sábado, 28 de setembro de 2013

Lutador morto teria usado diurético, diz tia; Pederneiras não vê relação

Enfermeira da família, Elma Caetano volta a culpar esforço excessivo na perda de peso. Técnico esclarece que Feijão treinava em mais equipes

Por Rio de Janeiro
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O enterro do lutador de MMA Leandro "Feijão" Caetano de Souza, neste sábado no Rio de Janeiro, foi marcado pela emoção e pela angústia de familiares e amigos, que ainda buscam explicações sobre o falecimento do atleta. Tia de Leandro e enfermeira da família, Elma Caetano dos Santos mais uma vez negou que o sobrinho tivesse alguma doença que possa ter levado ao acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico, e afirmou que soube por amigos dele que ele às vezes usava diurético para ajudar na perda de peso.
- Sou enfermeira da família e desconheço qualquer tipo de comorbidade como eles colocaram no laudo. O Leandro era 100% saudável, nunca apresentou patologia nenhuma, muito menos pressão alta. O que pode ter levado à pressão alta provavelmente foi o esforço muito grande que ele fez para poder perder esse peso. Segundo alguns amigos dele me disseram, ele tinha feito uso de um diurético, Lasix, que é muito potente e age diretamente nos rins, fazendo com que a pessoa perca muito peso. Isso, junto à sauna e banho imerso em água quente, levou a esse desfecho trágico. Quando liguei para a UPA, amigos meus disseram que ele chegou muito mal, desidratado e fraco. Não há remédio, não há ressucitação, não há tubo que faça com que a pessoa sobreviva a isso - afirmou Elma.
dede pederneiras leandro feijão enterro  (Foto: Adriano Albuquerque)Andrews Tigrão (esq.) e Dedé Pederneiras conversam com Elma, tia de Feijão (Foto: Adriano Albuquerque)
Pouco tempo após o caixão de Leandro ser colocado em gaveta no Cemitério de Inhaúma, a família foi surpreendida pela chegada de atletas da equipe Nova União, um dos times em que o lutador treinava. Dedé Pederneiras, treinador e líder da equipe, afirmou que Leandro treinava em outras academias além da sua - fato que Elma afirmou desconhecer. Sua ficha no Shooto, porém, já indicava que ele treinava na Nova União, na Delfim (academia de boxe na Zona Norte do Rio) e na Caçadores (equipe de MMA na Vila Cruzeiro, comunidade na Zona Norte do Rio). Um grupo de atletas desta última estiveram presentes ao enterro.
- O Leandro começou a treinar há pouco tempo na academia. Ele vinha esporadicamente, uma ou duas vezes à academia por semana. Eu cheguei até a comentar que ele vinha treinar muito pouco para querer lutar. Ele disse, "Não, é que eu trabalho muito", e eu falei tudo bem. Teve um garoto que morava perto dele, que gostava muito dele, e disse para darmos uma chance. Acabou que marcamos a luta e ele continuou vindo treinar poucas vezes. Agora, depois dessa situação, que viemos descobrir que ele não treinava só lá, mas em outras academias também. Por isso que ia pouco - disse Dedé.
Junto a Andrews Tigrão, que estava com o lutador quando este passou mal, Dedé esclareceu que Leandro optou por fazer o processo da perda de peso sem o acompanhamento dos profissionais da Nova União, que colocou à disposição médico, fisiologista e nutricionista. O lutador foi à academia na quarta-feira, dormiu no apartamento dividido por atletas da equipe e foi a um hotel na Zona Sul para fazer banheira e sauna. Segundo Tigrão, o processo de perda de peso já havia terminado e Leandro Feijão estava deitado, descansando, quando começou a sofrer contrações musculares.
GALERIA DE FOTOS: Veja as imagens do enterro de Leandro Feijão
Dedé Pederneiras, porém, negou que a perda de peso tenha relação com o AVC e disse ter consultado vários médicos a respeito dessa possibilidade.
- São duas coisas completamente antagônicas. O que aconteceu na cabeça dele foi um estourar de vasos que normalmente acontece por algum tipo de anomalia ou degeneração que já tivesse em alguma artéria dessa e ia estourar, um aneurisma anterior, ou por um aumento de pressão. Ele perdendo peso, suando como estava, e até mesmo se veio a tomar o diurético, a tendência é que baixasse a pressão, não aumentar. Então, são duas coisas completamente antagônicas. Quanto à perda de peso, temos um médico e um nutricionista, justamente para que a pessoa não venha a perder essa quantidade total de peso. Ela começa a perder peso já com dois meses, quando a luta é marcada com antecedência. A dieta é prescrita por pessoas que estudaram isso, então quando chega na semana da luta, ele não tem esse desgaste. As pessoas estão pensando que ele perde 50kg, mas não, ninguém perde esse peso todo. Quando está chegando perto da hora da pesagem, você só perde 1kg ou 2kg, 800g ou 700g, controlado por um médico ou um nutricionista - explicou Dedé, que disse ainda que o uso de diuréticos e anabolizantes é proibido em sua equipe, mas reconheceu ter ouvido boatos de que Leandro fazia uso de diurético.
- Eu não tinha conhecimento. Depois que o fato veio a ocorrer, alguns atletas comentaram que ele teria dito a eles que estava acostumado a usar diurético. A coisa que mais sou contra é justamente isso. Trabalho com esporte há muito tempo e coloco atletas no UFC desde o UFC 9. Nenhum atleta meu jamais foi pego com doping, justamente porque sou contra isso. Sempre que um deles vai se consultar com médico, a primeira coisa que digo é para que não tome, porque não adianta. O que passo para os médicos, inclusive o Dr. Gustavo, que trabalha conosco toda quinta-feira na academia, é para que se algum desses garotos pedir alguma informação sobre anabolizante ou algo para melhorar o rendimento, não dê e não prescreva.
 leandro feijão enterro  (Foto: Adriano Albuquerque) André Chatuba (centro) e outros colegas de Feijão
foram ao enterro (Foto: Adriano Albuquerque)
Elma, por sua vez, não se contentou com a explicação e prometeu averiguar se seu sobrinho havia treinado em outras academias durante a última semana.
- A academia é co-responsável, porque ele é maior de idade e eu sempre o orientei sobre essas substâncias que os atletas usam para poder pegar massa, perder peso e os efeitos colaterais que passam. Se há outras academias envolvidas, quero saber quais são e ouví-las para saber sua versão. Quero saber se o Leandro treinou nesses últimos dias nessas outras academias também - disse Elma.
Entenda o caso
Leandro Feijão se preparava para disputar o Shooto 43, na última quinta-feira. O lutador estrearia na categoria peso-mosca, até 57kg. Para isso, precisava perder cerca de 15kg. Na véspera da pesagem do evento, quando ainda faltavam cerca de 900g, Feijão estava fazendo sauna em companhia de Andrews Tigrão, quando desmaiou.
O atleta foi levado para a UPA do bairro de Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro, mas não resistiu e acabou falecendo. A perícia feita pelo IML constatou que a morte do atleta se deu em decorrência de um AVC. A tia de Leandro, Elma, que é enfermeira, disse que o sobrinho não sofria de nenhuma doença e tinha boa saúde, e acredita que o excesso de esforço e o sacrifício físico na perda de peso tenha contribuído para o falecimento do atleta.

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