sexta-feira, 31 de março de 2017

Pôquer, pizza e alegria: unidos por tragédia, Neto, Ruschel e Follmann celebram a vida

Às vésperas do encontro de Chapeconse e Atlético Nacional pela Recopa, reuniões descontraídas fazem parte da rotina dos sobreviventes, que exaltam coisas simples do cotidiano

Pôquer, pizza e alegria: unidos por tragédia, Neto, Ruschel e Follmann celebram a vidaPôquer, pizza e alegria: unidos por tragédia, Neto, Ruschel e Follmann celebram a vida
Leia com atenção as palavras a seguir. Antes, levante, caminhe, mesmo que por três ou quatro passos. Abrace quem você gosta e está perto de você. Coisas simples, não é? Coisas que há quatro meses valem muito mais para Neto, Alan Ruschel e Follmann. Às vésperas do encontro de Chapecoense e Atlético Nacional pela Recopa, o trio de sobreviventes da tragédia de 29 de novembro deseja passar somente uma mensagem: celebrem a vida. Mesmo que na simplicidade de uma roda de pôquer regada a pizza que une suas famílias em clima descontraído no longo e bem-sucedido processo de recuperação.
Neto, Follmann e Ruschel mostram relação de amizade após o acidente com o avião da Chape
Alan e Follmann são amigos desde as categorias de base do Juventude. Sempre foram unha e carne. O sorriso fácil do lateral encontrou no violão e senso de humor do goleiro um parceiro de mais de uma década. Coube ao acidente aproximar Neto dessa roda de amigos. Mais do que a rotina dolorosa de fisioterapia, os encontros fora do ambiente da Arena Condá se tornaram uma constante. O zagueirão sério e de fala mansa se revela brincalhão. Provocações surgem de parte a parte, sempre com um sorriso que teima em não sair do rosto dos três. Ainda bem!
- Quando o cara coloca a senha do Wi-Fi com o nome do irmão dela (a noiva), olha... - brinca Neto com Alan Ruschel pouco depois de dizer que "a bermuda do Follmann está parecendo quadrinhos, gibi da Turma da Mônica" - Depois de tudo que aconteceu, impossível não criar um vínculo mais do que já tinha. O Alan e o Follmann são brincalhões, gente boa. Gente como a gente.
Descontração do mesmo Neto que falou as palavras que direcionam a vida de cada um dos três desde aquela madrugada. Ainda no leito do hospital, prestes a deixar Medellín, o zagueiro foi ao encontro para um recado que não sai da cabeça de Follmann:
- Uma coisa que não sai da minha cabeça, no último dia que estava na Colômbia, foi que o Neto chegou para mim e disse: "Comemore sua vida. Celebre sua vida!". São essas palavras que quero passar, vamos comemorar a vida. Realmente, foi um milagre. Deus nos pegou no colo, fomos os escolhidos para essa segunda chance, e essa recuperação está sendo positiva aos olhos das pessoas de fora. Poder acrescentar um pouco a elas, nos deixa muito felizes.
Felizes como os encontros semanais. Por mais que não tenham o mesmo talento para o carteado como Alan, Neto e Follmann fazem questão de estar juntos com seus familiares. Momento que o goleiro confessa ser mais do que somente descontração. Naturalmente, é algo que faz parte do processo de recuperação:
- Sabemos que precisamos um do outro. Damos força uma para o outro. Isso é muito bacana. Nos vemos todos os dias, conversamos bastante e isso nos acrescenta. Precisamos estar juntos.
Follmann e Alan Ruschel na mesa de pôquer (Foto: Cahê Mota)Follmann e Alan Ruschel na mesa de pôquer (Foto: Cahê Mota)
Follmann e Alan Ruschel na mesa de pôquer (Foto: Cahê Mota)
Passados quatro meses e dois dias do acidente, o trio faz questão de valorizar cada conquista diária. Adaptado às próteses, Follmann já caminha com desenvoltura, sem necessidade nem mesmo do apoio de muletas. Neto já recuperou a massa muscular e está na reta final de fisioterapia para voltar aos gramados. E Alan Ruschel é quem está mais próximo da chamada "concretização do milagre".
Primeiro sobrevivente a ter alta, o lateral já está entregue ao departamento de preparação física, voltou para rotina de treinamentos com o elenco no CT Água Amarela e até trabalha com bola. Ainda há preocupação em evitar impacto por conta da lesão na coluna, mas a rotina de atleta profissional está restabelecida. Conquista que vai muito além de si próprio:
- Não temos noção da dimensão do que representamos hoje, mas, de alguma forma, tentamos mostrar para o mundo que estamos nos superando depois de tudo que passamos. O Follmann feliz só pelo fato de voltar a caminhar, o Neto também, vimos a alegria só por trotar em volta do campo. Eu também por poder treinar. São coisas que não têm como explicar.
Em clima descontraído, amigos se reúnem para noite de pizza (Foto: Cahê Mota)Em clima descontraído, amigos se reúnem para noite de pizza (Foto: Cahê Mota)
Em clima descontraído, amigos se reúnem para noite de pizza (Foto: Cahê Mota)
Presença certa na série de homenagens prevista para a final da Recopa, terça-feira, às 19h15 (de Brasília), na Arena Condá, contra o Atlético Nacional, o trio de sobreviventes tem a consciência de que tudo que aconteceu em Medellín fará parte de seu dia a dia. Memórias que estimulam o futuro:
- Agora, é o momento de olhar para frente, tocar a vida e celebrar. Temos muita coisa bacana e positiva na terra ainda! - definiu Follmann.
Bacana, positiva e simples. Como caminhar ou abraçar quem está próximo para celebrar a vida.

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