sábado, 20 de agosto de 2016

Esse raio de Neymar! Craque comanda o ouro inédito do Brasil

Camisa 10 e capitão do time faz de falta o gol brasileiro e depois acerta a cobrança final nos pênaltis. Usain Bolt aplaude de pé e ganha gesto do raio como presente

Por Rio de Janeiro

O mais maluco naquele minuto 26 do primeiro tempo era que Neymar parecia um solitário. O Maracanã cantava, pulsava, sacolejava com “olê, olê, olê, olá, Neymar, Neymar”, enquanto ele olhava a bola imóvel – o náufrago perdido em uma ilha dialogando com seu objeto de estimação. Era a contradição em pessoa: a multidão gritando o nome do sujeito que, na prática, estava só. E Neymar foi lá, mandou a bola naquele cantinho do espaço desenhado estrategicamente para ele, venceu o goleiro e a trave e o escambau - exatamente como faria mais de duas horas depois, no último chute da partida, para ajudar o Brasil a ser, pela primeira vez, campeão olímpico de futebol.

Às vezes, é fácil não gostar de Neymar e sua megaexposição e seu cabelo moicano e suas festas. É até natural que se pergunte o que esse raio de Neymar faz com a braçadeira, o que o raio desse Neymar faz como capitão. Mas aí ele vai lá e mete um golaço de falta no Maracanã em uma final olímpica enquanto dezenas de milhares de pessoas gritam o nome dele. E faz até Usain Bolt, o retrato de um artista enquanto raio, pular na arquibancada.

O jamaicano, que no Rio aumentou de seis para nove o número de títulos olímpicos, já se declarara fã de Neymar. Foi ao Maracanã para vê-lo. E Neymar, ao celebrar o gol sobre a Alemanha, ergueu os dois braços para o céu e imitou o gesto tradicional do homem mais rápido do planeta. Imitou o raio.
Neymar Brasil X Alemanha Final (Foto: Agência Reuters)Neymar imita o raio de Usain Bolt, presente no Maracanã para ver o craque (Foto: Agência Reuters)


E no meio de tudo isso rolaram aquelas três bolas da Alemanha na trave – como que dizendo que um raio não cai duas vezes (ou sete vezes, vá lá) no mesmo lugar. Era um atestado de quão importante tinha sido aquele gol – e de quão forte era o time adversário.
Usain Bolt comemora gol de Neymar no Maracanã (Foto: Reprodução)Usain Bolt comemora gol de Neymar no Maracanã (Foto: Reprodução)
Minutos antes, Neymar tinha sido o primeiro a entrar em campo. Pisou com o pé direito no gramado, firme, e depois tocou o campo com a mão – que em seguida foi erguida para o céu, como pedido de proteção. Depois, de olhos fechados, cantou o hino nacional.

Quando começou o jogo, Neymar teve um gosto de como a torcida o apoiaria. A primeira bola que recebeu foi longa, forte demais, e o camisa 10 não conseguiu alcançá-la. O público, logo em seguida, começou a cantar, como faria no lance do gol: “Olê, olê, olê, olá, Neymar, Neymar”. Isso deu conforto ao jogador. Ele atuou mais solto – a ponto de tentar uma lambreta sobre a marcação alemã, mas sem sucesso.

Neymar não teve atuação exuberante – talvez seja exigir muito para a pressão de uma final olímpica. Mas teve participação ativa, justificando a camisa 10 e a braçadeira de capitão que carregava, protagonizando um setor ofensivo de atuações individuais discretas. No segundo tempo, foi particularmente importante depois do gol da Alemanha. Poderia ter feito mais um golaço – a bola saiu perto da trave direita do goleiro Horn. No finzinho do tempo normal, errou passe que poderia ter deixado Luan em condições de marcar.

E aí veio a prorrogação. E Neymar, muito cansado, não conseguiu capitanear o time como no tempo normal. Nos primeiros 15 minutos, pouco tocou na bola; no segundo, tentou um chute a gol e depois começou a mancar. Mal conseguia correr. 
Restavam os pênaltis. E como o destino poderia mexer com Neymar feito marionete? Que cenário poderia criar para deixar no pé dele o ato final? Se todos os quatro primeiros da Alemanha e os quatro primeiros do Brasil acertassem, de repente? E se então, na quinta cobrança, o alemão fosse barrado por Weverton? E se aí, de repente, Neymar surgisse de novo, o mais solitário dos homens, para o chute derradeiro?
Sim, exatamente assim. Era, outra vez, Neymar e a bola. E aquela solidão. E aquele peso de uma eternidade olímpica sem título. E aquela multidão cantando o nome dele - o mais apoiado e o mais solitário dos homens. 

O resto é história. Neymar correu, bateu na bola, deslocou o goleiro e caiu de joelhos no gramado do Maracanã enquanto o público urrava de euforia. Era o gol do título. Era o gol de Neymar - esse raio de Neymar, o raio desse Neymar.

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