Nevada nos últimos dois anos. Kizer admitiu que não esperava, no início do processo, que Sonnen conseguiria a permissão, mas disse que a NSAC decidiu conceder a isenção após uma extensa investigação.
Chael Sonnen teve de nos dar umas 200 páginas de documentos que nossos médicos analisaram"
Keith Kizer
- A informação médica que recebemos indicou que não era devido a uso anterior de drogas de performance. Mas cada paciente é diferente, tem um passado diferente, uma situação presente diferente. Temos de tratar caso a caso, não dá para tomar uma decisão mútua, com conclusões arbitrárias. Chael Sonnen teve de nos dar umas 200 páginas de documentos que nossos médicos analisaram. Falamos com especialistas, buscamos informações adicionais sobre o Chael. Esse foi um caso em que não teria ficado surpreso, na época, se a comissão tivesse dito não, mas seu manager, Jeff Mayer, fez um ótimo trabalho em reunir todos esses documentos e levá-los à comissão. Médicos diferentes analisaram, e chegaram à decisão de dar a isenção com exames adicionais. Fizemos muitos testes de sangue e urina nele antes da luta, e ele colaborou completamente. Ele foi o único lutador para quem demos uma isenção, em qualquer esporte, em todo o último ano, e ele teve de passar por todos esses obstáculos. Não vejo um paralelo entre os dois, mas ele é livre para usar esse argumento. Nós sempre tivemos uma boa relação com Vitor Belfort, mas não vamos esquecer que ele lutou aqui sob influência de drogas de performance nos seus dias de Pride - afirmou Kizer.
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Vitor Belfort foi flagrado por uso de um composto de testosterona em 2006, em sua primeira luta contra Dan Henderson, pelo Pride, em Las Vegas. Mesmo que não tenha a isenção para uso de TRT concedida, o brasileiro pode ser submetido a um novo e rigoroso protocolo de exames antidoping, usado pela NSAC no MMA pela primeira vez no UFC 168, no último fim de semana. Os escolhidos foram os pesos-pesados Travis Browne e Josh Barnett - esse último, pego por uso de substâncias ilícitas em 2002, quando conquistou o cinturão do UFC ao derrotar Randy Couture.
 Keith Kizer  executive director of the Nevada State Athletic Comission (Foto: Getty Images) Keith Kizer se mostra aberto a analisar caso de Vitor Belfort na Comissão Atlética do Estado de Nevada (Foto: Getty Images)
- É basicamente o mesmo protocolo que fizemos para Tim Bradley e Juan Marquez, para a luta de boxe deles em outubro aqui em Las Vegas. Trabalhamos com um laboratório em Salt Lake City que é credenciado pela Wada, o Sports Medical and Research Laboratory. Digo ao laboratório quando quero o lutador examinado e que quero sangue e urina, o laboratório decide quais exames administrar baseado em seus protocolos e padrões da Wada, e nesta situação testamos ambos os caras. Quando tudo terminar, eles terão cedido cerca de seis amostras de urina e cinco amostras de sangue. O sangue está sendo testado para passaporte biológico e para HGH, então é bem detalhado, e acho que foi uma boa pedida da comissão, baseado no histórico do Sr. Barnett. Esta será uma opção que a comissão terá com lutadores que falharam em exames antidoping no passado em lutas aqui e pedirem para ser licenciados aqui - contou.
Nós sempre tivemos uma boa relação com Vitor Belfort, mas não vamos esquecer que ele lutou aqui sob influência de drogas de performance nos seus dias de Pride"
Keith Kizer
Apesar da resistência ao caso de Belfort e de frisar que a NSAC só cedeu seis isenções para uso de TRT em toda a sua história, Keith Kizer defendeu a terapia como um tratamento legítimo e alertou para os riscos da deficiência de testosterona para homens.
- É algo que precisa ser tratado muito seriamente. A política que puxamos da Wada tem sido bem sucedida até aqui. Acho que muitas pessoas não entendem, presumindo que tudo é legítimo, o quão grande é o risco para uma pessoa - esqueça o atleta, mas uma pessoa - com deficiência de testosterona. Não é alguém apenas com testosterona baixa, mas abaixo do normal. O tipo de complicações que isso pode trazer, no presente e no futuro. Não é uma analogia exata, mas às vezes comparo com os diabéticos. Insulina pode ser uma droga de performance se você abusar dela e não usá-la corretamente. Mas você não diria necessariamente para alguém, especialmente um jovem atleta, "Ei, você não pode praticar o esporte porque você é diabético". Você precisa ser mais vigilante, é muito mais trabalho, muito mais chateação pela qual você tem que passar, e não só o atleta, mas eu mesmo, os médicos, os comissários, os promotores, com o monitoramento, os testes. Mas temos que ser justos com esses atletas que têm uma condição médica, ver se há uma forma de eles se tratarem, sem colocá-los em risco e sem dar a eles uma vantagem. Precisa ser monitorado apropriadamente - concluiu.

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