domingo, 18 de setembro de 2011

Zico quer tirar futebol iraquiano do atraso e levar à Copa de 2014

'Esporte Espetacular' acompanhou todos os passos da chegada do Galinho ao Iraque para assumir o comando da seleção local de olho no Mundial do Brasil

Por GLOBOESPORTE.COM Erbil, Iraque

Seis dias antes da estreia nas Eliminatórias para a Copa do Mundo, Zico desembarcou no Iraque para assumir a seleção junto com o preparador físico Moraci Santana. Ao lado da dupla, um produtor registrando para o Esporte Espetacular a chegada, o primeiro contato com a cidade, com os jogadores e a partida de estreia contra a Jordânia. O Galinho tinha na bagagem a confiança na possibilidade de levar o país pela segunda vez a uma Copa – a primeira foi em 1986, sob o comando de Evaristo de Macedo.
- Não resta dúvida que me deixaria feliz levar o Iraque para a Copa de 2014, no Brasil. E acho que a seleção tem condições, temos jogadores com qualidade – declarou Zico, otimista. O Iraque, que perdeu em casa o primeiro jogo, venceu o segundo contra Cingapura, na casa do rival.
O primeiro impacto de Zico foi perceber que a imagem de um país perigoso em que grupos terroristas atuam pelas ruas não representa a realidade. Invadidos duas vezes pelos EUA, os iraquianos sofrem com a herança deixada pelo ditador Saddam Hussein. Mas são apaixonados pelo futebol, considerado por cronistas locais "uma das únicas alegrias do povo".
zico iraque treino (Foto: Bruno Machado/Tv Globo)Zico treina a seleção de futebol do Iraque (Foto: Bruno Machado/Tv Globo)
De Erbil, quarta maior cidade que fica 320km ao norte da capital Bagdá e local determinado pela FIFA para o Iraque mandar seus jogos nas Eliminatórias, a visão é de uma país com as características da religião islâmica, mas sem radicalismo. Com índices baixos de violência e analfabetismo, a capital da região autônoma do Curdistão tem moradores orgulhosos por não haver registro de ação terrorista na cidade nos últimos sete anos. Chamam de “Novo Iraque”. Já o futebol acabou sofrendo com período tão longo de ditadura e conflitos internos, como constantou rapidamente Zico.
- O futebol hoje, no Iraque, é amador. Tudo isso que aconteceu, com todas essas guerras, deixou o futebol paralisado. A nova diretoria da Federação, que me fez o convite, está há poucos meses e o objetivo é tornar a administração mais profissional. Nosso campo de jogo, por exemplo, não tinha condições – analisou.
Estádio acanhado e campo esburacado
No primeiro treino no estádio de Erbil, o Franso Hariri (homenagem a um mártir local), Zico percebeu que os problemas de estrutura eram graves. O gramado estava irregular, com muitos buracos e em alguns pontos o toque de bola era naturalmente de canela. Por ironia, o futebol iraquiano conhecido pela habilidade dos atletas acabou prejudicado contra a Jordânia (derrota por 2 a 0). O estádio com capacidade para 28 mil torcedores oferece aos torcedores condições parecidas com a de campos de pequeno porte no Brasil. Acesso difícil por uma única entrada e quase todo descoberto. Para a imprensa, não há pontos para posicionamento de câmeras, os jornalistas ficam no meio dos torcedores e a coletiva foi realizada numa sala com temperatura acima de 42 graus. O melhor estádio do país está em Bagdá, com capacidade para 40 mil pessoas.
zico iraque ônibus (Foto: Bruno Machado/Tv Globo)Zico é recebido com muita festa no Iraque
(Foto: Bruno Machado/Tv Globo)
Mesmo com um nível amador de desenvolvimento do futebol, o Iraque já teve motivos para comemorar. Além da passagem de Evaristo de Macedo na Copa do Mundo de 1986 sucedendo o irmão de Zico, Edu Coimbra, que dirigiu a seleção na classificação para o Mundial, a geração atual que está na casa dos 30 anos tem no currículo o título da Copa da Ásia de 2007 sob o comando de outro brasileiro: Jorvan Vieira. O vice-presidente da Federação, Sharar Haydar, acredita na tradição de bons trabalhos realizados por brasileiros no país.
- Nosso futebol tem muito a ver com o brasileiro, por isso somos conhecidos como os brasileiros da Ásia. Mas nos faltam alguns fundamentos e os treinadores brasileiros trabalharam bem isso. Acho que Zico é o nome certo para pegar nossos atletas que tem qualidade e desenvolvê-los ainda mais no ponto de vista técnico e tático - comentou.
Sharar é um dos símbolos da nova fase do Iraque. Quando jogava na seleção sub-20, no fim da década de 80, ele denunciou práticas de tortura do presidente da Federação, Uday Hussein, filho de Saddam, e teve que deixar o país. A vida em Londres, na Inglaterra, por sete anos rendeu ao dirigente, além de um inglês fluente, uma visão mais profissional do esporte.
- Uma vez o Iraque perdeu e o Uday mandou prender os jogadores. Mandou raspar a cabeça de todo mundo e isso acontecia constantemente. Foi quando o atual vice-presidente se rebelou e não aceitou mais isso. Teve que sair do país - completou Zico.
“Zico, Zico, Zico”
A reação da torcida no estádio na véspera do jogo explica como o povo iraquiano recebeu Zico. Aplausos e gritos de centenas de torcedores silenciaram até os jogadores que chegavam para o treino no ônibus. Por alguns instantes, o grito “Zico, Zico, Zico" ecoava no estacionamento do Franso Hariri. Torcedores diziam que não acreditavam que ele assumiria a seleção nem quando leram o acordo nos jornais locais. Só quando viram o ídolo brasileiro em Erbil passaram a crer na contratação. O camisa 10 do time, Younis Mahmoud, resumiu.
- Ter o Zico aqui no comando é incrível e todos nós queremos que ele fique muito tempo com a gente. Acreditamos que ele pode nos ajudar a conseguir uma vaga na Copa de 2014. Podemos ir ao Brasil com o Zico, vai ser especial.
O Iraque volta a jogar pelas Eliminatórias no dia 11 de outubro, contra a China, na casa do adversário. Pelo regulamento das Eliminatórias Asiáticas, os dois primeiros colocados em cada um dos cinco grupos, após jogos de ida e volta, avançam para a fase seguinte, quando as dez equipes serão divididas em dois grupos. Os dois primeiros colocados nestes dois grupos com cinco equipes em cada um garantem as vagas na Copa de 2014. Os dois terceiros colocados se enfrentam em jogos de ida e volta. O vencedor vai disputar a repescagem com o quinto colocado nas Eliminatórias da América do Sul.

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