sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Competições costumam seguir no esporte mesmo diante da dor do luto

Apesar de mortes trágicas em acidentes ou diante até do terrorismo, disputas seguiram no futebol, na Fórmula 1 e até durante os Jogos Olímpicos de Munique

Por Rio de Janeiro
Aviões caem com times de futebol. Pilotos sofrem acidentes fatais na pista durante provas ou em treinos classificatórios. A Fórmula 1 tem exemplos emblemáticos. A morte pode chegar em alta velocidade, com pista molhada, tempestades e nevoeiros nos céus, problemas nas máquinas ou numa direção errada do vento. Até o terrorismo fez suas vítimas e banhou de sangue o ouro, a prata e o bronze em uma das Olimpíadas.
Por mais que o mundo fique perplexo, entre em choque, colapso mesmo, em meio aos escombros e perdas, as competições não param. Quase sempre continuam. Mas fica sempre aquela dúvida se no meio de tanta dor o melhor a ser feito é dar ou não sequência.
A tragédia no voo da Chapecoense para Medellín que matou 71 pessoas, entre elas 19 jogadores, dividiu opiniões quanto à disputa da última rodada do Campeonato Brasileiro. O clube ficou devastado, o Brasil, o mundo estão em choque. Um drama já vivido em outras ocasiões. E por mais que haja perplexidade, a vida segue. Clubes que sofreram na pele o drama da Chapecoense tiveram de voltar a campo pouco depois de enterrarem ídolos, atletas, funcionários.
Terrorista, Setembro Negro, Olipíadas Munique 1972 (Foto: Getty Images)Um dos terroristas do Setembro Negro: 11 mortos nos Jogos de Munique-1972 (Foto: Getty Images)
Massacre de Munique: "Jogos não podem parar"
Houve casos em que o luto por uma tragédia no meio de uma competição não durou 24 horas. Foi o caso do massacre nos Jogos de Munique, em 1972, quando um atentado de oito terroristas palestinos do Comando Setembro Negro terminou com a morte de 11 atletas da delegação de Israel. A invasão à Vila Olímpica do grupo encapuzado munido de metralhadoras e granadas ocorreu na segunda semana dos Jogos. Começou na madrugada em 5 de setembro. A negociação para libertação dos reféns - os palestinos queriam a soltura de 234 detentos pelo governo de Israel - arrastou-se em vão até 6 de setembro, com o fim trágico dos reféns e a morte também de cinco dos terroristas. 
O mundo ficou chocado. A delegação israelense abandonou os Jogos. Egito, Marrocos e Filipinas seguiram o caminho. O grande astro das Olimpíadas, o nadador americano Mark Spitz, judeu, ganhador de sete medalhas de ouro, recordista em todas as provas, foi retirado às pressas da Vila, por medidas de segurança. 
Funeral Ceremony In Munich Olympic Stadium 1972 (Foto: Getty )Cerimônia fúnebre no Estádio Olímpico de Munique homenageia vítimas do terrorismo palestino (Foto: Getty Images)

Houve cerimônia fúnebre no Estádio Olímpico com todas as bandeiras dos países a meio mastro em homenagem às vítimas com a presença de 80 mil pessoas, incluindo atletas, treinadores e chefes de delegação. Mas o luto durou pouco. Não demorou muito para Romênia e Hungria se enfrentaram no handebol. E dali em diante as competições seguiram até o fim. A decisão de reinício das Olimpíadas foi cercada de polêmica. Muitos atletas queriam a paralisação. 
Mas o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Avery Brundage, para espanto geral, acabou logo com as esperanças de cancelamento.
- Os Jogos devem continuar! - disse o dirigente, alvo de muitas críticas. Pouco depois, no comunicado oficial, endossou: "Para o bem da juventude, a ação de um punhado de terroristas, sem qualquer respeito à dignidade humana, não conseguirá destruir o ideal olímpico."
Desastres aéreos: Calcio e Premier League seguem
Torino e Manchester United, entre outros, tiveram de cumprir tabela nos campeonatos nacionais depois de verem suas equipes dizimadas em acidentes aéreos. O Toro italiano sagrou-se campeão, na verdade penta, mesmo jogando nas quatro rodadas finais com juvenis - os adversários, em respeito, também entraram com garotos da base. A volta a campo do Toro para golear o Genoa por 4 a 0 foi em 15 de maio de 1949, 11 dias após a tragédia de Superga, que matou o timaço até então tetracampeão italiano em 4 de maio. O clube italiano perdera 18 jogadores quando o voo que trazia a delegação após amistoso contra o Benfica, de Portugal, chocou-se em uma das torres da basílica. 
Bobby Charlton (Foto: AFP)Bobby Charlton sobreviveu ao acidente: três meses depois estava em campo (Foto: AFP)
Nove anos depois, a Premier League também não parou, apesar do desastre de Munique no qual oito jogadores do Manchester United morreram quando o avião que saíra de Belgrado, após escala na cidade alemã, tentava decolar para levar de volta a equipe no dia seguinte ao confronto contra o Estrela Vermelha, na antiga Iugoslávia, pela Liga dos Campeões da Europa. 
O acidente foi em 6 de fevereiro de 1958. Dezesseis dias depois, os Red Devils voltaram ao seu estádio, o Old Trafford, e ficaram no empate por 1 a 1 com o Nottingham Forest. Não foram campeões na temporada 1957-58. Terminaram em nono lugar.






Ratzenberger e Senna: circo da F-1 continua
Na Fórmula 1, o circo deve sempre continuar. Não importa se houve graves acidentes, com até mortes na pista. O caso mais emblemático, entre muitos, tanto em treinos classificatórios como no próprio Grande Prêmio, foi a tragédia com o tricampeão mundial Ayrton Senna. Naquele 1º de maio, na sétima volta do GP de Ímola, na Itália, o brasileiro morreu após perder o controle do seu Williams, que se chocou fortemente no muro de concreto na curva Tamburello. 
A morte foi transmitida para o mundo pela TV. Imediatamente após o acidente, a cabeça de Senna se mexeu levemente. Os telespectadores que acompanhavam o drama chegaram a pensar que o movimento fosse um bom sinal, mas na verdade o piloto havia sofrido sério dano cerebral. Os fiscais logo correram em direção ao local e aguardaram a chegada da equipe médica, que prestou os primeiros socorros. Senna foi conduzido de helicóptero para o Hospital Maggiore, de Bolonha. Horas depois foi declarado morto. Mas na verdade, o piloto de 34 anos já estava sem vida na pista.
Ayrton Senna, Brasil, batida (Foto: Getty )Atendido na pista após grave acidente, Ayrton Senna enlutou a Fórmula 1, que seguiu com o GP de Imola (Foto: Getty )

A corrida teve uma pequena pausa mas foi reiniciada e vencida pelo alemão Michael Schumacher diante de forte tristeza e emoção. Senna vivia o auge de sua carreira, mas já entrara tenso naquele GP devido à morte de um colega de profissão, o austríaco Roland Ratzenberger, no mesmo autódromo, na véspera da corrida, durante os treinos de classificação. 
O detalhe é que Ratzenberger também morrera na pista mas só teve óbito anunciado no hospital por um motivo: em caso de morte na pista, a corrida deve, por lei, ser cancelada. Por isso houve a prova em Ímola, que custou também a vida de Senna, enterrado no Brasil em funeral também transmitido pela TV sob comoção. 

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