quarta-feira, 3 de agosto de 2016

COI expõe problemas do Rio 2016 em Congresso: de trânsito a orçamento

Preocupação com deslocamento e poluição da Lagoa e da Baía de Guanabara entram na pauta. Nuzman minimiza e diz que só foram trazidas questões "antigas"

Por Rio de Janeiro
 Congresso do Comitê Olímpico Internacional (COI), (Foto: Divulgação/COI)Congresso do Comitê Olímpico Internacional (COI), (Foto: Divulgação/COI)
O presidente do Rio 2016, Carlos Arthur Nuzman, afirmou, após prestar esclarecimentos em relatório no Congresso do Comitê Olímpico Internacional (COI), que termina nesta quinta-feira, que considerou menores do que esperava as críticas e questionamentos que ouviu, apesar das duras perguntas abordando diversos aspectos da organização dos Jogos. Nuzman considerou que foram trazidas questões "antigas". Ele alertou para possibilidade de filas maiores nas arenas por conta da segurança e afirmou que a maior preocupação é com trânsito e transporte. O atraso no acabamento visual dos Jogos também foi questionado, e confirmado. O COI demonstrou grande preocupação com a poluição. O discurso empolgado da presidente do comissão de coordenação, Nawal El-Moutawakel, não esteve em sintonia com as dúvidas expostas pelos membros do comitê internacional.

O primeiro a se manifestar, após discursos dos membros do Comitê Organizador da Rio 2016, foi o belga Pierre-Olivier Beckers-Vieujant, que perguntou como os atletas poderiam ter a certeza de que chegariam nas arenas nos horários marcados para as competições. O problema para deslocamento também foi abordado pelo suíço Denis Oswald, e a resposta veio através do diretor geral Leo Gryner.

- Devemos cooperar e conversar bastante sobre o trânsito. Nas áreas olímpicas, temos vias específicas para fazer o trânsito fluir mais rápido e permitir que todos os atletas cheguem nos horários para treinamentos e competições, obviamente. Vamos evoluir nos próximos dias.

Nuzman, depois da sessão, respondeu:

- Transporte e trânsito, todos os Jogos, eu sempre disse, é o problema número um de todos. Todos sofrem a mesma coisa - disse o cartola, que completou afirmando que "ninguém está comemorando" e avisando que nunca festeja por antecipação.
Trânsito no redor do Parque Olímpico é uma das principais preocupações do COI (Foto:  Thierry Gozzer)Trânsito no redor do Parque Olímpico é uma das principais preocupações do COI (Foto: Thierry Gozzer)
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O tema voltou à pauta ainda quando Alex Gilady, de Israel, perguntou ao diretor-executivo do Comitê Rio 2016, Sidney Levy, sobre as maiores preocupações para o período dos Jogos. O israelense lembrou entrevista em que o dirigente brasileiro dizia que o vírus da zika não estava nem entre os dez maiores problemas para a Olimpíada no Brasil e pediu que listasse os primeiros nesta lista.
Temos 75% das competições concentradas nas regiões da Barra e Deodoro. Aí, tudo vai ocorrer muito bem, temos vias entre essas áreas. Mas há outras competições em regiões muito populosas, como Copacabana. Como vamos fazer o transporte da Barra para essas regiões funcionar? Esse é o desafio
Sidney Levy, diretor-executivo da Rio 2016
- Primeiro, transporte. Temos 75% das competições concentradas nas regiões da Barra e Deodoro. Aí, tudo vai ocorrer muito bem, temos vias entre essas áreas. Mas há outras competições em regiões muito populosas, como Copacabana. Como vamos fazer o transporte da Barra para essas regiões funcionar? Esse é o desafio. Em segundo lugar, a segurança. Temos 70 mil homens trabalhando e precisamos encontrar o equilíbrio para que tudo ocorra bem. 

Alvo das maiores dúvidas e polêmicas durante a preparação para os Jogos, a poluição da Lagoa Rodrigo de Freitas e da Baía de Guanabara não passaram despercebidas. O responsável pela pergunta foi o Príncipe Albert II, de Mônaco, que se mostrou preocupado com a saúde dos atletas. Diretor-executivo de comunicação da Rio 2016, Mário Andrada respondeu:

- Temos dois sistemas diferentes: a Lagoa e a Baía de Guanabara. A Lagoa é um ambiente fechado e temos controlado para que a área de competição esteja limpa durante os Jogos. Temos como impedir a invasão da sujeira e temos certeza de que o ambiente estará sob controle. Na Baía, é outra situação. Fizemos testes por 60 dias antes de tirarmos conclusões e ajudar na organização. Em muitas áreas, estamos dentro dos parâmetros, em outras é permitido até o contato direto, como para natação. Sobre o problema de lixos flutuantes, temos ecobarreiras e colocamos máquinas para remoção do lixo, fizemos testes e sabemos exatamente o que fazer. O principal nessa relação é a transparência. Não podemos esconder nada dos atletas, times e federações. A saúde dos atletas é prioridade e eles estarão 100% seguros. Providenciaremos as informações necessárias para uma competição segura.

Diretor geral do Rio 2016 corre de jornalistas em hotel


Terminada a sessão, Andrada, Levy e Nuzman concederam entrevistas. Levy chegou a correr dos jornalistas gritando por socorro de Andrada que teve de intervir.

- Mário, Mário, me salva! - dizia o diretor-geral do Rio 2016 se recusando a responder perguntas sobre orçamento, quando foi interrompido por Andrada.

- Calma, calma. Isso não é um circo. Vamos parar e responder tudo, com calma - disse Andrada.

Só então, Levy parou e respondeu algumas questões, antes de sair novamente correndo e pedindo ajuda do diretor de comunicação:

- Muitas coisas não previstas precisam ser equacionadas - disse Levy, se recusando a esclarecer a que se referia.

Andrada, por sua vez, respondeu a todos os questionamentos com segurança, sem se esquivar de qualquer pergunta, mesmo sobre o orçamento que ainda enfrenta graves problemas. Ele explicou que não haverá aporte de verba extra do COI, mas que o comitê pode, de acordo com seus critérios e havendo uma justificativa séria, antecipar pagamentos, o que seria uma "ajuda". Dinheiro público, pelo contrário, seria tecnicamente inviável segundo o diretor.

- Estamos com um orçamento equilibrado para não ter déficit.  É muito difícil operar sem contingência. O maior problema agora é manter o orçamento equilibrado com coisas que acontecem e custam dinheiro. Por exemplo, o princípio de incêndio no prédio da Austrália na Vila. Eles, claro, ficaram um pouco assustados, pediram uma segurança maior, um bombeiro por andar, e nessa hora não dá para discutir ou licitar. Colocamos lá. Tem um custo.

Sobre a dificuldade de fechar a conta dos Jogos, Andrada esclareceu que foram feitos cortes que até desagradaram ao COI, mas foram aceitos. Ele citou a experiência na Copa do Mundo de 2014, quando virou corriqueira a expressão "padrão Fifa" para as exigências da entidade.

- Fazer Jogos com uma torneira de dinheiro público é bem diferente de fazer sem. Vai ser apertado, é mais complicado, dá mais trabalho. Tudo pode ser cortado, menos segurança dos atletas, qualidade da competição e "field of play (campo de jogo)". A gente vai cortar, não sabemos especificamente, mas a gente não pode assumir que vai cortar. O COI tem um cronograma de pagamentos de US$ 1,5 bilhão. Não vai dar recursos extras, pode antecipar pagamento de acordo com seus critérios. Não tem padrão COI, o COI negocia. Reduzimos comida dos lounges da família olímpica, celebridades. O COI não achou engraçado, mas aceitou. Não temos a menor intenção de usar dinheiro público, a transferência agora não é nem possível, tecnicamente inviável - afirmou Andrada.

Outro problema a resolver é em relação às instalações visuais nas arenas. Foi contratada uma empresa ucraniana, mas nem todo o material chegou.

- A chegada do "look" atrasou. A gente tem um problema com dinheiro, então temos que procurar fornecedores com melhor custo-benefício. O "look" vem de fora e ele atrasou na viagem. Como todas as empresas grandes, eles têm negócios na China. Estou um pouco preocupados com os backdrops, estão feios, brilhantes, o que interfere em luz de câmeras e flashes de fotos. O "look" é uma parte importante da experiência olímpica.

O diretor de comunicação explicou ainda o que foi cortado no orçamento:

- Excluímos algumas coisas de alimentação, seguramos energia, correndo um pouco mais de risco, reduzimos ritmo de contratação, passamos de um plano de 70 mil voluntários para 50 mil com uma boa operação e enorme economia em uniforme e alimentação...

Ainda com dúvidas de parte dos membros do COI e com a confiança do sucesso pelo Comitê Organizador, os Jogos Olímpicos Rio 2016 tiveram início nesta quarta-feira, com partidas do futebol feminino. A cerimônia de abertura está marcada para a próxima sexta-feira, no Maracanã, mesmo palco do encerramento, dia 21.

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