sábado, 13 de agosto de 2016

Vital no MMA, wrestling estreia na Rio 2016 com os atletas na mira do UFC

Tradicional esporte do programa olímpico já produziu diversos campeões de MMA. Jogos Olímpicos do Rio terão russo contratado pelo Ultimate e outros prospectos

Por Rio de Janeiro
Bilyal Makhov Olimpíadas 2012 (Foto: Getty Images)O russo Bilyal Makhov com a medalha de bronze nos Jogos de Londres- 2012 (Foto: Getty Images)
Neste domingo, começa na Rio 2016 a disputa de um dos esportes mais tradicionais da Olimpíada: o wrestling, ou luta olímpica. Apesar de ter ficado sob ameaça de exclusão a partir de Tóquio 2020, a luta em que dois competidores trocam força numa disputa de superioridade física é um dos poucos esportes que já era praticado na Grécia antiga, desde 708 AC, e só ficou fora do programa olímpico moderno em 1900. Apesar de toda sua tradição, sempre foi uma competição estranha para o grande público brasileiro, até que a explosão do MMA no país na última década ajudou o termo “wrestling” a entrar no vocabulário dos fãs de luta. Para eles, as disputas na Arena Carioca 2 serão um prato cheio, com muitos nomes que em breve poderão estar destacados em grandes eventos como UFC e Bellator.

Atualmente, seis dos 10 campeões do Ultimate têm origens no wrestling colegial ou universitário americano. A lista de campeões da organização máxima do MMA com passagem pelo esporte é extensa, e alguns dos maiores astros da história das artes marciais mistas competiram nos Jogos, ou pelo menos foram reservas em seleções olímpicas. Apesar de não incluir golpes traumáticos ou posições de estrangulamento e de pressão nas articulações em suas modalidades olímpicas, o sucesso do wrestling no MMA se explica pelo potencial de neutralizar o ponto forte do oponente.

- O wrestler possui a capacidade de decidir se a luta vai acontecer em pé ou no chão. Se enfrenta um especialista em boxe, tenta colocar o cara para baixo. Se o adversário é muito bom na luta de solo, ele vai evitar ser derrubado. No wrestling olímpico, o objetivo é dominar o oponente com as costas no solo. Logo, o especialista na modalidade sabe derrubar e não se deixar ser derrubado, e leva vantagem diante dos outros adversários - explica Pedro Gama Filho, presidente da Confederação Brasileira de Wrestling (CBW).
Daniel Cormier luta olímpica (Foto: Getty Images)Daniel Cormier nos Jogos de Atenas-2004: antes do UFC, ele foi um lutador olímpico (Foto: Getty Images)


Comentarista do SporTV na Rio 2016, Antoine Jaoude competiu no estilo livre em Atenas 2004 e também tem lutas de MMA no seu currículo. Ele também nota que a ascensão do UFC - criado por Rorion Gracie como forma de demonstrar a superioridade do jiu-jítsu sobre outras artes marciais, mas vendido a seus sócios poucos depois e adaptado às exigências das comissões atléticas estaduais americanas para ser reconhecido como liga esportiva - ajudou que o wrestling alcançasse essa primazia.

- A regra do MMA se baseia no evento. No Pride, o wrestling não era tão importante, o que ditava a regra era o jiu-jítsu, porque japonês quer ver lutador no chão. Já no Ultimate, prevalece o wrestling por causa da regra de que colocar para baixo é ponto. Então, para eles, o que mais importa é o wrestling e o boxe, inclusive os jurados das lutas vêm de uma linhagem desses dois esportes. Daqui a dez anos, quando o jiu-jítsu estiver popularizado nos Estados Unidos, os caras vão passar a julgar de uma forma diferente. Hoje o wrestling tem definido lutas, como a do Anderson (Silva) com o (Daniel) Cormier. Hoje as pessoas estão abraçando o wrestling porque é a base do principal evento de luta do mundo - argumenta.

De fato, o wrestling passou a ser essencial para a sobrevivência de quem quer lutar no exterior. Grande parte do sucesso de José Aldo no UFC nos últimos 10 anos foi pela aproximação da equipe Nova União com a CBW, com o treinador Daniel Pirata, que atua na academia e na seleção. Antoine trabalha com atletas da XGym, no Rio de Janeiro, e seu irmão Adrian também treinou grandes nomes da modalidade, como Demian Maia e Ronaldo Jacaré.
Henry Cejudo luta olímpica (Foto: Getty Images)Henry Cejudo (de vermelho) em ação em Pequim-2008, onde obteve o ouro na categoria estilo livre (Foto: Getty Images)


As grandes organizações notam o sucesso dos wrestlers, e investem nisso. O “pedigreé” olímpico torna o lutador ainda mais atraente para o público comprar ingressos e a transmissão dos eventos em pay per view, principal fonte de receita do UFC. Desde que os Gracie saíram de cena, a organização investiu em nomes como Mark Coleman, Dan Henderson e Randy Couture, que ou competiram em Olimpíadas, ou foram reservas na seleção dos EUA. Atualmente, o peso-mosca americano Henry Cejudo, ouro em Pequim 2008, a peso-galo americana Sara McMann, prata em Atenas 2004, o peso-médio cubano Yoel Romero, prata em Sydney 2000, e o peso-meio-pesado Daniel Cormier, quarto lugar em Atenas 2004, são os principais wrestlers em atividade no Ultimate.
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Segundo Jaoude, as organizações até enviam olheiros às competições, mas quem realmente observa e “caça talentos” são os managers de lutadores, que fazem a ponte com os eventos. Gama Filho conta que o UFC já tentou se aproximar da CBW, e que eventos nacionais estão começando a atentar para essa tendência. Na Rio 2016, pelo menos um atleta já chega de contrato assinado, antes mesmo de fazer sequer uma luta de MMA: o russo Bilyal Makhov, peso-pesado (até 125kg) do estilo livre, contratado pelo Ultimate no ano passado. Makhov é tricampeão mundial e medalhista de bronze olímpico. Há grande expectativa por seu desempenho no Rio, e o gigante de 2,00m de altura já prometeu que vai conquistar “primeiro o ouro, depois o cinturão do UFC”.
lutador Dan Henderson (Foto: Getty Images)Dan Henderson disputou os Jogos de Barcelona-92 e Atlanta-96 como wrestler (Foto: Getty Images)
Outros nomes que potencialmente podem pintar no MMA são Jordan Burroughs e Adeline Gray. Os dois são as maiores esperanças de medalha da seleção americana no Rio. Burroughs foi campeão na categoria até 74kg em Londres 2012, e se popularizou nas redes sociais através da conta @alliseeisgold (“tudo o que vejo é ouro”), criada por ele no Twitter antes mesmo de conquistar a medalha. Gray é tricampeã mundial na categoria até 75kg. Gama Filho alerta, contudo, que pode levar tempo para qualquer um deles aparecer num cage.

- É difícil apontar com 100% de certeza se determinado atleta realmente vai deixar o wrestling e se dedicar ao MMA. É sempre bom lembrar que é preciso dominar outras artes marciais, e a maioria dos atletas são versados única e exclusivamente no wrestling. Essa transição requer um tempo, e o MMA não é olímpico. O sonho olímpico ainda é mais forte para a maioria dos atletas, seja ele nacional ou internacional.

A disputa da luta olímpica começa neste domingo às 10h (horário de Brasília) na Arena Carioca 2, com a luta greco-romana nas categorias até 59kg e até 75kg. O Brasil será representado por cinco lutadores, quatro no estilo livre feminino (Joice Silva na 58kg, Laís Nunes na 63kg, Gilda Oliveira na 69kg e Aline Silva na 75kg) e um na greco (Eduard Soghomonyan na 130kg). Confira a agenda.
Tabela luta olímpica (Foto: GloboEsporte.com)

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