sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Livros, músicas e namorada psicóloga: a receita da reviravolta de Amanda

Baiana detalha mudanças que teve que fazer para conquistar cinturão do Ultimate

Por Rio de Janeiro
Quem assistia às lutas de Amanda Nunes alguns anos atrás, não tinha dúvidas: a brasileira gozava de potencial para se tornar uma grande lutadora de MMA, quiçá, até ser campeã do Ultimate. Mas faltava algo. Amanda mostrava qualidade, quase sempre começava suas lutas ganhando, mas, com o passar dos rounds, ia perdendo consistência física e psicológica. A luta contra Cat Zingano, em 2014, foi sintomática. A atual campeã dos galos do UFC venceu o primeiro round, mas deixou seu rendimento cair e acabou nocauteada no terceiro assalto. Depois do revés, ela conseguiu diagnosticar o problema: o excesso de adrenalina drenava suas forças. 
Amanda Nunes (Foto: Gustavo Pereira)Amanda Nunes posa com a namorada, Nina Ansaroff, que também é lutadora do UFC (Foto: Gustavo Pereira)
- As pessoas que eu trago comigo para a luta, têm que estar nessa sintonia comigo. O que aconteceu naquela luta contra a Cat Zingano foi que... Eu já sou adrenalizada. Se eu tiver treinadores comigo que me façam ficar mais pilhada, eu vou para cima. Se eu já não me controlo com a minha adrenalina, imagina com a de mais três pessoas. Mais três energias em cima. Eu já entrava na luta fervendo. Foi o que aconteceu contra a Cat. Eu fui elétrica e no segundo round voltei sem nada. Essa luta foi um grande divisor de águas para mim. (...) Para ser campeã eu tive que trabalhar a minha cabeça porque meu corpo já estava treinado. Eu tive que trabalhar a minha mente para chegar completa lá.
 "Para ser campeã eu tive que trabalhar minha cabeça porque meu corpo já estava treinado"
 Depois do combate, Amanda sentou com sua namorada, a também lutadora do UFC Nina Ansaroff, e as duas decidiram dar uma guinada em suas vidas. Afinal, era preciso mudar. Elas deixaram a MMA Masters rumo à American Top Team.
- Tive que fazer algumas mudanças. Eu mudei de academia porque na que eu estava antes, não estava achando a sintonia que eu precisava. Precisava recomeçar do zero. Eu saí do cage depois daquela luta, sentei com a Nina e falei que tinha alguma coisa errada, que alguma coisa precisava mudar. Eu falei: "Para eu ser campeã, essa mudança tem que vir já, porque se eu continuar assim não vou ser campeã". Cheguei em casa no dia seguinte e a gente começou o trabalho. Fomos na internet, procuramos coisas de outros atletas que já tinham passado por essa experiência que eu passo ali no cage. Que era confusa para mim. Deixava minha cabeça uma loucura. Porque na academia ia tudo bem. Aí chegava na luta e eu cansava, então a sua cabeça não entende. Às vezes a cabeça não está preparada, manda uma mensagem para o corpo e o corpo automaticamente trava. É coisa de química mesmo. 
Amanda Nunes (Foto: Gustavo Pereira)Amanda Nunes fez trabalho psicológico para melhorar no UFC (Foto: Gustavo Pereira)
O trabalho psicológico foi fundamental para a reviravolta. Foi aí que entrou Nina, que é formada em psicologia. Sua namorada ajudou a identificar os problemas que faziam com que Amanda descarregasse toda sua adrenalina logo no início dos combates. Incorporar livros ao dia a dia, por exemplo, ajudou a diminuir a ansiedade. Conan Silveira, treinador da ATT, também foi importante no processo.

- A Nina está comigo 24 horas por dia. Até quando eu escuto uma música ela sabe qual é a minha reação. Tudo isso veio ajudando a Nina a trabalhar comigo, nas minhas emoções. Nunca fui de ler. Não conseguia ficar sentada, lendo. Mas comecei a ler livros para meditar, para sair um pouco daquilo de luta e pensar em algo completamente diferente. Se tem uma pessoa que pode me ajudar estando do meu lado na hora da luta, hoje, é Nina. A gente senta com os treinadores e eles escutam a gente. Tem treinador que não escuta o atleta, mas a gente senta com o Conan e conversa como amigos. Quando eu cheguei na ATT, ele enxergou rápido como eu treino. Eu sou uma atleta explosiva. Se não me controlar, eu vou até o fim, até acabar. Então tem que ter um controle e para ter esse controle é preciso de um trabalho. Depois daquela luta contra Cat o trabalho foi intenso e fiz a mudança para a ATT. Graças a Deus encontrei Conan que, hoje, é o cara que sabe trabalhar com a atleta Amanda. Ele trabalha comigo de uma forma, com a Nina de forma completamente diferente. Talvez ela precise de um treinador que aumente a adrenalina dela. Eu não preciso disso porque já sou adrenalizada. Eu preciso de alguém que converse comigo para eu ficar tranquila, dizendo que está tudo bem e que é só fazer o que a gente treinou no camp todo. Não preciso de ninguém para me colocar no alto. 
Contra Miesha, a Leoa entrou ao som de "Estava Escrito", do grupo Revelação. Não foi à toa. Era essa música que a brasileira escutava nos treinamentos. A ideia era fazer do som uma espécie de terapia. Deste modo, quando ela entrasse na luta, ao ouvir a música, sua mente ficaria relaxada. 

- A música faz parte do meu tratamento. Eu estava sempre escolhendo as músicas que me colocassem num clima tranquilo. Essa música que eu escolhi para a luta contra a Miesha eu sempre estava escutando. Não só naquele dia, mas sempre também nos meus treinamentos. Quando eu chegava em casa, sentava, colocava um fone, respirando, trabalhando a respiração porque até isso eu tive que fazer. Aprender a respirar. Fazer a respiração só com o estômago.

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