terça-feira, 1 de abril de 2014

Primeiro iraquiano do UFC lembra infância no país: 'Vi muitas bombas'

Alan Omer, que estreia em Abu Dhabi, diz representar primeiro a Alemanha, país que o refugiou após seu pai ser perseguido por Saddam Hussein

Por Rio de Janeiro
Alan Omer MMA UFC (Foto: Tim Leidecker/Control Master Management)Alan Omer é o primeiro iraquiano a lutar no UFC
(Foto: Tim Leidecker/Control Master Management)
No próximo dia 11 de abril, Alan Omer vai entrar no octógono na primeira luta do card preliminar do UFC: Minotauro x Nelson, e vai se tornar o primeiro lutador iraquiano a atuar pela organização. Omer, todavia, passou apenas pouco mais de três anos de sua vida no Curdistão iraquiano, região do Iraque onde nasceu e cresceu. Em 1992, sua família foi forçada a fugir do país por conta da Guerra do Golfo. Seu pai era um médico no exército iraquiano, postado na fronteira com o Kuwait, e toda sua infantaria desertou quando a guerra foi declarada. O ditador Saddam Hussein não gostou nada da "traição" e sentenciou todos à morte.
Aí começou a jornada de Alan Omer e sua família. Eles passaram pela Síria, Jordânia e Iêmen, países também envolvidos em guerras civis e bombardeios.
- Tenho algumas memórias, não muitas. Quando eu saí, a guerra tinha acabado, mas estava tudo destruído, todas as sanções, não tinha muita comida. Todos os problemas causados pela guerra, eu vi tudo. Quando saímos do Iraque, eu tinha 2 ou 3 anos, fomos para o Iêmen por três anos, e a mesma coisa estava acontecendo lá. Houve uma guerra civil enquanto estávamos lá. Vi muitas guerras. Eu sempre cresci vendo militares, brigas... Vi muitas brigas quando tinha 2 ou 3 anos. Vi a guerra civil dos curdos, via jatos militares voando sobre nossas cabeças e bombardeando a cerca de um ou dois quilômetros de nós. Vi tudo isso. Mas... Você se acostuma com isso. Você precisa, senão não sobrevive. Nos acostumamos a isso - afirmou Omer ao Combate.com.
Sua vida mudou quando sua família seguiu para a Alemanha, quando tinha seis anos de idade.
- Houve muita gente que fugiu do Iraque para a Alemanha. Era como um paraíso, uma grande diferença para o Oriente Médio. Quando chegamos, não tínhamos uma grande situação financeira, mas tínhamos segurança.
Seu pai ficou impedido de trabalhar como médico por causa da burocracia para se obter as licenças para atuar na área na Alemanha, mas a família recebeu ajuda financeira do governo para se manter no país. Por isso, mesmo após seu pai retornar ao Curdistão iraquiano há dois anos, Omer se sente primeiro como um representante alemão. Da mesma forma, não sente que tem uma responsabilidade de "melhorar" a imagem dos iraquianos perante o mundo.
- Primeiro, represento a Alemanha, porque a Alemanha me ajudou com tantas coisas. Minha vida inteira foi na Alemanha. Mas também represento o Curdistão, a região do Curdistão do Iraque. Não penso que tenho uma responsabilidade. Apenas penso em como estou me comportando. Não sou responsável por 200 milhões de pessoas. Não posso mudar a mente das pessoas daqui do Oeste sobre como pensam. Falo de mim e só de um grupo pequeno. Não me sinto responsável por isso - explicou.
Alan Omer MMA UFC (Foto: Darren Benson/Divulgação)Alan Omer (dir.) em ação no Bamma, evento do qual foi campeão (Foto: Darren Benson/Divulgação)
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Apesar da "herança" de guerra, a luta chegou até Alan Omer por acidente. Alguns amigos o convenceram a ir à academia para treinar e logo o peso-pena estava apaixonado pelas artes marciais.
- Nos primeiros dois anos, eu não sabia o que MMA era. Eu só sabia o que estava fazendo ali, mas não sabia que existia um UFC, um Pride, lutas televisionadas e que dava para ganhar dinheiro com isso. Eu estava apenas treinando e lutando e, depois disso, percebi isso. A cena na Alemanha não era muito grande.
Uma vez que descobriu, engatou numa carreira de sucesso. Em 21 lutas, venceu 18, incluindo nove das últimas 10. Ele tem seis vitórias por nocaute, 10 por finalização e apenas duas por pontos.
- Eu não tenho medo de lutar. Sou um lutador agressivo. Não entro para ganhar por pontos, ou para usar uma estratégia para não me machucar, ou fazer uma luta segura. Eu entro e luto. É isso que me torna um bom lutador, não tenho medo de andar pra frente e buscar a luta.
Agora, ele espera que sua participação no evento ajude a tornar o MMA mais popular tanto na Alemanha, quanto no Iraque, aonde voltou nos últimos anos para visitar o pai e a família.
- Após assinar com o UFC, muitas pessoas (do Iraque) me mandaram e-mails, me procuraram no Facebook, e escrevi de volta. Eles estão bem cientes disso. Eles gostam, começaram a gostar. É só o começo. No Oriente Médio, eles conhecem MMA há talvez dois ou três anos, mas está crescendo a cada dia. As pessoas lá adoram esportes de combate, estão conhecendo aos poucos e acredito que o Oriente Médio será um dos maiores mercados do MMA - garantiu.
UFC: Minotauro x Nelson
11 de abril de 2014, em Abu Dhabi (EAU)
CARD PRINCIPAL
Peso-pesado: Rodrigo Minotauro x Roy Nelson
Peso-pena: Clay Guida x Tatsuya Kawajiri
Peso-meio-médio: John Howard x Ryan LaFlare
Peso-leve: Ramsey Nijem x Beniel Dariush
CARD PRELIMINAR
Peso-pesado: Jared Rosholt x Daniel Omielanczuk
Peso-galo: Rani Yahya x Johnny Bedford
Peso-médio: Thales Leites x Trevor Smith
Peso-médio: Chris Camozzi x Andrew Craig
Peso-mosca: Alptekin Ozkilic x Dustin Ortiz
Peso-pena: Alan Omer x Jim Alers

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