quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Werdum promete polêmica se vencer Rothwell: "Meu lado bonzinho acabou"

Ex-campeão dos pesados se diz ciente de que Cain Velásquez pode ser o próximo desafiante ao título e revela campanha da esposa para que se aposente em breve

Por Los Angeles, EUA

São 11 horas da manhã de uma sexta-feira em Huntington Beach, na Califórnia, dia de sparring pesado na Kings MMA, academia liderada pelo técnico Rafael Cordeiro. Dentro do octógono, o ex-campeão peso-pesado do UFC, Fabricio Werdum, encerra uma sessão de treinos com Renato Babalu e outros companheiros de academia. Exausto, ele repete os movimentos para ter certeza de que os está desenvolvendo com perfeição. 
- Foram 45 minutos de sparring sem descanso - revela Babalu, decretando o final da sessão. Satisfeito com o desempenho, "Vai Cavalo" tira o celular da mochila e começa a registrar momentos de descontração com a equipe nas redes sociais. É a deixa para o Combate.cominiciar a entrevista.
Os momentos que se sucederam à derrota pelo cinturão no Brasil ainda não foram esquecidos, mas o brasileiro garante que já foram superados. O foco, agora, é em conquistar nova chance de disputar o título, e a oportunidade para isso será no duelo contra Ben Rothwell, marcado para o dia 10 de setembro, em Cleveland, nos EUA.
- Eu pedi para lutar no mesmo dia que o Stipe Miocic ia defender o cinturão contra o Alistair Overeem. O Joe Silva (matchmaker do UFC) até se surpreendeu porque eu já queria lutar, mas é por isso mesmo, para poder ter essa chance de ver essa luta de perto. A minha vai ser uma luta antes, já quero sentar, nem ir para o vestiário, já vou esperar ali mesmo para poder ver a luta principal. E, na entrevista pós-luta, por exemplo, é sempre bom fazer uma “polemicazinha”. Acho que o meu lado bonzinho acabou. Eu vou ser igual como sempre, mas vou tentar fazer alguma coisa a mais para poder chamar a atenção para poder lutar, né? - declara.
Fabricio Werdum; treino; Los Angeles (Foto: Evelyn Rodrigues)Werdum enfrenta Ben Rothwell na co-luta principal do UFC Cleveland, dia 10 de setembro (Foto: Evelyn Rodrigues)
Durante o extenso bate-papo, o gaúcho falou sobre a preparação para o duelo, a enxurrada de críticas recebidas dos fãs, e revelou que sua esposa, Karine Werdum, já pediu para que ele se aposente.  Confira o bate-papo na íntegra
Como está a preparação para a luta contra o Rothwell?
A preparação eu estou fazendo faz tempo já. Na verdade, eu só paro depois de lutar por umas duas ou três semanas, depende da situação, dos compromissos, pois sempre tem alguma coisa certa já depois de luta. Por exemplo, claro que se eu tenho uma vitória, depois de uma luta tenho vários seminários e aparições. Com a derrota não é tanto, mas tem os compromissos que você já tinha assumido antes. Às vezes demora um pouco mais, às vezes um pouco menos, dessa vez acabei demorando um pouco mais para voltar a treinar por causa da derrota no Brasil, que foi difícil de superar no começo. Foi um evento muito legal no Brasil, fizeram pela primeira vez num estádio de futebol, mas agora já está completamente superado. Estava treinando na Tailândia com o mestre Rafael Cordeiro, fui para lá para fazer um filme, o Kickboxer 2, e aproveitei para levar o mestre porque eu não queria parar de treinar. A gente aproveitou para visitar a academia de muay thai de lá, que é muito tradicional. Fiquei lá por 10 ou 12 dias e foi bem legal. Foi uma experiência diferente, só eu e o mestre, ficava por conta do filme, mas sempre que dava a gente treinava certo. E agora, voltando a Los Angeles, normalmente de segunda, quarta e sexta eu treino com o Rafael Cordeiro, o Renato Babalu e a galera que me ajuda aqui e terças e quintas no Cobrinha. Às segundas e quartas eu também treino com o Nick Curson, que é o mesmo treinador do Lyoto Machida e do Rafael dos Anjos.
Como foi essa negociação para você lutar no mesmo card em que o Stipe Miocic fará a sua primeira defesa de cinturão?
Foi praticamente uma estratégia pelo fato de me promover já para a próxima luta pelo cinturão. Claro que depende muito de como vai ser a luta. Tenho que ser consciente também de que oCain Velásquez lutou muito bem contra o Travis Browne. A galera se surpreendeu porque o Cain deu um chute rodado. Eu não achei nada demais, mas tudo bem, né? (risos) Ele lutou bem realmente, lutou muito bem, e meio que já se credenciou para lutar pelo cinturão, pelo fato de ser americano…tem que ser bem realista, não gosto de ficar passando a mão por cima, mas é verdade. O Cain é americano, então tem aquela coisa dele ir direto pelo cinturão. Eu não acho justo 100%, mas ele está ali entre os melhores, pode ser que, pela vitória que teve, ele vá direto disputar o cinturão. Porém, depende muito dessa luta, como estratégia, porque eu pedi para lutar no mesmo dia que o Stipe Miocic ia defender o cinturão contra o Overeem. O Joe Silva até se surpreendeu porque eu já queria lutar, mas é por isso mesmo, para poder ter essa chance de ver essa luta de perto. A minha vai ser uma luta antes, já quero sentar, nem ir para o vestiário, já esperar ali mesmo para poder ver a luta. E, na entrevista pós-luta, por exemplo, é sempre bom fazer uma “polemicazinha”. Acho que o meu lado bonzinho acabou. Eu vou ser igual como sempre, mas vou tentar fazer alguma coisa a mais para poder chamar a atenção para poder lutar, né?
Fabricio Werdum; Renato Babalu; Kings MMA (Foto: Evelyn Rodrigues)Werdum brinca com Renato Babalu ao final do treino (Foto: Evelyn Rodrigues)
Que tipo de polêmica você pretende fazer? Pode revelar alguma coisa?

Claro que eu tenho que ganhar para poder fazer isso e falar tudo o que estou pensando, por isso que estou planejando isso tudo para o futuro. Já estou imaginando tudo como sempre imaginei. Vou falar alguma coisa, criar uma polêmica, de repente dar uma rasteira no Dana White (risos), levantar a mesa…Tenho que fazer alguma coisa, porque eu já vi que o que eu fiz a vida inteira deu certo, mas quando dá errado as pessoas te criticam muito. A vida inteira eu brinquei, eu sou do jeito que sou, sou brincalhão mesmo, e não vou mudar. Por exemplo, uma coisa que eu não gostei... a “happy face” é uma coisa que eu faço desde pequeno e as pessoas criticaram muito depois que eu perdi, porque aí associaram a “happy face” ao fato de eu estar brincando muito e que foi por isso que não me concentrei pra luta. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. A campanha “happy face” foi uma coisa e outra coisa foi que eu, de repente, estava ansioso para essa luta tão esperada no Brasil . É impossível não ficar ansioso. Nervoso eu não fico, mas estava ansioso. Não tinha pressão, eu realmente cometi um erro, fui para cima e aconteceu. As pessoas criticaram, mas por exemplo, agora não é o momento de eu fazer a “happy face”, só que seu eu tivesse ganho, a “happy face” ia ser o maior sucesso. É assim que funciona. 
Como você analisa o Ben Rothwell?

O Ben Rottweil é um cara bastante forte, é um cara da minha altura, tem um 1,93 metros, é bem no limite do peso, tem 120 kg e corta peso para poder lutar na categoria. Eu sei que é um cara perigoso e eu sempre digo que não existe luta fácil. As pessoas falam: “Ah, essa luta é fácil, vai ser boa para ti”, não é bem assim. A gente já viu muitas vezes que, às vezes tem um favorito e o outro vai lá e surpreende. Então, eu tenho que ter muito cuidado com o Ben Rothwell, ele é um cara que tem a mão pesada realmente, tem aquela guilhotina dele de frente que ele coloca o peso todo e que é perigosa, ele finalizou o Josh Barnett assim…Então, estou pensando em tudo isso, não estou pensando que vai ser uma luta fácil, sei que vai ser uma luta difícil, mas acredito no meu potencial e sei que vou sair com essa vitória. E acho também que tem que ser uma vitória que me dê essa credencial para que eu possa lutar pelo cinturão de novo, então não pode ser uma luta meio morna, por pontos, depende da situação, porque o Cain já está ali esperando. Vai depender muito dessa luta para ver quem é que vai ser o próximo a disputar o título. 
Aniversário; Fabricio Werdum; 39 anos (Foto: Evelyn Rodrigues)Werdum comemorou 39 anos no dia 30 de julho. A esposa Karine já iniciou "campanha" para que ele pare de lutar em breve (Foto: Evelyn Rodrigues)




Como tem sido dividir a sua carreira de lutador com a de ator e comentarista?
Acabei de completar 39 anos no dia 30 de julho. Não sinto que tenho essa idade, acho que estou bem jovem mentalmente, me sinto bem, meu corpo também está respondendo muito bem ainda. Não é que nem antes, pois eu me achava mais ágil antes, pelo tempo, pela idade. Desde que comecei no jiu-jítsu até hoje faz 19 anos que luto já. Mas é ter cuidado com o Ben Rothwell e fazer uma boa estratégia... O Rafael Cordeiro é um dos melhores treinadores do mundo, é muito calmo na hora de falar com a gente no intervalo da luta, e é só ter a estratégia certa para lutar pelo cinturão novamente. Eu acho que eu mereço. Muitas pessoas falaram que eu merecia essa revanche, eu estava vindo de seis vitórias seguidas e não me deram. Eu não estava esperando, não estava na expectativa de ter a revanche, já tinha colocado na minha cabeça que não ia acontecer, não fiquei assim em depressão. Fui fazer as minhas coisas, fui fazer os meus compromissos. Como eu comentei, já estou no segundo filme, indo para o terceiro já, gravei agora com o Van Damme, fiz o primeiro com o Mike Tyson, gravei com o Antonio Banderas, e pouco a pouco tem que fazer essa vida paralela, não posso só pensar na minha profissão de lutador. E as pessoas também criticam muito isso, né? Se você tá gravando um filme, elas falam: “Ah, vai treinar!”. Não é bem assim, eu também sou comentarista do UFC na América Latina, então tenho que fazer muitas coisas paralelas para poder viver depois também. Não posso ficar só pensando na luta e quando me aposentar ver o que vou fazer. Já estou pensando nisso desde agora já.
Mas já passa pela sua cabeça a possibilidade de se aposentar? Até quando você se vê lutando?

O lutador sempre diz uma data: daqui a dois anos, daqui a três anos, mas nunca acontece. A minha esposa já quer que eu pare, quer que eu faça essa luta e diz ter certeza de que vou ganhar o cinturão de novo e que, quando fizer isso tenho que parar. Mas não é assim que funciona, não é assim chegar, pegar o cinturão e parar. Então, eu não tenho essa coisa na minha cabeça de: “Ah, vou me aposentar em dois anos” e eu também não vou dizer. Eu gosto de ser bem sincero porque, no momento em que eu disser que me aposentei o cachê baixa, ninguém mais chama como antes, não tem aquelas aparições, as presenças vips, que é uma coisa que a gente ganha bastante, diminui o número de seminários. No momento que eu falar essa palavra aposentado, já muda o cachê, muda tudo, então não tem motivo para eu falar quando vou me aposentar. Ninguém vai ouvir essa palavra na minha boca, só quando eu tiver 50 anos - o que não falta muito (risos).
Junior Cigano Fabricio Werdum UFC 90 (Foto: Getty Images)Werdum e Cigano já se enfrentaram, em 2008, com o atleta de Caçador levando a melhor por nocaute (Foto: Getty Images)
O que você achou das declarações do Cigano de que se arrependeu de ter te provocado para tentar cavar uma luta entre vocês quando você ainda era o campeão da divisão?

Também aconteceu comigo isso. O Cigano perdeu o cinturão, depois teve alguma vitória sobre o Ben Rothwell, fez uma luta bem estratégica e aconteceu a mesma coisa comigo. Eu também queria lutar com ele e me promovi em cima dele. Na época em que eu não tinha o cinturão, eu disse que queria lutar com o Cigano, mas na verdade eu queria o cinturão. Então, ele pensa igual. Agora que eu perdi, ele não quer mais lutar comigo, mas é óbvio que ele queria só o cinturão. Ele queria fazer uma polêmica, alguma coisa assim, porque como eu era o campeão, eu era o alvo, mas agora o alvo é o Stipe Miocic, que é o bombeiro. Quando passa um bombeiro aqui eu fico meio que com medo (risos). Outro dia passou o caminhão de bombeiro aqui e até me escondi (risos).
Você que já enfrentou os dois...quem você acha que leva a melhor nessa luta? Miocic ou Overeem?

O Stipe Miocic tem a pancada forte mesmo. Vou te falar que eu não senti, porque foi uma pancada muito certeira. Me nocauteou, então eu não consegui sentir uma dor assim: “Ah, pegou muito forte!”. Pegou certeiro, no ponto certo. Mas o Overeem também é um cara que tem muita experiência, ele lutou muito bem com o Cigano, também nocauteou muito bem. E o Cigano é um cara muito perigoso, que nocauteou várias pessoas na categoria. O Overeem também está sendo mais estratégico agora porque ele está sem o "café da manhã" especial. Ele está sem aquele "café da manhã", não está podendo tomar o cafezinho dele, então está diferente realmente e está lutando com mais estratégia. Se ele fizer a estratégia certa, acho que leva essa luta, mas o Stipe Miocic já nocauteou vários e pode nocautear o Overeem também, depende de como o holandês vai entrar mentalmente. Se ele entrar bem confiante, ele leva, mas se entrar meio com medo o Miocic o nocauteia também.
O que você achou dessa polêmica do Brock Lesnar ter sido pego no antidoping antes e no dia do UFC 200?

Acho que o Brock Lesnar já sabia, não tem como ele não saber. Um cara que faz os ciclos dele já, que é normal, e eu não sou contra ele fazer um evento no qual isso pode, que é o WWE, que é um evento que pode tomar, que não tem porquê não tomar. E, com certeza, ele sabia disso, mas o UFC chamou, não sei se ele falou pro UFC, acho que não, senão o UFC não ia deixar que ele participasse do evento, mas ele deve ter escondido porque deve ter pensado no financeiro. Financeiramente ele deve ter pegado um bom dinheiro e eu acho que o Mark Hunt está no direito dele dessa luta ser anulada para poder reclamar o que ele falou mesmo, a metade da bolsa, ou o que for, como também até sair do evento. Ele não está feliz e não é justo para o Mark Hunt. Ele lutou contra um cara que estava completamente bombado, tinha feito um ciclo, que realmente estava muito forte, e a gente sente a diferença na hora da luta. Foi até por isso que eu comentei outro dia que eu acho que se o TRT (Terapia de Reposição de Testosterona) voltasse ia ser bom para todo mundo. Nós gastamos muita energia, é um desgaste muito grande, de muitos anos, então acho que o TRT não teria problema. Pode ser opcional, toma se quiser, se tivesse um limite, um número, até 800 pode ir, por exemplo, passou de 800 é doping, isso podia ser bom, mas para todo mundo. Não como era antes, que só alguns podiam e outros não. Direitos iguais, ou para ninguém ou para todo mundo. Acho que podia fazer isso sim, porque os atletas iam render muito mais. Esse é um esporte de alto rendimento, então não vejo porque não. 
Você disse que dá pra sentir quando está enfrentando um lutador "bombado". Já enfrentou alguém e percebeu isso dentro do octógono?

Acho que o Overeem, né? Quando lutei contra ele em Dallas, na segunda vez que a gente se enfrentou, ele estava no auge do negócio, no auge do "café da manhã”. E deu para ver nitidamente, eu senti muito. Estava em "overtraining" aquela vez, não estava me sentindo muito bem, passei do ponto realmente. Não é desculpa, mas foi o que aconteceu, foi a única vez que passei do ponto assim de treinar demais. E o Overeem estava no auge, tanto que até foi engraçado. Eu me lembro de falar pro pessoal da comissão atlética: “Ah, eu quero começar a aquecer. Quando vai ser o antidoping?”. E aí me responderam: “Não, aqui não tem doping”. E eu pensei: “Puxa, não acredito! (risos) Eu podia ter tomado um café da manhã também (risos)”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário