terça-feira, 29 de outubro de 2013

Ícone, irmão de voz do UFC se delicia com feijoada e sofre no trânsito de SP

Michael Buffer, um dos maiores apresentadores do boxe mundial, diz torcer para que Brasil descubra novos ídolos no esporte: 'Os fãs merecem isso'

Por Osasco, SP
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A madrugada de domingo começava quando o público em Osasco ouviu a famosa frase pela primeira vez. Com a voz empostada, um senhor, elegantemente vestido com um terno importado, se põe ao meio do ringue e anuncia: “Lets get ready to rumble”, algo como “Vamos ficar prontos para agitar”, em tradução livre. Juntas, as palavras formam um dos bordões mais conhecidos dos ringues mundiais. Pela primeira vez no Brasil, para a disputa do cinturão latino-americano da Organização Mundial de Boxe (OMB), Michael Buffer é quase calado pelos aplausos antes mesmo de chegar ao fim da frase. Mas, apesar do carinho, o apresentador sabe que o país é um dos únicos do mundo onde seu irmão mais novo leva a maior fama.

Foi por acaso que Michael conheceu Bruce, dono do bordão “It’s time”, do UFC. Quando já passava dos 30 anos, o caçula perguntou ao pai sobre aquele homem que se apresentava nos ringues e carregava o mesmo sobrenome que o seu. A resposta foi em forma de um cruzado: a voz do boxe era fruto do primeiro casamento do progenitor, algo desconhecido de sua segunda família. Logo ao se conhecerem, porém, os dois descobriram uma série de traços em comum. Com o passar dos anos, se tornaram amigos e, em caminhos opostos, viraram marcas registradas de esportes encarados como rivais. Mas, tanto no boxe quanto no UFC, o sobrenome Buffer se faz presente como ícone.
Michael Buffer boxe (Foto: João Gabriel Rodrigues)Michael Buffer se apresentou pela primeira vez no Brasil (Foto: João Gabriel Rodrigues)
- Eu era um cara crescido quando nos conhecemos. Foi uma coisa de destino. Meu pai biológico, que é o pai do Bruce, se divorciou da minha mãe depois da 2ª Grande Guerra Mundial. E seguimos nossas vidas separados. Só fomos nos encontrar anos depois. Mas viramos amigos, sempre nos falamos – disse o americano, de 68 anos.

Além de apresentador mais conhecido do boxe, Michael Buffer tem mais de 30 créditos como ator. Costuma representar seu papel da vida real em filmes como os da franquia “Rocky”. O americano se prepara, inclusive, para o lançamento de uma nova parceria com o astro Sylvester Stallonne, “Grudge Match”, também estrelado por Robert de Niro. Mas, no Brasil, a voz dos ringues se põe à sombra do irmão mais novo, a quem incentivou seguir a mesma carreira que a sua. Em um país onde os lutadores de UFC têm mais grife que os de boxe, Michael não se importa. Mas torce para que o Brasil redescubra ídolos como foram Popó, Maguila e Éder Jofre, entre outros.
Michael Buffer boxe (Foto: João Gabriel Rodrigues)Michael durante evento em São Paulo
(Foto: João Gabriel Rodrigues)
- Seria ótimo ver outro grande pugilista brasileiro, como foi Popó, Eder Jofre, Maguila. Os fãs brasileiros merecem  um grande pugilista. O país tem ótimos lutadores no UFC, o melhor futebol do mundo, a Copa do Mundo e as Olimpíadas estão vindo para o Brasil agora. São milhões de torcedores que vivem e morrem pelo esporte todos os dias. Seria ótimo ver o boxe forte aqui novamente.

Em sua primeira passagem pelo Brasil, Michael Buffer viu sua voz ficar ofuscada por problemas técnicos do evento, como o som baixo de seu microfone e um apagão na segunda luta mais importante da noite. A simpatia do apresentador, porém, pareceu ignorar as falhas. Acompanhado da mulher, Christine, o americano aproveitou os dias no país para comer. E no sábado, antes da luta, se apaixonou por um dos pratos mais tradicionais daqui.

- Até aqui, foi uma experiência fantástica. Eu e minha mulher almoçamos em um restaurante maravilhoso, com uma vista incrível, conseguimos ver a cidade inteira. E comemos uma tradicional feijoada brasileira. Era perfeita. Por mim, estaria comendo até agora. Se não tivesse o evento, comeria como um porco - brincou.

Michael quer voltar ao país o quanto antes, mas de folga, para aproveitar alguns dias de sol por aqui. O único porém da visita, ele diz, foi o traumático trânsito paulista.
Michael Buffer boxe (Foto: João Gabriel Rodrigues)Michael Buffer diz torcer para que boxe volte a crescer no país (Foto: João Gabriel Rodrigues)
- Realmente quero voltar. Eu vou passar o domingo inteiro de folga, minha mulher já separou alguns lugares para irmos. O tempo está ótimo, disseram que iria chover, mas demos sorte. Só o trânsito daqui que é completamente louco. Mas somos de Los Angeles, estamos acostumados.
O apresentador discorda de quem diz que o UFC tem matado o boxe aos poucos. Michael cita algumas de suas lutas para provar que o esporte ainda leva milhares de pessoas a estádios e ginásios em todo o mundo.

- Eu tive a sorte de trabalhar os últimos trinta anos em vários lugares do mundo. Consegui ver grandes lutadores. Na Europa, há lutas para 50 mil pessoas. Recentemente, apresentei uma luta do Sergio Martinez para 15 mil pessoas em um estádio de futebol na Argentina. O boxe está vivo e bem. Há grandes eventos quase todos os dias. Pode haver um UFC a cada duas semanas, mas o boxe vai além.

Mas, apesar da rivalidade, Michael, que chegou a apresentar alguns eventos de MMA no início da carreira, diz não ter problemas com o esporte representado por seu irmão.

- É um grande esporte. Há uma legião fiel de torcedores. Aqui no Brasil as pessoas amam o UFC porque há grandes lutadores, como Anderson Silva e outros. Por isso há tanta paixão nisso.

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