quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Em coletiva, doping de Anderson Silva é comparado ao de Lance Armstrong

UFC fará parceria com agências reguladoras em todo o mundo para criar um protocolo. Objetivo é que todos os atletas sejam testados antes de cada evento

Por Las Vegas
A repercussão negativa dos seguidos casos de doping em lutadores do UFC recentemente -Anderson Silva, Nick Diaz, Jon Jones, Hector Lombard e Ashlee Evans-Smith foram flagrados por uso de substâncias proibidas em testes feitos pelas comissões atléticas americanas no último mês - forçaram os chefes da maior organização de MMA do mundo a vir a público para revelar seus planos para o futuro próximo no que se refere ao controle dos seus atletas. Em uma coletiva de imprensa realizada nesta quarta-feira no Red Rock Casino Resort, em Las Vegas, Dana White - presidente do UFC -, Lorenzo Fertitta - um dos donos da Zuffa, empresa que controla o evento - e Lawrence Epstein - vice-presidente executivo do UFC - anunciaram que o UFC fará ao menos três testes anuais em todos os atletas contratados pela organização. A medida, que será tomada em parceria com a USADA (United States Anti-Doping Agency) e outras agências reguladoras no mundo, pretende diminuir ao máximo os resultados positivos nos exames antidoping. 
Coletiva doping UFC Dana White (Foto: Evelyn Rodrigues)Dana White, Lorenzo Fertitta e Lawrence Epstein na coletiva do UFC em Las Vegas (Foto: Evelyn Rodrigues)

A iniciativa acontecerá em paralelo aos testes realizados pelas comissões atléticas. Ou seja, além daqueles realizados pelas comissões, o UFC fará seus próprios testes surpresa em seus lutadores, estimando que todos sejam testados incessantemente e, principalmente, que tenham seus resultados divulgados antes dos eventos nos quais lutarão. Além disso, os lutadores não precisarão necessariamente ter lutas marcadas para serem testados. Todos os contratados pelo UFC estarão sujeitos a testes.
Com o semblante sério e demonstrando o desgaste que sofreu nos últimos dias, principalmente com o doping de Anderson Silva, Lorenzo Fertitta falou sobre o assunto logo no início da coletiva.

- Estamos cada vez mais engajados para impedir o uso de substâncias proibidas que constantemente ameaçam o nosso esporte. Em testes antidoping recentes, atletas foram flagrados usando essas substâncias e isso nos fez ver que precisamos melhorar a nossa política de controle. O UFC não é mais imune a esses procedimentos ilegais e temos que agir fortemente para proteger a integridade física e a saúde dos nossos atletas. Fazendo isso, vamos continuar a ser líderes no MMA e no esporte em geral. O UFC vai querer que todos lutadores de cada card sejam testados no dia da competição. Nós vamos cobrir os custos adicionais desse processo. Serão cerca de 481 testes ao longo de 41 eventos em um ano. Haverá testes fora das competições, e vamos montar procedimentos e contratos para isso. No total, 585 atletas serão testados de surpresa a partir de 1º de julho sob os padrões da Wada. Gastaremos alguns milhões de dólares para que isso seja feito e lutaremos por penas mais longas e mais duras junto às comissões atléticas. Hoje, o padrão de suspensão é de dois anos, mas queremos que o período de suspensão seja ainda maior, provavelmente de dois a quatro anos para os flagrados pela primeira vez.
Coletiva doping UFC Dana White (Foto: Evelyn Rodrigues)Dana White não escondia a frustração com o momento por que passa o UFC no que se refere ao doping (Foto: Evelyn Rodrigues)
Dana White detalhou os casos de doping de Jon Jones, Anderson Silva e Hector Lombard.
- Quero deixar algumas coisas claras: Jon Jones foi testado fora de competição e foi flagrado por uso de cocaína, e depois seus testes deram negativo para todos os esteroides e substâncias proibidas. No teste após a luta nada foi flagrado. Se fosse pego após a luta, teria sérios problemas. Ele recebeu uma multa de US$ 25 mil. Anderson Silva fez um teste dia 9 de janeiro, antes do período de luta, por um laboratório credenciado pela WADA. A NSAC (Comissão Atlética de Nevada) não recebeu os resultados dos testes até o dia da luta. Quando recebemos os testes após a luta, não acreditamos. Como não recebemos isso antes? A NSAC nunca deixaria que ele lutasse com um teste positivo por uso de esteroides. Os testes de Hector Lombard saíram antes da sua luta no UFC 186 em Montreal, e não divulgamos porque nunca fazemos isso antes da contraprova.
Confira os assuntos abordados na coletiva:
Situação de Anderson Silva
- Por enquanto o processo jurídico normal será feito. Foi dada a data para que ele apresente a sua defesa, e por enquanto temos que esperar que esse prazo se esgote. Ele está suspenso preventivamente. Anderson teve uma grande carreira. Vamos ver o que vai acontecer durante a sua audiência. Há um longo caminho para se percorrer antes de se pensar em uma próxima luta de Anderson Silva. Nós estamos gastando milhões de dólares nisso. Se alguém estiver usando drogas ilegais, essa pessoa será pega. Anderson Silva foi o ponto de virada, como Lance Armstrong foi no ciclismo. O que aconteceu com ele forçou um aceleramento do processo, não podemos nos acomodar após um fato como esse acontecer (Lorenzo Fertitta). Quando um cara como o Anderson Silva é pego, isso certamente envia uma mensagem. Isso me chocou. Nós ficamos completamente chocados com o que aconteceu (Dana White).
Logística para implementação dos testes

- Temos atletas que falam diversas línguas e moram em todos os cantos do mundo. Haverá uma grande dificuldade logística nesse sentido, mas teremos tempo hábil para fazer tudo funcionar. Mas, sem dúvida, é um grande problema. Os lutadores podem ser testados independente de terem ou não luta marcada (Lawrence Epstein).
Por que somente a partir de 1º de julho?
- O que planejamos é que os testes aconteçam de 12 a 14 semanas antes dos eventos em que haja disputa de cinturão. A taxa de flagrante dos testes em período de competição é de 1,1 a 1,3%, contra 26% dos testes feitos fora de competição. Isso é alarmante e temos que baixar esse número para zero. Os testes surpresa são uma grande arma para diminuir a incidência do doping. Estamos examinando os custos para ver o que pode ser feito, mas sem dúvida nos empenharemos nisso. Temos que ter um marco, e a data de 1º de julho dá tempo para que o evento de 11 de julho tenha todos os seus atletas testados antes de se apresentarem. É uma medida nova e que precisa de tempo para ser implementada (Lorenzo Fertitta).
Punição também por parte dos eventos
- Hoje as comissões atléticas são as únicas autorizadas a punir os atletas flagrados no exame antidoping, mas vamos pressionar para que tenhamos direito de também penalizar os atletas que se dopem. Eu sinto que nós sempre fomos líderes nesse esporte. Sempre fornecemos desde seguros de saúde a todo o resto. Eu gostaria de ver outras organizações fazerem isso, incluindo o boxe (Lawrence Epstein)
Adequação das Comissões Atléticas internacionais
- Temos certeza que elas terão o maior interesse em se adequar ao que estamos propondo. A CABMMA (Comissão Atlética Brasileira de MMA) está trabalhando para que os procedimentos adotados sejam implementados da melhor forma possível. Sinceramente? A situação provavelmente vai ficar muito pior antes de melhorar. Em lugares como o Reino Unido, nós sempre seguimos o procedimento da Comissão Atlética de Nevada. Então nós vamos pedir para a NSAC alterar a sua pena mínima para dois anos, e isso será seguido por outras comissões(Lorenzo Fertitta).
Campeões dopados perderão os títulos
- Se qualquer atleta for flagrado, especialmente os campeões, somos favoráveis a penas maiores. Se for necessário que um campeão fique por dois anos ou mais fora de disputa, isso acontecerá. Não queremos campeões sujos no UFC. Se um campeão for flagrado, ele perderá o cinturão e sofrerá as punições previstas na lei. Se você não pode competir nesse esporte com suas habilidades naturais, você não pertence a esse esporte (Lorenzo Fertitta).

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