sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Aposta furada

Ninguém fala ampla, aberta e oficialmente sobre o assunto, mas os sites de aposta e os apostadores estão cada vez mais presentes no tênis. Seja patrocinando torneios como Hamburgo e Kitzbuhel, seja com propostas indecentes para que tenistas entreguem jogos, seja infiltrando-se em torneios ao redor do mundo para mandar informações. Hoje, Campos do Jordão viveu um momento assim.
No canto de uma das arquibancadas laterais, o cidadão assistia às partidas sozinho. Touca e óculos escuros na cabeça, bandeira do Brasil no colo (é só ver na foto acima). Fã de João Sorgi, primeiro tenista da casa a jogar? Não. Amigo de Ricardo Mello, como ele mesmo argumentou, quando foi abordado? Mello disse que nunca o viu antes. Tratava-se de um funcionário de uma casa de apostas estrangeira.
Não era seu primeiro dia no torneio, e o rapaz começou a levantar suspeitas na quarta-feira, que não teve jogos. O mau tempo, que persistiu no decorrer do dia, afastou o público do Tênis Clube de Campos do Jordão. Mas ele continuava andando de um lado para o outro, esperando por jogos. Nesta quinta, a organização do torneio investigou e descobriu a real intenção do “fã”.
Com ajuda do BandSports, que deixou uma de suas câmeras ligadas no rapaz, foi possível ver que por baixo da touca havia fones de ouvido ligados a um telefone. Embaixo da bandeira do Brasil, um pequeno computador e um aparelho para transmitir os pontos dos jogos. Em inglês carregado de sotaque espanhol, o cidadão disse ser americano e amigo de Ricardo Mello. Logo em seguida, cedeu e mostrou uma carta que supostamente comprovava seu emprego para uma empresa estrangeira.
O diretor do torneio, Danilo Marcelino, o supervisor da ATP, Ricardo Reis, o chefe de juízes, George Higuashi, e o funcionário da organização Clayton Ribeiro foram até o cidadão e educadamente convidaram-no a deixar a quadra. A conversa (registrada na foto) durou cerca de cinco minutos e foi tão bem conduzida que Ricardo Mello e Thiago Alves, que jogavam naquele momento, não foram atrapalhados.
Como funciona: atualizando o placar com seu aparelho, o rapaz faz com que a empresa receba o placar antes da maioria dos fãs de tênis, já que o live score da ATP tem um certo atraso. Pequeno, é verdade, mas o suficiente para que apostadores malandros tirem vantagem. O mesmo vale para casas de apostas. Quanto mais rápido chega a informação (e isso vale também principalmente quando alguém pede um tempo médico ou dá sinais de que está sentindo uma lesão), mais tempo a casa tem para ajustar as cotações do chamado “in-play”, aquele sistema em que o usuário pode apostar durante as partidas.

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