sexta-feira, 29 de maio de 2015

Com cabelo "samurai", Belfort diz: "Se desse um passo atrás, nocautearia"

Veterano dá coletiva de imprensa em sua academia, no Rio de Janeiro, revela que gastou tudo que tinha no começo da luta contra Weidman, e assume que faltou calma

Por Rio de Janeiro
Seis dias após ser nocauteado por Chris Weidman no UFC 187, em Las Vegas, Vitor Belfortdeu uma coletiva em sua academia, a FortFit, no Rio de Janeiro, nesta sexta-feira, e admitiu que faltou calma em sua luta contra o americano, na disputa do cinturão dos pesos-médios da categoria. Ostentando um novo corte de cabelo, com a cabeça quase totalmente raspada, à exceção de um rabo de cavalo ao estilo "samurai", o "Fenômeno" admitiu que foi afobabo na tentativa de nocautear o campeão.



- Eu gastei muita coisa ali. Se eu desse um passo atrás, esperasse um pouquinho, tenho certeza de que nocautearia. Ele é duro na parte de solo, foi o dia dele - disse Belfort.
O lutador, que conversou com a imprensa também para promover uma marca de suplementos que o patrocina, disse ainda que a espera de um ano e meio pelo combate gerou ansiedade na hora da luta.
- Fui com muita sede ao pote. Deveria ter aproveitado a minha experiência - disse o lutador, que foi recepcionado por crianças que treinam na academia.
Novo Cabelo Belfort (Foto: Marcelo Barone)Vitor Belfort apresentou um novo corte de cabelo, nesta sexta-feira, em sua academia, no Rio (Foto: Marcelo Barone)

Sobre o novo corte de cabelo, Vitor Belfort explicou que a ideia foi encerrar o ciclo do corte moicano, e iniciar a fase do "último samurai".
- Na nossa vida tudo tem um símbolo. A fase do moicano passou. Eu olhei para o cabeleireiro e pedi para tirar tudo, deixar só atrás, igual ao último samurai. Para dar continuidade em algo, na minha cabeça, é preciso surgir novas coisas, novas ideias, um novo momento. É uma coisa minha, interna. Agora, vamos para as férias e ver no que isso vai trazer. Foi o momento em que senti que era para fazer. Vamos enterrar essa semente e germinar bons frutos.

Confira os melhores momentos da entrevista:

Você estava bem na luta. O que aconteceu para ela terminar daquele jeito?
Foi um ano e meio de muita espera. Quando vi o momento, tenho instinto matador. Fiquei seis horas estudando cada detalhe, de cada momento. A vitória estava ali, ela chegou, mas, de repente, foi embora. As pessoas falam: "Você quase ganhou". Não é uma derrota. Quando você quase ganha, é um sentimento duplo. A superação é muito importante neste momento. No meu caso, quando faço a primeira defesa de queda, em vez de soltar a perna, tentei não chutar a cara dele, e sim, a barriga, pois ele tinha colocado a mão no chão. Foi quando ele segurou a minha perna. Eu caí com o meu ombro, que já estava meio lesionado, e ele saiu do lugar. Mesmo assim, otimizei o momento, o combate continuou e falei: "Vai acabar". Quando ele me derrubou, foi um momento de muita frustração. Não posso tirar o valor dele. Tentei virar para a esquerda e para a direita. Vejo atletas dando as costas e você nunca pode dar as costas a um problema. Encarei de frente, mas foi a noite dele. Foi um momento de tristeza, mas já vivi tudo isso. Eu gastei muita coisa ali. Se eu desse um passo atrás, esperasse um pouquinho, tenho certeza de que nocautearia. Ele é duro na parte de solo, foi o dia dele.
Como viu a crítica do Ronaldo Jacaré ao seu jiu-jítsu?

Eu não leio esses comentários. Não importa muito o que as pessoas de fora da minha equipe falam. As pessoas que estão fora da minha equipe, muitas vezes, falam as coisas e as pessoas distorcem, a imprensa distorce. Sou uma pessoa pública., então as pessoas gostarem ou não, é direito delas. Todo mundo que falou a verdade para mim, do meu time, anotei, Temos de reconhecer o que o outro tem de bom. Foi o dia dele (Weidman). Não é porque o Brasil levou 7 a 1 da Alemanha, que vai tomar sempre. Foi um dia ruim, não significa que o futebol brasileiro é inferior ao alemão. No esporte temos que passar por cima de algumas coisas e falar: "Vamos para a próxima!"


Essa luta foi digerida ou você ainda pensa nela?

Já digeri tudo. Sabe missa de 7º dia, em que você precisa ter o seu momento? Consegui quebrar isso dois dias atrás. Eu botei o Vitor Belfort ao meu lado, conversei com ele e perguntei: "Por que você não deu um passo atrás? Por que não usou a sua experiência? Por que quando ele fez sprawl você não girou e deu um chute nele?". Era para chutar "varando" tudo. 
Você declarou que poderia ter sido mais moderado. Você acha que cansou e, por isso, foi passivo no chão?

Ele otimizou o momento. Aconteceram muitas coisas ao longo da luta. Você não consegue dar uma rajada de socos sem sentir um certo cansaço. Mas não foi um cansaço que me impossibilitasse de lutar. No solo, ele estabilizou o peso e conseguiu golpear. Tentei virar, ele me travou bem. Foi o momento dele. Treinei e me preparei como nunca, mas não podemos ficar chorando certos acontecimentos na vida. Fiz tudo certo, na luta, porém, poderia ter tido mais paciência, às vezes, uma finta, mais soco e menos mão.
Vitor Belfort na FortFit (Foto: Marcelo Barone)Peso-médio foi recebido com cartazes por crianças: mensagens de superação e força ao lutador (Foto: Marcelo Barone)


O Gilbert Durinho admitiu que você cometeu um erro técnico ao não repor a guarda. Você concorda?

Eu fiquei com os dois ombros no chão. Não consegui virar de lado. É muito fácil falar de erro técnico em uma luta, em um combate físico. O outro cara também tem o mérito. Faz parte da vida. Tenho que pensar no que fiz de errado antes de chegar ao chão. Eu me precipitei. Não usei a experiência para ter cautela. Ele sentiu o golpe, estava com medo de trocar comigo. Dava para ver que não queria trocar de jeito nenhum, queria encurtar (a distância) o mais rápido possível. Fiquei um ano e meio na espera, o camp não acabava nunca, entrei em overtraining umas quatro vezes... Enfim, bola para frente. 

A maioria de suas vitórias aconteceu no round inicial. A que atribuiu sua queda de rendimento após o primeiro round de suas lutas ao longo da carreira?

O nocaute sobre o Bisping foi no segundo round... Quando eu não ganhava no primeiro round do Pride, falavam: "Seu rendimento caiu, você lutou quatro rounds". O problema é agradar. Quando o cara faz uma luta de cinco rounds, como o GSP (Georges Saint Pierre), falam que ele é chato. Vou para a luta para ganhar cada round. Na luta, quando entro livre, vou para me divertir, é diferente. Você acha que não treinei para cinco rounds? Seria muito ignorante se não treinasse para cinco rounds. A realidade é que Deus me deu um dom que eu ganho as lutas no primeiro e segundo rounds. Eu tenho essa potência. Tenho que utilizá-la. Nosso esporte é mais potência do que resistência. Usei a potência até demais, não precisava ter ido com tanta sede ao pote e, assim, o resultado seria diferente.
Vitor Belfort (Foto: Marcelo Barone)Vitor Belfort preferiu não falar sobre seus próximos passos dentro do octógono, nesta sexta-feira (Foto: Marcelo Barone)
Há chances de você voltar a lutar ainda esse ano?

De repente, se tiver uma lutinha amanhã, eu topo (risos). A minha grande luta agora é curtir o momento. A volta, na realidade, é algo que não consigo pensar agora. Só penso nas férias e em curtir a minha família.

Quem você gostaria de enfrentar: Anderson Silva, Gegard Mousasi ou Wanderlei Silva?

Agora, luta boa é entrar de férias (risos). 

O Mousasi deseja enfrentá-lo no Japão. O que achou desse desafio?

Eu vejo as férias agora. Vou para um hotel bacana curtir e, depois, vou tomar as decisão junto ao UFC, ver qual será o próximo passo. É um passo de cada vez. Quando nos comprometemos com algo, temos de tomar cuidado, pois, muitas vezes, é preciso cumprir. Agora é hora de férias merecidas.

Qual a gravidade do problema que você teve no ombro?

Não é caso cirúrgico. Foi deslocamento de osso. Estava sentindo o ombro antes da luta.

Pensou em adiar a luta em algum momento?

De maneira alguma, está louco? Eu ia lutar até mancando (risos). Não via a hora de acabar essa novela.

Qual adversário é mais duro para Chris Weidman: Ronaldo Jacaré ou Luke Rockhold?

Eu vejo o Jacaré como um cara muito duro, mas o Rockhold evoluiu bastante. Se foi criado um ranking, o próximo (a disputar o cinturão) deveria ser o Jacaré. Os dois têm condições (de vencer o Weidman). Eu escolheria uma revanche contra o Weidman. Um passo atrás, dois golpes em cima, outro embaixo e liquidaríamos ele.

O que representa esse novo corte de cabelo?

O Davi (filho) me perguntou: "Papai, por que isso?". Na nossa vida tudo tem um símbolo. A fase do moicano passou. Eu olhei para o cabeleireiro e pedi para tirar tudo, deixar só atrás, igual ao último samurai. Para dar continuidade em algo, na minha cabeça, é preciso surgir novas coisas, novas ideias, um novo momento. É uma coisa minha, interna. Agora, vamos para as férias e ver no que isso vai trazer. Foi o momento em que senti que era para fazer. Vamos enterrar essa semente e germinar bons frutos.

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