quarta-feira, 9 de março de 2016

Mulheres no MMA sofrem com poucas categorias e ausência de visibilidade

Elas conseguiram melhorias no tratamento das organizações, mas ainda vivem com menos patrocinadores voltados para combates, o que desencoraja novas lutadoras

Por Rio de Janeiro
Ronda Rousey UFC 157 Liz Carmouche (Foto: Getty Images)Ronda Rousey venceu Liz Carmouche no primeiro duelo feminino do UFC (Foto: Getty Images)
Passaram-se mais de três anos desde que Ronda Rousey ganhou a primeira luta feminina da história do UFC no dia 23 de fevereiro de 2013, contra Liz Carmouche. Desde a estreia das mulheres no maior evento de MMA do mundo, foram três campeãs do peso-galo feminino e duas no peso-palha. Apesar de avanços para as mulheres no mundo das artes marciais mistas, tanto dentro quanto fora do octógono, ainda há o que se evoluir para que as condições sejam iguais ao mundo masculino. 
Na opinião da número 8 no peso-galo feminino do UFC, Bethe Correia, não vai ser por agora que as mulheres terão o mesmo número de categorias que os homens, mas isso pode ser alcançado no futuro. Segundo ela, ainda não há quantidade suficiente de lutadoras para que novas divisões sejam criadas, além disso, a paraibana garante que a sociedade ainda encara a situação de maneira sexista.
- Muitas mulheres querem (lutar), mas por ter esse preconceito acabam desistindo. Foi muito similar comigo, só que eu sempre fui teimosa demais e decidi não escutar tanta negatividade. Quando a sociedade começar a aceitar mais esse fato (de mulheres lutarem), acho que elas vão começar a treinar e competir. Mas hoje ainda não. Eu faço parte da primeira geração das mulheres do UFC. Fui contratada no primeiro ano e a gente está fazendo um trabalho tão bonito e tão bacana que as academias têm recebido mulheres querendo competir. Eu acho que daqui a alguns anos vão ter todas as categorias iguais às dos homens. Todas as mulheres com alturas e pesos diferentes vão ficar com mais confiança e vão receber mais apoio. Eu acho que é um tabu que a gente tem conseguido quebrar aos poucos, mas, hoje em dia, realmente não temos lutadoras para todas as categorias.
Por mais que as organizações de lutas, como UFC, Bellator, Invicta - evento exclusivo para mulheres - e outras companhias abram espaço para o sexo feminino, o preconceito social ainda é grande, inclusive em famílias com uma história significativa no ramo. Foi o caso da pentacampeã mundial de jiu-jítsu, tri do ADCC (maior torneio de luta agarrada do mundo) e atual comentarista do Combate, Kyra Gracie. Ela sofria com tratamento diferente dentro da própria casa. As mulheres não competiam e também não eram incentivadas a isso, deixando para os homens a tarefa de levar adiante o nome da família.
- Eu lembro nitidamente que o menino seria o "campeão da família", e as mulheres eram esquecidas. Eu cresci muito com isso. Acho que teve um lado bom e isso que me motivou a querer mostrar para eles que eu também podia lutar - comentou.
Camila Oliveira (Foto: André Durão)Camila Oliveira é uma das ring girls brasileiras do UFC. Para ela, as mulheres já são valorizadas (Foto: André Durão)
Elas não estão presentes somente dentro do octógono. Antes de uma luta começar, ou no intervalo entre os assaltos, aparecem as ring girls. Três brasileiras estão entre elas no Ultimate: Jhenny Andrade, Camila Oliveira e Luciana Andrade. De um modo geral, as mulheres já estão sendo mais valorizadas pelas instituições, seja dentro ou fora do ringue. E, de acordo com Camila, os eventos do UFC não são considerados machistas porque os homens percebem o gosto das mulheres pelo esporte e têm respeitado isso. Segundo ela, as ring girls não são mais observadas como objeto do desejo masculino.
- Isso já acabou. Desde que eu entrei, há três anos, é muito respeito. Os homens têm medo de como abordar a gente, de chegar na gente para conversar. Aumentou bastante o respeito. Claro que tem um ou outro que olha diferente, mas a gente faz com que eles nos respeitem.
Presidente do UFC no Brasil, Giovani Decker, concorda com a opinião de Camila. Segundo ele, os dados da empresa mostram que o público masculino dos eventos é em torno de 55%. Ele não recebeu nenhuma informação de dentro do UFC se haverá um acréscimo no número de categorias femininas. Porém, o mandatário acredita que com o aumento do interesse do público, possa ser adicionado o peso-pena (até 66kg). Para ele, as mulheres já são bastante valorizadas no UFC e há uma tendência bem grande de crescimento.
Bethe Correia MMA título de cidadã natalense (Foto: Verônica Macedo/Divulgação)Para Bethe Correia, mais categorias no UFC dariam às mulheres maior visibilidade no esporte (Foto: Verônica Macedo/Divulgação)
Na opinião de Kyra e Bethe, as mulheres mais bonitas têm preferência em relação às outras lutadoras na hora de serem contratadas. De acordo com a ex-desafiante de Ronda Rousey, não é sempre que as empresas vão escolher uma mulher mais bela para lutar, mas isso é levado em conta pelos eventos serem um show.
As duas também têm um discurso parecido sobre a questão do que falta melhorar para as mulheres no MMA. Ambas falam que a visibilidade na mídia e o patrocínio são necessários para aumentar a presença das mulheres no mundo das lutas. Além disso, Bethe diz acreditar que o apoio dos familiares é muito importante no desenvolvimento de possíveis lutadoras, mas se mostrou confiante.
- Temos ainda um grande caminho para percorrer. Sinto um grande preconceito. Vejo meninas falando para os pais que querem ser lutadoras, e eles falam "Deus me livre", como se fosse algo vergonhoso ter uma filha no esporte. (...) Então, a gente (sociedade) tem que começar a mudar. Não tem mais como segurar o MMA feminino, e acho que, em breve, vai ser de igual para igual com os homens.

Nenhum comentário:

Postar um comentário