sábado, 30 de julho de 2016

Fã de futebol, capoeira e escambo: mãe revela infância de Amanda Nunes

Campeã peso-galo do UFC já trocou um cavalo por uma bicileta e, depois, por uma gaiola com passarinho. "Vocês não imaginam como ela aprontava!", conta dona Ivete

Por Las Vegas e Rio de Janeiro
Amanda Nunes; Ivete Nunes (Foto: Arquivo Pessoal)Amanda Nunes e a mãe, dona Ivete (Foto: Arquivo Pessoal)
No último sábado, Amanda Nunesderrotou Miesha Tate na luta principal do UFC 200, em Las Vegas, e se tornou a primeira brasileira a vencer um cinturão do Ultimate. Longe dali, mais precisamente há 9.476 km de distância, sua mãe, Ivete Nunes, acompanhava de perto a maior conquista profissional da filha.
Morando no interior da Paraíba, onde cuida de uma senhora de 87 anos, dona Ivete, de 58, não vê a "Leoa" há pelo menos um ano. Ela tenta matar a saudade da filha com publicações nas redes sociais e troca de mensagens em aplicativos de telefone celular, mas nem sempre consegue falar direito com a lutadora, pois o sinal de celular em sua região é muito ruim. 
- Foi ótima a luta. Merecido. Show de bola. Está de parabéns a moleca, arrebentou. Foi a madrugada inteira o pessoal me ligando, quase não consegui assistir a luta direito porque o pessoal ficou me ligando. A casa estava lotada. Ainda estou rouca de tanto que gritei. A Bahia e a Paraíba inteira estavam assistindo. A vitória da Amanda foi preparada por ela mesma, pela Nina, pela equipe. Ele trabalhou muito para isso. Foi nota mil. Ela me ligou, mas falou comigo do jeito que deu. Ela conseguia me ouvir, mas eu não conseguia ouvi-la direito. O importante é que eu soube que está tudo bem - declarou em entrevista ao Combate.com.
Durante o bate-papo, dona Ivete contou um pouco da infância de Amanda em Pojuca, município da região metropolitana da Bahia, e revelou as travessuras da lutadora, que era apaixonada por futebol, cavalos e era uma exímia negociante (a atleta chegou a trocar um cavalo por uma bicicleta e depois por uma gaiola com passarinho quando era mais nova).
Confira:
É verdade que a Amanda era apaixonada por futebol e por cavalos quando era crianca?

Desde pequena a Amanda jogava bola, fazia capoeira e montava cavalo. Eu sempre incentivei porque ela praticava tudo direitinho, prestava atenção. Nunca achava a Amanda para almoçar. A gente nunca sabia onde ela estava, porque ela adorava uma rua. Era um moleque de rua. Você não imagina como ela aprontava. Ela pegava os cavalos e saía correndo. “Mainha, deixa os cavalos aqui que vou dar uns treinos com ele”. O professor me ligava e falava que a Amanda tinha sumido com os cavalos. Um dia, eu tinha ido pro trabalho, deixei tudo arrumadinho, e a Amanda passou com o cavalo dentro de casa, foi dar banho no bicho no quintal e entrou com ele por dentro de casa. O cavalo se sacudiu pra tirar a água e sujou tudo. A casa ficou toda fedida. Cheguei e senti aquele fedor de cavalo. Depois a Amanda trocou o cavalo por uma bicicleta, depois trocou a bicicleta por uma gaiola com um passarinho. Aí, depois, ela conseguiu outra bicicleta e um pivete roubou dela. Ela se distraiu com a gaiola, o menino viu a bicicleta encostada e levou. Logo depois, ela estava voltando a pé pra casa, viu a bicicleta dela encostada no poste e pegou de volta. O rapaz que roubou era até um aluno do jiu-jítsu. Depois eu até fui lá falar com ele, se eu deixasse a Amanda ia pegar ele de porrada. Não ia ser bom pro garoto, não. 
Amanda Nunes UFC 200 (Foto: AP)Dona Ivete disse que ficou rouca de tanto gritar quando Amanda Nunes finalizou Miesha Tate (Foto: AP)
Qual foi sua reação quando ela começou a fazer jiu-jítsu?
Eu adorei, sempre incentivei. Não tenho preconceito nenhum, porque ela gostava também. Quando a gente gosta de alguma coisa, tem que ter alguém pra ajudar, pra incentivar. Ela falava “Mainha, hoje eu vou ajudar aquela crianças ali que estão na rua”. E ia lá ensinar capoeira e jiu-jítsu para elas. Sempre foi uma pessoa boa a Amanda. Tudo ela praticava direitinho, prestava atenção. Os professores colocavam ela pra dar aula, porque ela era muito esforçada. Uma vez, o diretor da escola me ligou e disse que ela estava dando aula de jiu-jítsu pros colegas. Eu disse “pera aí que já chego aí, diretor” e o diretor respondeu: “Não precisa, não. Deixa ela aqui”. E eu perguntei: “Mas aí atrapalha os estudos”. E ele: “Tem problema não, é só um instantinho. A garotada está gostando”.
 
A senhora gostava de treinar também?
Eu gostava de dar uns treinos legais. Meu irmão era lutador e a gente treinava na praia, lutava. Meu irmão era vaqueiro, amansador de "burro brabo" e "cavalo brabo". Era um bicho forte. Sempre gostei de treinar, e saía na porrada mesmo. Agora, por causa da idade, não consigo mais.

Imaginou alguma vez que a Amanda poderia ser lutadora?
Amanda Nunes entre a mãe, dona Ivete, e a irmã, Val (Foto: Arquivo Pessoal)Amanda Nunes entre a mãe, dona Ivete, e a irmã Val (Foto: Arquivo Pessoal)
Com certeza. Acreditei muito no potencial dela, porque ela se esforçava muito. Toda vez que ela ia jogar bola, o primeiro gol era o dela. Sempre foi muito dedicada, tinha raça. Na capoeira ela chegava e mostrava tudo para os outros alunos, e fazia um discurso pra apresentar os alunos. Os professores ficavam impressionados e botavam a Amanda para dar aula por causa disso. “Amanda, hoje você vai mostrar a posição tal”, e deixavam ela lá ensinando.

A Amanda disse que pegou o dinheiro da matrícula da faculdade e se mudou pra Salvador para treinar, chegando a morar na academia. Como reagiu a isso
Patrocínio era difícil. A gente ficava um pouco distante nessa época. Não dava nem pra Amanda vir pra casa, porque não tinha dinheiro. Tinha dia que ela não vinha e tinha que dormir na academia. Era muito difícil, mas é difícil até hoje.

Assiste às lutas da Amanda?
Assisto, fico descalça, de cabelo “assanhado”. Grito. Todo mundo olha e fala: “Ué, uma educadora pedindo pra bater”. Mas estou apoiando minha filha. Sou uma educadora, trabalhava na escola. Mas ali tem que sentar o cacete mesmo, vou ficar vendo minha filha apanhar? Lá dentro ela tem q destruir.

Imaginou que ela ia chegar tão longe
Imaginava que ela ia ser uma esportista e que ia ter sucesso. Ela sempre foi arretada. Ela dizia: “Eu não vou ficar aqui, ou eu vou jogar bola ou vou correr vaquejada pelo mundo afora, mainha”. Eu já sabia que um dia ela estaria muito longe daqui, eu saiba que ela ia morar lá fora.  

Já fez parte do córner da Amanda alguma vez?

Fiquei no córner dela em Salvador mesmo. E no Rio, uma outra vez. Fiquei agoniada. Mas ali eu cobro mesmo. Ali ela tem que bater legal, não pode dar vacilo.

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