terça-feira, 13 de maio de 2014

"Tem TRT na NBA, no beisebol... Por que não no MMA?", indaga Belfort

Vitor se diz vítima de preconceito e não engole forma como se deu o fim do tratamento: "Não foi fácil esse banimento, como se fosse da noite para o dia"

Por Rio de Janeiro
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Muitos lutadores faziam uso do TRT (tratamento de reposição de testosterona) até o banimento do mesmo por parte das comissões atléticas de MMA mais importantes do mundo. Frank Mir, Chael Sonnen, Dan Henderson, Antônio Pezão... Mas o centro das atenções - e das críticas - era Vitor Belfort. Talvez por seus nocautes espetaculares. Talvez por estar passando com facilidade por seus adversários. Começaram a associar as boas performances ao uso da terapia. Como poderia um veterano fazer o que ele estava fazendo?
A dúvida não existirá mais a partir da próxima luta de Belfort, já que o TRT está proibido. O peso-médio brasileiro, aos 37 anos, terá de se adaptar à nova realidade e acredita que, sim, estará em desvantagem a partir de agora. Mas só na parte física, porque a técnica continua impecável, segundo ele. Em entrevista ao Combate.com, Vitor se disse vítima de preconceito e, em forma de defesa, comparou o MMA aos esportes mais populares dos EUA.
Vitor Belfort MMA (Foto: Ivan Raupp)Maduro, Vitor Belfort se orgulha dos fios de cabelo brancos (Foto: Ivan Raupp)
- Tecnicamente não mudou nada. Mas é como se fosse o seguinte. Uma pessoa tem diabetes, e o cara usa insulina. Insulina é doping. Hoje, se algum atleta tentar fazer uso de insulina, estará fazendo algo errado, trapacendo. Mas se você tirar a insulina de um diabético, é uma coisa grave, né? É uma coisa médica. Existe essa doença. É uma coisa comprovada. Nos meus exames de sangue, o nível está baixo. Não sei explicar a parte científica. Se você tiver problema de pressão alta e não tomar remédio, sua pressão não vai estar boa. Se você tiver problema de asma... Sabia que a bombinha de asma é doping? Um asmático não vai poder lutar mais? É proibido? O que fizeram comigo foi proibir como se fosse uma coisa ilegal. Hoje tem TRT na NBA (liga de basquete profissional dos EUA), no futebol americano, no beisebol. Por que não no MMA? Por que esse preconceito? Porque um brasileiro estava se destacando, nocauteando todo mundo? Não sei. Foi difícil, mas não é impossível. Tenho o Dr. Rodrigo Mauro, que é um cara craque. Hoje toda minha energia é mais. Estou me sentindo tão bem que tenho que achar mecanismos como alimentação, suplementação... Os meus receptores têm que começar a receber e a me dar energia. Hoje, graças a Deus, estou bem, feliz, alegre e com o foco em ganhar aquilo a que tenho direito.
A idade não tem sido um problema na vida de Belfort. Muito pelo contrário. O lutador se dá bem com o fato de estar envelhecendo e faz até uma brincadeira ao se comparar a um vinho:
O que fizeram comigo foi proibir como se fosse uma coisa ilegal. Hoje tem TRT na NBA, no futebol americano, no beisebol. Por que não no MMA? Por que esse preconceito? Porque um brasileiro estava se destacando, nocauteando todo mundo? Não sei. Foi difícil, mas não é impossível"
Vitor Belfort
- Esses cabelinhos brancos estão aqui há alguns anos (risos). Me dou muito bem com isso. Estou feliz da vida. Não poderia estar num momento melhor do que esse. Estou há 18 anos em alta performance. Sou, digamos, um velho Bordeaux. Um vinho velho, mas bom e caro. Isso é bacana, ver que você não é só um produto na prateleira, não é só lembrado pelo que você fez, e sim pelo que representa. Temos que entender que na vida tudo passa, mas um legado você tem que deixar. O meu legado não é só na performance. Eu representei, ajudei, colaborei. A grande luta é o todo, e não só o ato.
O que Vitor não engoliu foi a forma como se deu o banimento do TRT, sem aviso prévio. Adaptando-se à vida sem a terapia, ele disse que não está pronto para lutar ainda e focou na disputa de cinturão dos médios. O carioca deve enfrentar o vencedor de Chris Weidman x Lyoto Machida, que ocorre no dia 5 de julho, em Las Vegas (EUA).
- Na minha cabeça ainda nem comecei a treinar. Estou sendo liberado aos poucos pelos médicos. Não foi fácil esse banimento, como se fosse da noite para o dia. Não teve: "Olha, a gente vai mudar a regra daqui a 30 dias". É o certo. Mas baniram. Tira o Vitor da luta, em vez de cancelar. Não, tira o Vitor. Me perguntaram: "Você já está limpo?". Nunca estive sujo! São questões que a imprensa tem que abordar de outra maneira. Eu já conquistei meu espaço. Está conquistado. Agora tenho que trabalhar para isso. Não penso em outra coisa a não ser o cinturão. É difícil entrar na minha cabeça. É como se falasse para o (multicampeão do boxe) Floyd Mayweather voltar a fazer lutas amadoras. Não, ele conquistou. Você geralmente olha para cima - declarou.
Vitor Belfort MMA (Foto: Ivan Raupp)Vitor faz pose em sua academia, a FortFit, no Rio de Janeiro (Foto: Ivan Raupp)
Belfort estava escalado para enfrentar o campeão Weidman em 24 de maio, mas foi retirado da disputa pelo UFC após o banimento do TRT, para que tivesse tempo para se readaptar - Lyoto entrou em seu lugar, e o duelo foi adiado após Weidman precisar de cirurgia nos dois joelhos. O carioca não sabe se conseguiria se desfazer totalmente da testosterona proveniente do TRT a tempo de lutar em 24 de maio, caso tivesse sido mantido no card:
O grande lance é achar um mecanismo no seu corpo, com alimentação muito regrada. Estou tendo que achar na ciência os mecanismos que vão fazer com que meu corpo reaja. Eu
tenho que me adaptar à regra. Todo mundo queria que eu me aposentasse, mas isso não vai acontecer"
Vitor Belfort
- É difícil ficar falando do "se". O teste está aí. Fiz meus testes já, acabei de fazer de novo. Sempre fiz teste. Quando você faz uso de TRT, demora dois meses e meio para sair do seu corpo. É o hormônio sintético que você usa. Quando você não pode mais uma coisa, não pode. Foi definido que não poderia mais. Ninguém aceitaria minha licença (para TRT) se eu tentasse (para a luta de 24 de maio). Então, tiveram que me tirar. Tira o Vitor, coloca o Lyoto. Agora, o critério não é meu. Não sou presidente do UFC. O que posso fazer hoje é a minha parte, me dedicar e estar pronto para o combate. Hoje sou o próximo desafiante. Essa é a luta que não sai da minha cabeça.
Por fim, Vitor Belfort comentou as tentativas de elevar os níveis de testosterona de seu organismo de maneira natural, mas preferiu não dar detalhes sobre os procedimentos. O lutador disse que exames apontaram que ele não perdeu musculatura:
- É muito difícil subir os níveis. É uma pergunta mais técnica. Estava conversando com meu médico, e ele me mostrou os exames. Às vezes o teste está te mostrando uma coisa, mas nesse tipo de doença o que vale mais é como você está se sentindo. Às vezes está mostrando uma coisa, mas o que você está sentindo é outra. As pessoas ficam: "Ah, meus números de testosterona não estão bons". Mas tem gente que tem nível de testosterona alto e energia baixa. O grande lance é achar um mecanismo no seu corpo, com alimentação muito regrada. Estou conseguindo hoje, com coisas que estão sendo criadas para mim. Estou tendo que achar na ciência os mecanismos que vão fazer com que meu corpo reaja. Fiz o exame de massa magra, e na verdade não perdi músculo nenhum. Desde que parou o TRT, não relaxei. Eu tenho que me adaptar à regra. Todo mundo queria que eu me aposentasse, mas isso não vai acontecer.

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