quarta-feira, 28 de maio de 2014

Presidente da CBFS emprega filhas na entidade: "Nomeei para me ajudarem"

Herdeiras de Aécio de Borba Vasconcelos ocupam cargos de diretoria, com ganhos que podem estar acima dos valores apresentados nos respectivos contracheques

Por Rio de Janeiro
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A crise que atinge o futsal brasileiro ganha mais um capítulo. Agora, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol de Salão, Aécio de Borba Vasconcelos, está sendo acusado de praticar nepotismo na entidade. Segundo documento obtido pelo GloboEsporte.com, Aécio, de 84 anos, emprega as três filhas e mais uma sobrinha na CBFS. No último domingo, representantes de todas as federações reuniram-se em assembleia, em Fortaleza, quando votaram pela não aprovação do balanço da entidade referente ao ano de 2013. Os dirigentes pediram a renúncia de Aécio, que relutou ao pedido e segue no cargo. A crise no esporte ganhou visibilidade quando Falcão anunciou sua retirada da seleção em protesto contra a gestão da Confederação.
Dentre as filhas de Aécio, quem está há mais tempo na CBFS é Virgínia Glaucia Melo de Borba, que ocupa a diretoria financeira há 19 anos, desde fevereiro de 1995. A segunda com mais tempo de casa é Sônia Regina Mello de Borba, diretora administrativa desde maio de 2006 e que assumiu o cargo de diretora de Centro de Treinamentos no dia 7 de maio de 2013. Completa o trio de filhas empregadas na CBFS a diretora de marketing, Silva Helena de Borba Gongim, nomeada no dia 15 de maio do ano passado. Os documentos obtidos indicam ainda a remuneração de Súria Borba Attianesi, sobrinha de Aécio. Ela ocupa o cargo de supervisora do departamento técnico desde 2008. As quatro juntas ganham um total de R$ 21.496, 60.
contracheques CBFS futsal (Foto: Editoria de Arte)Os contracheques das três filhas e uma sobrinha de Aécio de Borba (Foto: Editoria de Arte)

A comissão formada para investigar a gestão da CBFS apura ainda a existência de mais parentes de Aécio empregados na entidade. O grupo suspeita também que os ganhos das filhas do presidente sejam maiores que os valores apresentados nos contracheques. Em 22 de março deste ano, foi realizada assembleia que determinou a proibição de empregar parentes diretos de dirigentes na entidade. Segundo Aécio de Borba Vasconcelos, desde então, as três filhas já não fazem mais parte da folha salarial da CBFS. Entretanto, o GloboEsporte.com apurou que apenas Virginia deixou oficialmente o seu cargo, embora tenha participado da assembleia do último domingo, que reprovou as contas da entidade.
Aécio tratou de defender-se das acusações, afirmando que nomeou as filhas para os respectivos cargos por serem de confiança e pelo fato de ele estar com uma idade avançada, necessitando de pessoas próximas para ajudá-lo. Ele afirmou ainda que os salários das três geram pouco custo para a confederação.
- Os salários pagos às três não chega a R$ 20 mil. Nomeei as minhas filhas para elas me ajudarem. Estou com 84 anos e preciso de pessoas de confiança ao meu redor. O que posso dizer dessa assembleia é que, em vez de um relatório, foi feito um acusatório - disparou Aécio.
quadro diretoria CBFS diretoras (Foto: Reprodução / Site Oficial CBFS)Quadro de Diretoria Executiva conta com três filhas do presidente (Foto: Reprodução / Site Oficial CBFS)

Integrante da comissão que investiga possíveis irregularidades na administração da CBFS, o presidente da Federação Mineira de Futsal, Marcos Madeira, rebateu o mandatário, afirmando que Aécio ainda não apresentou nenhuma explicação para o relatório apresentado no último domingo.
- Provamos tudo o que apresentamos na reunião. Ele falou três vezes na assembleia do domingo e não apresentou qualquer justificativa para o que estava no relatório. Antes da assembleia, ele havia afirmado que entregaria o cargo se não tivesse as contas aprovadas. Não foi o que aconteceu - disse Madeira.
Aécio de Borba Vasconcelos e Edson Nogueira CBFS futsal uberlândia copa das nações (Foto: Zerosa Filho / CBFS)Aécio de Borba Vasconcelos teve as suas últimas contas reprovadas (Foto: Zerosa Filho / CBFS)

repasse sem prestação de contas
Outra acusação apresentada no relatório é quanto à participação da empresa ARFE Produções e Logística, que tem um dos genros de Aécio como sócio. Segundo a comissão, a CBFS pagou R$ 3 milhões à empresa sem comprovação dos serviços prestados. Aécio tratou de apresentar a sua versão.
- Trabalhamos com essa empresa porque ela tem um custo muito mais baixo para a confederação, cerca de 10% a menos que as concorrentes. São serviços gerenciais, técnicos e logísticos para eventos sociais. Nunca tirei 1 centavo da confederação, e os valores passados pela comissão se referem a um período maior que um ano - afirmou o presidente.
Advogado, empresário, político e ex-treinador de futsal, Aécio de Borba Vasconcelos fundou a CBFS em 1979, sendo o seu primeiro e único presidente desde então. Natural de Fortaleza, o dirigente vem sendo alvo de acusações desde março deste ano, quando Falcão anunciou o seu desligamento da seleção em protesto ao que considera má gestão da CBFS. Em seguida, outros nomes de peso, como Neto e Vinicius, seguiram pelo mesmo caminho, revelando vários problemas na entidade, como falta de repasse de valores a jogadores e má relação de dirigentes com atletas.
a gestão da cbfs e patrocinadores
A Confederação Brasileira de Futebol de Salão é uma entidade privada, que se sustenta com recursos próprios e de seus patrocinadores, tendo assim autonomia quanto à sua organização e funcionamento. Cabe ao presidente a administração da CBFS. O conselho fiscal tem a função de auxiliar a presidência nos seus respectivos setores. Ele é o poder fiscalizador da administração financeira e é formado por três membros efetivos e outros três suplentes, eleitos pela Assembleia Geral, com mandato de 4 anos. Já a Assembleia Geral é o poder básico e de jurisdição máxima. Cada federação estadual filiada tem direito a um voto.
futsal falcão brasil colômbia copa intercontinental (Foto: Luciano Bergamaschi / CBFS)Falcão com a camisa da seleção: patrocínios estampados (Foto: Luciano Bergamaschi / CBFS)
Logo após as denúncias do craque Falcão, o Banco do Brasil, patrocinador da CBFS desde 2007 e que pagava cerca de 4,5 milhões por ano para estampar sua marca nas costas da camisa da seleção brasileira, não renovou seu vínculo alegando mudança da estratégia do marketing e opção por investir no handebol, que é modalidade olímpica e conquistou o inédito título mundial em dezembro de 2013.
Já os Correios, outra empresa estatal patrocinadora da entidade e que tinha uso exclusivo da denominação “patrocinador oficial”, está desde março negociando a renovação do contrato com a CBFS, mas ainda não houve um acordo entre as partes. Segundo os Correios, as “pendências na entrega de documentos para comprovação de despesas e fiscalização do processo anterior”, observadas no início do ano, foram solucionadas. Atualmente, o site da CBFS continua estampando as seguintes marcas em sua página: Correios, Chevrolet, Pulse e Kagiva. De acordo com a estatal, "a CBFS pediu autorização para uso da marca dos Correios em reconhecimento à parceria desde 2004, mas sem ônus para os Correios".

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